Os poemas de Eliot sempre são uma aposta de cristais poéticos em estado
puro, numa redação inteligente, que compele o leitor a arregimentar as suas
forças intelectuais para auferir o melhor que a literatura é capaz de produzir.
Eliot parece gostar de taxionomias, pois tal como em “O Nome dos Gatos”, engendra
classificações com alguma prodigalidade: no âmbito do Natal, as formas de
encará-lo, segundo o poeta, seriam quatro, quais sejam, a social, a
indiferente, a comercial e a pueril – sendo que esta última, como observa, não
seria exatamente o modo de ver das crianças.
Mesmo o título do poema deve ser tomado metaforicamente, pois não diz
respeito ao cultivo de pinheiros em seu sentido denotativo, como no poema de Robert Frost, senão
ao fluir da vida, desde a natividade até o que ocorre lá pela casa do “octogésimo”
aniversário, momento em que submersos no medo, “o princípio nos lembrará do fim e a primeira vinda da segunda vinda”.
J.A.R. – H.C.
Thomas Stearns Eliot
(1888-1965)
The Cultivation
of Christmas Trees
There are several attitudes towards Christmas,
Some of which we may disregard:
The social, the torpid, the patently commercial,
The rowdy (the pubs being open till midnight),
And the childish – which is not that of the child
For whom the candle is a star, and the gilded angel
Spreading its wings at the summit of the tree
Is not only a decoration, but an angel.
The child wonders at the Christmas Tree:
Let him continue in the spirit of wonder
At the Feast as an event not accepted as a pretext;
So that the glittering rapture, the amazement
Of the first-remembered Christmas Tree,
So that the surprises, delight in new possessions
(Each one with its peculiar and exciting smell),
The expectation of the goose or turkey
And the expected awe on its appearance,
So that the reverence and the gaiety
May not be forgotten in later experience,
In the bored hâbituation, the fatigue, the tedium,
The awareness of death, the consciousness of
failure,
Or in the piety of the convert
Which may be tainted with a self-conceit
Displeasing to God and disrespectful to the
children
(And here I remember also with gratitude
St. Lucy, her carol, and her crown of fire):
So that before the end, the eightieth Christmas
(By ‘eightieth’ meaning whichever is the last)
The accumulated memories of annual emotion
May be concentrated into a great joy
Which shall be also a great fear, as on the
occasion
When fear carne upon every soul:
Because the begmning shall rernind us of the end
And the first coming of the second coming.
The Llttle Christmas Tree
(Richard L. Klingbeil:
2008)
O Cultivo das Árvores de Natal
Há diversas atitudes
de se encarar o Natal,
Algumas das quais
podemos desconsiderar:
A social, a
indiferente, a estritamente comercial,
A ruidosa (os bares
ficam abertos até meia-noite)
E a pueril – que não
é a da criança
Para quem a vela é
uma estrela, e o anjo dourado,
Cujas asas se
distendem no topo da árvore,
Não apenas um
enfeite, mas um anjo.
A criança se extasia
diante da Árvore de Natal:
Deixemo-la permanecer
no espírito de êxtase da Festa
Que é tanto um evento
inaceitável quanto um pretexto;
De modo que o
cintilante enlevo, o assombro
Causado pelas
primeiras lembranças de uma Árvore de Natal,
De modo que as
surpresas, o deleite com os novos bens
(Cada um deles com
seu peculiar e excitante odor),
A expectativa do ganso
ou do peru assado
E o pasmo previsto
diante de seu aspecto,
De modo que a
veneração e o júbilo
Não se percam na
experiência futura,
No hábito enfadonho,
na fadiga, no tédio,
Na consciência da
morte e do malogro,
Ou na piedade do
convertido
Que pode ser tentado
pela presunção
De ofender a Deus e
desrespeitar as crianças
(E aqui recordo
também com extrema gratidão
Santa Lúcia, seu
cântico de Natal e sua coroa de fogo):
De modo que antes do
fim, no octogésimo Natal
(Entenda-se por ‘octogésimo’ qualquer que seja o último),
As lembranças
acumuladas da emoção anual
Possam ser
cristalizadas numa grande alegria
Que será também um
grande medo, como naquele instante
Em que o medo se
apodera de cada alma:
Porque o princípio
nos lembrará do fim
E a primeira vinda da
segunda vinda.
Referência:
ELIOT, T. S. The Cultivation of
Christmas Trees / O
Cultivo das Árvores de Natal. In: __________. Poesia: Poemas de Ariel. Vol. I. Tradução, introdução e notas de Ivan
Junqueira. Edição bilíngue. São Paulo: Arx, 2004. p. 226-227.
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