Um poema pungente! Um poeta com saúde frágil, quase sempre
enfermiço, mas que apesar disso viveu bastante – 82 anos –, o suficiente para externar
um segredo, que não exatamente aqueles refletidos pelas meras imagens que emanam de um espelho:
ali onde está um homem avançado em idade, que se mostra pesaroso, se mágico
fosse o mesmo espelho, teria capacidade de ver além, um menino que continua a esperar
pelas dádivas que a vida ainda for pródiga em lhe conceder!
J.A.R. – H.C.
Caricatura de Manuel Bandeira
(Autoria
Desconhecida)
Versos de Natal
Espelho, amigo
verdadeiro,
Tu refletes as minhas
rugas,
Os meus cabelos
brancos,
Os meus olhos míopes
e cansados.
Espelho, amigo
verdadeiro,
Mestre do realismo
exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o
fundo desse homem triste,
Descobririas o menino
que sustenta esse homem,
O menino que não quer
morrer,
Que não morrerá senão
comigo,
O menino que todos os
anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr
seus chinelinhos atrás da porta.
Christmas Morning
(Heidi Malott: 2012)
Referência:
BANDEIRA, Manuel. Versos de Natal. In:
__________. Antologia poética. 6.
ed. Rio de Janeiro: Sabiá, 1961. p.
118-119.
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