Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 21 de dezembro de 2014

Manuel Bandeira – Natal sem Sinos

Manuel Bandeira, tanto quantos outros adultos que têm boas lembranças da infância, como eu ou você, rememora os seus antigos natais, nos quais se escutavam os sinos dos campanários das igrejas de uma forma não exatamente como o fazem os nossos ouvidos de hoje, já maduros mas entediados, senão com o espírito do inusitado, da novidade, ou melhor, com o sentido da descoberta a que tanto as crianças se expõem.

Afinal, a lírica do poeta evidencia que não há silêncio no noturno pátio em que se encontra, mas o bimbalhar de sinos. Contudo, não os sinos de sua infância, porém outros sinos. Daí porque a eles se refere como “os sinos [de hoje] do meu Natal sem sinos [de ontem]”.

Além disso, aparentemente, Bandeira associa o ressoar dos sinos com o eco memorial do alvoroço das crianças: a passagem “Ah meninos sinos / De quando eu menino!” teria, sob tal enfoque, símile em “Ah meninos estrepitosos / Da minha época de criança”. E é aos meninos de hoje que o poeta se dirige, para que, com esse espírito estrepitoso, sejam capazes de evocar os sinos fixados em sua memória: “Bimbalhai meninos / Pelos sinos (sinos que não ouço)”.

J.A.R. – H.C.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Natal sem Sinos

No pátio a noite é sem silêncio.
E que é a noite sem o silêncio?
A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinos
Do meu Natal sem sinos?

Ah meninos sinos
De quando eu menino!

Sinos da Boa Vista e de Santo Antônio.
Sinos do Poço, do Monteiro e da Igrejinha de Boa Viagem.

Outros sinos
Sinos
Quantos sinos

No noturno pátio
Sem silêncio, ó sinos
De quando eu menino,
Bimbalhai meninos,
Pelos sinos (sinos
Que não ouço), os sinos de
Santa Luzia.

(Rio de Janeiro, 1952)

Bells of San Xavier
(Lillian W. Smith: 1920)

Referência:

BANDEIRA, Manuel. Natal sem sinos. In: __________. Antologia poética. 6. ed. Rio de Janeiro: Sabiá, 1961. p. 164-165.

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