Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Giovanni Pascoli - As Gaitas de Foles

Tendo por argamassa o sedimento recolhido aos sofridos e, ao mesmo tempo, felizes momentos de sua infância, Giovanni Pascoli, reconhecido poeta italiano, arquiteta um lírico e sensível poema sobre as gaitas de foles, que em sua memória, ficaram associadas à proximidade das festas natalinas.

A poesia de Pascoli navega por sentimentos nostálgicos, nos quais se relaciona o pranto dos dias presentes à catarse mental daquelas lágrimas de criança, lágrimas por ele adjetivadas como boas, num momento inicial da jornada da vida, em que ainda se desconhecem as vicissitudes daquilo que chamamos ‘realidade’ ou ‘verdade’.

J.A.R. – H.C. 
Giovanni Pascoli
(1855-1912)

Le Ciaramelle

Udii tra il sonno le ciaramelle,
ho udito un suono di ninne nanne.
Ci sono in cielo tutte le stelle,
ci sono i lumi nelle capanne.

Sono venute dai monti oscuri
le ciaramelle senza dir niente;
hanno destata ne’ suoi tuguri
tutta la buona povera gente.

Ognuno è sorto dal suo giaciglio;
accende il lume sotto la trave;
sanno quei lumi d’ombra e sbadiglio,
di cauti passi, di voce grave.

Le pie luceme brillano intorno,
là nella casa, qua su la siepe:
sembra la terra, prima di giomo,
un piccoletto grande presepe.

Nel cielo azzurro tutte le stelle
paion restare come in attesa;
ed ecco alzare le ciaramelle
il loro dolce suono di chiesa;

suono di chiesa, suono di chiostro,
suono di casa, suono di culla,
suono di mamma, suono dei nostro
dolce e passato pianger di nulla.

O ciaramelle degli anni primi,
d’avanti il giorno, d’avanti il vero,
or che le stelle son là sublimi,
conscie dei nostro breve mistero;

che non ancora si pensa ai pane,
che non ancora sfaccende il fuoco;
prima dei grido delle campane
fateci dunque piangere un poço.

Non piú di nulla, si di qualcosa,
di tante cose! Ma il cuor lo vuole,
quel pianto grande che poi riposa,
quel gran dolore che poi non duole;

sopra le nuove pene sue vere
vuol quei singulti senza ragione:
sul suo martòro, sul suo piacere,
vuol quelle antiche lagrime buone!

(Da: Canti di Castelvecchio)


As Gaitas de Foles

Ouvi em meio ao sono as gaitas de foles,
Escutei um som de canções de ninar.
Lá no céu estão todas as estrelas,
e por aqui há luzes nas cabanas.

Estão vindo das montanhas escuras
as gaitas de foles, ainda silentes;
e têm despertado em seus casebres
toda a gente boa e pobre.

Cada qual é levantado de seu leito;
acende o lampião sob o barrote;
todos conhecem esses clarões de sombra e bocejo,
de cautelosos passos, de voz grave.

As piedosas lâmpadas brilham à volta,
na casa acolá, aqui sobre a sebe:
a terra se assemelha, antes do dia,
a um pequenino grande presépio.

No céu azul todas as estrelas
parecem manter-se à espera;
e aqui elevam as gaitas de foles
o seu doce som de igreja;

som de igreja, som de claustro,
som de casa, som de berço,
som de mãe, som de nosso
suave e transato choro por nada.

Ó gaitas de foles dos anos primeiros,
à frente da jornada, à frente da realidade,
agora que as estrelas estão lá sublimes,
conscientes de nosso breve mistério;

que ainda não se pensa no pão,
que ainda não se acendeu o fogo;
antes do clamor dos sinos
deixai-nos, pois, chorar um pouco.

Não mais por nada, mas sim por alguma coisa,
por tantas coisas! Mas o coração ainda anseia,
por aquele grande pranto que depois acalma,
por aquela grande dor que depois arrefece;

Findo o seu novo e verdadeiro pesar
almeja ainda aqueles soluços sem razão:
em sua aflição, em seu prazer,
suspira por aquelas antigas e boas lágrimas!

(De: Cantos do Castelo Velho)

Referência:

PASCOLI, Giovanni. Le ciaramelle. In: __________. Pianto di stelle: messaggi in poesia. 4. ristampa. Firenze (IT): Giunti Gruppo Editoriale, 2005. p. 30-31.

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