A poetisa chilena Lucila M. P. S. Godoy Alcayaga, mais conhecida pelo
pseudônimo Gabriela Mistral, muito se expôs aos influxos religiosos,
especialmente cristãos, e mais extensivamente à teosofia, como forma de
açambarcar a experiência humana, quer pelo prisma da unidade entre todas as
criaturas, com o intuito de expressar o Eterno Universal, quer pelo enfoque das
reconhecidas virtudes teologais – a fé, a esperança e o amor.
Tal perspectiva se reflete em muitos de seus poemas, como “Jesus”,
objeto desta postagem. Neles também se percebe o carinho especial pelas
crianças. A coletividade de espíritos a configurar uma unidade divina que
prescinde de palavras, já que irmanada pelo coração, da qual um divino infante permite-se
participar, para brincar de ciranda com outras “crianças”, neste caso, de fato
ou de direito.
J.A.R. – H.C.
Gabriela Mistral
(1889-1957)
Chilena, é geralmente
considerada a maior poetisa de língua espanhola. Prêmio Nobel em 1945. Define-a
Pierre Darmangeat que a traduziu para o francês: “De modo algum atormentada
pela sensualidade, sua lira harmoniosa – onde vibra também uma corda de
inquietude e de amargura muito pessoais – encontra, num sentimento maternal
alargado em direção da contemplação cósmica, o cumprimento da finalidade do
amor” (HADDAD, 1960, p. 281).
Jesus
Haciendo la ronda
se nos fue la tarde.
El sol ha caído:
la montaña no arde.
Pero la ronda
seguirá,
aunque en el cielo el
sol no está.
Danzando, danzando,
la viviente fronda
no lo oyó venir
y entrar en la ronda.
Ha abierto el corro,
sin rumor,
y al centro está
hecho resplandor.
Callando va el canto,
callando de asombro.
Se oprimen las manos,
se oprimen temblando.
Y giramos a Su redor,
y sin romper el
resplandor…
Ya es silencio el
coro,
ya ninguno canta:
se oye el corazón
en vez de garganta.
¡Y mirando Su rostro
arder,
nos va a hallar el
amanecer!
Ronda Infantil
(Cândido Portinari: 1932)
Jesus
E fazendo a ronda
se nos foi a tarde.
O sol já morreu;
a montanha não arde.
Porém a ronda
continuará.
Que importa se no céu
o sol não está?
Dançando, dançando,
ninguém viu o segredo
de Jesus que chegava
para entrar no
brinquedo.
Entrou na roda, sem
rumor
E o centro está feito
resplendor.
O canto calou-se,
calou-se de assombro.
Oprimem-se, as mãos,
Oprimem-se, tremendo.
E giramos em seu
redor,
E sem romper o
resplendor.
Já se calou o coro,
Agora ninguém canta.
Ouve-se o coração
em vez da garganta.
E vendo o seu rosto
arder
nos vai encontrar o
amanhecer.
Referências:
MISTRAL, Gabriela. Jesus. In: HADDAD,
Jamil Almansur (seleção, tradução e notas). Noite santa: antologia de poemas de Natal. São Paulo: Autores
Reunidos, 1960. p. 283.
MISTRAL, Gabriela. Jesus. In:
__________. Gabriela Mistral para niños.
Edición de Aurora Díaz Plaja. Ilustraciones de Arantxa Martínez. 1. ed. Madrid
(ES): Ediciones de La Torre, 1994. p. 46-47. (Colección Alba y Mayo. Serie
Poesía; n. 35)
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