O poema “The Oxen” (“Os Bois”), do poeta inglês Thomas Hardy, é uma
criação já hoje clássica para esta época do ano. A poesia, escrita em 1917,
revela, a um só tempo, o lado das tradições incorporadas ao imaginário do Natal
– quando um idoso reprisa a lenda de que os animais, à meia noite do dia 24
para 25 de dezembro, flexionam os joelhos a reverenciar o nascimento de Cristo –,
e a total descrença em tal narrativa nos tempos hodiernos.
Mas a voz poética não se satisfaz no ceticismo: ela vivencia a
potencialidade de que uma lenda tenha o seu lado real ou que seja capaz de
alimentar experiências proveitosas de sonhos, estes sim, conversíveis em algo
mais tangível. É como se o ceticismo padecesse de alguma dúvida sobre as suas
próprias convicções!
J.A.R. – H.C.
A Natividade
(Federico Barocci: 1535-1612)
The Oxen
Christmas Eve, and twelve of the clock.
“Now they are all on their knees”,
An elder said as we sat in a flock
By the embers in hearthside ease.
We pictured the meek mild creatures where
They dwelt in their strawy pen,
Nor did it occur to one of us there
To doubt they were kneeling then.
So fair a fancy few would weave
In these years! Yet, I feel,
If someone said on Christmas Eve,
“Come; see the oxen kneel
In the lonely barton by yonder coomb
Our childhood used to know”,
I should go with him in the gloom,
Hoping it might be so.
Os Bois
Véspera de Natal, e meia noite no relógio.
“Agora todos se põem
de joelhos”,
Disse um idoso quando
nos sentamos em grupo
Bem acomodados à
volta da lareira.
Imaginamos os mansos
e humildes animais
Alojados em seu
aprisco com leito de palhas,
E a ninguém ali
ocorreu duvidar
Que então estivessem mesmo ajoelhados.
Tão bela fantasia
poucos ousariam expressar
nestes anos! Ainda assim,
sinto que
se alguém dissesse na
véspera de Natal:
“Venham ver os bois
de joelhos
No solitário estábulo
além do vale
Que amiúde a nossa
infância conheceu”,
Partiria com ele na
escuridão,
Esperando que de fato
assim o fosse.
Referência:
HARDY, Thomas. The oxen. In: BLACK, Joseph Laurence et al. (eds.). The broadview anthology of british
literature: concise edition. Volume B: The Age of Romanticism; The
Victorian Era; The Twentieth Century and Beyond. 1. ed. Toronto (CA): Broadview
Press, 2007. p. 867.
Nenhum comentário:
Postar um comentário