Era para ser apenas mais uma mensagem de Natal a ser encaminhada para uma
pessoa intimamente conhecida pelo escritor. Mas ganhou a forma de um poema,
como os muitos que Quintana escreveu, para o prazer de seus cativos leitores. E
um bonito poema de Natal, hábil em tornar assente uma indelével visão – como
intenciona –, bem mais que uma ideia ou mensagem: a cena da Natividade e tudo
aquilo que ela representa para os cristãos.
Hoje, dia de Natal em 2014, envio um grande abraço a todas as pessoas de
bem, do mundo inteiro. Que o Eterno abrace a causa de tudo quanto, na dinâmica
humana, expresse a ação virtuosa, o belo e o verdadeiro! In saeculum saeculorum!
J.A.R. – H.C.
Mario Quintana
(Desenho de Xico
Stockinger)
Bilhete
Ora, como dizia o
festejado
arqui-sofista
Valerius:
“O Universo é uma
nódoa
na perfeição do
Não-Ser”...
Relembro isto ao
tentar mandar-te
– ante a pureza
intocada
desta página –
uma mensagem
de Natal. “Mas”
– diz-me a página, “essa
mensagem
foi mandada há muito
(pergunta
aos três Reis Magos
se não foi...)”
Ah! sim, eles tinham
a Estrela!
Mas onde é que ela
está?
A gente por aqui só
encontrou depois
estrelas pirotécnicas
estrelas-do-mar
estrelas de generais.
Melhor não falar e
– em vez de escrever
qualquer palavra que
macularia
uma pobre página,
ainda nuinha
como a verdade –
será bom apenas
desenhar
coisas
sem nenhum conceito
para atrapalhar...
Hoje,
dia de Natal,
eu desenharia pois
toscamente –
nesta página
a Virgem, o Menino, o
burrico...
– imagina
o bem que isso nos
faria aos dois...
Porque então,
eu não estaria
te mandando uma ideia
apenas...
Eu te mandaria uma
Visão!
Natividade
(Jean-Baptiste Marie
Pierre: 1714-1789)
Referência:
QUINTANA, Mario. Bilhete. In: __________.
Poesia completa: em um volume.
Organização, preparação do texto, prefácio e notas de Tania Franco Carvalhal.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p. 642-643. (Biblioteca Luso-Brasileira;
Série Brasileira)
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