Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

T. S. Eliot - O Cultivo das Árvores de Natal

Os poemas de Eliot sempre são uma aposta de cristais poéticos em estado puro, numa redação inteligente, que compele o leitor a arregimentar as suas forças intelectuais para auferir o melhor que a literatura é capaz de produzir.

Eliot parece gostar de taxionomias, pois tal como em “O Nome dos Gatos”, engendra classificações com alguma prodigalidade: no âmbito do Natal, as formas de encará-lo, segundo o poeta, seriam quatro, quais sejam, a social, a indiferente, a comercial e a pueril – sendo que esta última, como observa, não seria exatamente o modo de ver das crianças.

Mesmo o título do poema deve ser tomado metaforicamente, pois não diz respeito ao cultivo de pinheiros em seu sentido denotativo, como no poema de Robert Frost, senão ao fluir da vida, desde a natividade até o que ocorre lá pela casa do “octogésimo” aniversário, momento em que submersos no medo, “o princípio nos lembrará do fim e a primeira vinda da segunda vinda”.

J.A.R. – H.C. 
Thomas Stearns Eliot
(1888-1965)

The Cultivation of Christmas Trees

There are several attitudes towards Christmas,
Some of which we may disregard:
The social, the torpid, the patently commercial,
The rowdy (the pubs being open till midnight),
And the childish  which is not that of the child
For whom the candle is a star, and the gilded angel
Spreading its wings at the summit of the tree
Is not only a decoration, but an angel.
The child wonders at the Christmas Tree:
Let him continue in the spirit of wonder
At the Feast as an event not accepted as a pretext;
So that the glittering rapture, the amazement
Of the first-remembered Christmas Tree,
So that the surprises, delight in new possessions
(Each one with its peculiar and exciting smell),
The expectation of the goose or turkey
And the expected awe on its appearance,
So that the reverence and the gaiety
May not be forgotten in later experience,
In the bored hâbituation, the fatigue, the tedium,
The awareness of death, the consciousness of failure,
Or in the piety of the convert
Which may be tainted with a self-conceit
Displeasing to God and disrespectful to the children
(And here I remember also with gratitude
St. Lucy, her carol, and her crown of fire):
So that before the end, the eightieth Christmas
(By eightieth meaning whichever is the last)
The accumulated memories of annual emotion
May be concentrated into a great joy
Which shall be also a great fear, as on the occasion
When fear carne upon every soul:
Because the begmning shall rernind us of the end
And the first coming of the second coming.

The Llttle Christmas Tree
(Richard L. Klingbeil: 2008)

O Cultivo das Árvores de Natal

Há diversas atitudes de se encarar o Natal,
Algumas das quais podemos desconsiderar:
A social, a indiferente, a estritamente comercial,
A ruidosa (os bares ficam abertos até meia-noite)
E a pueril  que não é a da criança
Para quem a vela é uma estrela, e o anjo dourado,
Cujas asas se distendem no topo da árvore,
Não apenas um enfeite, mas um anjo.
A criança se extasia diante da Árvore de Natal:
Deixemo-la permanecer no espírito de êxtase da Festa
Que é tanto um evento inaceitável quanto um pretexto;
De modo que o cintilante enlevo, o assombro
Causado pelas primeiras lembranças de uma Árvore de Natal,
De modo que as surpresas, o deleite com os novos bens
(Cada um deles com seu peculiar e excitante odor),
A expectativa do ganso ou do peru assado
E o pasmo previsto diante de seu aspecto,
De modo que a veneração e o júbilo
Não se percam na experiência futura,
No hábito enfadonho, na fadiga, no tédio,
Na consciência da morte e do malogro,
Ou na piedade do convertido
Que pode ser tentado pela presunção
De ofender a Deus e desrespeitar as crianças
(E aqui recordo também com extrema gratidão
Santa Lúcia, seu cântico de Natal e sua coroa de fogo):
De modo que antes do fim, no octogésimo Natal
(Entenda-se por octogésimo qualquer que seja o último),
As lembranças acumuladas da emoção anual
Possam ser cristalizadas numa grande alegria
Que será também um grande medo, como naquele instante
Em que o medo se apodera de cada alma:
Porque o princípio nos lembrará do fim
E a primeira vinda da segunda vinda.

Referência:

ELIOT, T. S. The Cultivation of Christmas Trees / O Cultivo das Árvores de Natal. In: __________. Poesia: Poemas de Ariel. Vol. I. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Edição bilíngue. São Paulo: Arx, 2004. p. 226-227.

Nenhum comentário:

Postar um comentário