Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 14 de dezembro de 2014

Thomas Campion - Delícias de Inverno

Com um padrão de escrita ao modo shakespeariano, o poema que hoje trazemos, para fazer eco ao inverno pelo qual passa a banda hemisférica norte do planeta, vem exatamente da terra do bardo, escrito que foi pelo compositor e poeta Thomas Campion, seu contemporâneo.

Como nele se afirma, há algum ponto de vista defensivo quando alguém se põe a falar a cântaros. Contudo, desde que o discurso não seja fraseologia abstrusa, mas construção oral por meio de palavras capazes de enlear com divina harmonia, a beleza pouco se importará se a fala persistir descomedidamente.

O poema, constante na coletânea de contos e poesias natalinas recolhidos às literaturas de todo o mundo (‘vide’ referência), como muitos outros em obras do gênero, não tem um fundo nitidamente natalino: apenas há o marco temporal da estação do inverno, como denominador comum entre os proveitos em jogo.

J.A.R. – H.C. 
Thomas Campion
(1567-1620)
(Retrato de Autoria
Não Identificada)

Winter’s Delights

Now winter nights enlarge
The number of their hours,
And clouds their storms discharge
Upon the airy towers.
Let now the chimneys blaze,
And cups o’erflow with wine;
Let well-tuned words amaze
With harmony divine.
Now yellow waxen lights
Shall wait on honey love,
While youthful revels, masques, and courtly sights
Sleep’s leaden spells remove.

The time doth well dispense
With lovers’ long discourse;
Much speech hath some defence,
Though beauty no remorse.
All do not all things well:
Some, measures comely tread,
Some, knotted riddles tell,
Some, poems smoothly read.
The summer hath his joys,
And winter his delights;
Though love and all his pleasures are but toys,
They shorten tedious nights.


Delícias de Inverno

As noites de inverno agora expandem
O número de suas horas,
E as nuvens precipitam suas tormentas
Sobre aventadas torres.
Deixemos então que as chamas ardam nas lareiras,
E as taças transbordem com vinho;
Permitamos que palavras bem afinadas extasiem
Com sua divina harmonia.
Luzes amarelas de velas
Agora se demoram sobre o amor mais melífluo,
Enquanto folguedos, máscaras e galantes cortes
Obstam o feitiço do sono pesado.

O tempo subitamente se esvai
Com o longo discurso dos amantes;
Alguma defesa se abriga em fala imoderada,
Ainda que a beleza disso não se lamente.
Nem todos fazem as coisas muito bem:
Alguns, medem cuidadosamente os passos,
Outros, intricados enigmas propõem,
Outros ainda, recitam poemas pausadamente.
O verão tem suas alegrias,
E o inverno suas delícias;
Embora o amor e todos os seus prazeres sejam apenas jogos,
Eles abreviam as noites tediosas.

Referência:

CAMPION, Thomas. Winter’s delights. In: MORRIS, Harrison S. (Ed.). In the yule-log glow, Book 3; Christmas poems from round the world. Philadelphia (PE): J. B. Lippincott & Co., 1900. p. 78.

Nenhum comentário:

Postar um comentário