Com um padrão de escrita ao modo shakespeariano, o poema que hoje
trazemos, para fazer eco ao inverno pelo qual passa a banda hemisférica norte do
planeta, vem exatamente da terra do bardo, escrito que foi pelo compositor e
poeta Thomas Campion, seu contemporâneo.
Como nele se afirma, há algum ponto de vista defensivo quando alguém se
põe a falar a cântaros. Contudo, desde que o discurso não seja fraseologia
abstrusa, mas construção oral por meio de palavras capazes de enlear com divina
harmonia, a beleza pouco se importará se a fala persistir descomedidamente.
O poema, constante na coletânea de contos e poesias natalinas recolhidos
às literaturas de todo o mundo (‘vide’ referência), como muitos outros em obras do gênero, não
tem um fundo nitidamente natalino: apenas há o marco temporal da estação do
inverno, como denominador comum entre os proveitos em jogo.
J.A.R. – H.C.
Thomas Campion
(1567-1620)
(Retrato de Autoria
Não Identificada)
Winter’s
Delights
Now winter nights enlarge
The number of their hours,
And clouds their storms discharge
Upon the airy towers.
Let now the chimneys blaze,
And cups o’erflow with wine;
Let well-tuned words amaze
With harmony divine.
Now yellow waxen lights
Shall wait on honey love,
While youthful revels, masques, and courtly sights
Sleep’s leaden spells remove.
The time doth well dispense
With lovers’ long discourse;
Much speech hath some defence,
Though beauty no remorse.
All do not all things well:
Some, measures comely tread,
Some, knotted riddles tell,
Some, poems smoothly read.
The summer hath his joys,
And winter his delights;
Though love and all his pleasures are but toys,
They shorten tedious nights.
Delícias de Inverno
As noites de inverno
agora expandem
O número de suas
horas,
E as nuvens
precipitam suas tormentas
Sobre aventadas
torres.
Deixemos então que as
chamas ardam nas lareiras,
E as taças
transbordem com vinho;
Permitamos que
palavras bem afinadas extasiem
Com sua divina
harmonia.
Luzes amarelas de
velas
Agora se demoram
sobre o amor mais melífluo,
Enquanto folguedos,
máscaras e galantes cortes
Obstam o feitiço do
sono pesado.
O tempo subitamente
se esvai
Com o longo discurso
dos amantes;
Alguma defesa se
abriga em fala imoderada,
Ainda que a beleza
disso não se lamente.
Nem todos fazem as
coisas muito bem:
Alguns, medem
cuidadosamente os passos,
Outros, intricados
enigmas propõem,
Outros ainda, recitam
poemas pausadamente.
O verão tem suas
alegrias,
E o inverno suas
delícias;
Embora o amor e todos
os seus prazeres sejam apenas jogos,
Eles abreviam as
noites tediosas.
Referência:
CAMPION, Thomas. Winter’s delights. In: MORRIS, Harrison S. (Ed.). In the yule-log glow, Book 3; Christmas poems
from ’round the world. Philadelphia (PE): J. B. Lippincott & Co., 1900.
p. 78.
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