Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de dezembro de 2014

Robert Frost – Árvores de Natal

Numa mensagem de Natal publicada inicialmente em 1915, o norte-americano Robert Frost confronta as experiências de se viver no campo e na cidade, ao expor como as pessoas que moram nos centros urbanos ainda se encontram dependentes de coisas que partem do campo, como simples pinheiros que servem como árvores de Natal nas salas de estar de muitas residências citadinas.

 

O poema vai um pouco mais além: evidencia também como as coisas ficam à mercê do mercado, que a tudo dispõe pelo mecanismo de preços, levando ao ponto de, sob o mero enfoque do lucro, não se recusar um negócio, ainda que, eventualmente, tenhamos que prescindir de coisas que tanto prezamos.

 

Tal qual afirma Frost: “Todas as coisas, afinal, devem se submeter à prova do mercado”. Por isso, o próprio Natal, infelizmente, se tornou um grande negócio!

 

J.A.R. – H.C. 

 

Robert Frost

(1874-1963)

 

Christmas Trees

(A Christmas Circular Letter)

 

The city had withdrawn into itself

And left at last the country to the country;

When between whirls of snow not come to lie

And whirls of foliage not yet laid, there drove

A stranger to our yard, who looked the city,

Yet did in country fashion in that there

He sat and waited till he drew us out

A-buttoning coats to ask him who he was.

He proved to be the city come again

To look for something it had left behind

And could not do without and keep its Christmas.

He asked if I would sell my Christmas trees;

My woods − the young fir balsams like a place

Where houses all are churches and have spires.

I hadn’t thought of them as Christmas trees.

I doubt if I was tempted for a moment

To sell them off their feet to go in cars

And leave the slope behind the house all bare,

Where the sun shines now no warmer than the moon.

I’d hate to have them know it if I was.

Yet more I’d hate to hold my trees except

As others hold theirs or refuse for them,

Beyond the time of profitable growth,

The trial by market everything must come to.

I dallied so much with the thought of selling.

Then whether from mistaken courtesy

And fear of seeming short of speech, or whether

From hope of hearing good of what was mine,

I said, “There aren’t enough to be worth while”.

 

“I could soon tell how many they would cut,

You let me look them over”.

 

“You could look.

But don’t expect I’m going to let you have them”.

 

Pasture they spring in, some in clumps too close

That lop each other of boughs, but not a few

Quite solitary and having equal boughs

All round and round. The latter he nodded “Yes” to,

Or paused to say beneath some lovelier one,

With buyer’s moderation, “That would do”.

I thought so too, but wasn’t there to say so.

We climbed the pasture on the south, crossed over,

And came down on the north.

He said, “A thousand”.

 

“A thousand Christmas trees! − at what apiece?”

 

He felt some need of softening that to me:

“A thousand trees would come to thirty dollars”.

 

Then I was certain I had never meant

To let him have them. Never show surprise!

But thirty dollars seemed so small beside

The extent of pasture I should strip, three cents

(For that was all they figured out apiece),

Three cents so small beside the dollar friends

I should be writing to within the hour

Would pay in cities for good trees like those,

Regular vestry-trees whole Sunday Schools

Could hang enough on to pick off enough.

A thousand Christmas trees I didn’t know I had!

Worth three cents more to give away than sell,

As may be shown by a simple calculation.

Too bad I couldn’t lay one in a letter.

I can’t help wishing I could send you one,

In wishing you herewith a Merry Christmas.

 

(To Louis Mertim - 1920)

 

Plantação de Abetos Balsâmicos

 

Árvores de Natal

(Uma Carta Circular de Natal)

 

A cidade havia se retirado em si mesma

E deixado, por fim, o interior ao interior;

Quando, entre vórtices de neve não aplacados

E remoinhos de folhagens ainda não assentes, parou

O carro em nosso pátio um estranho, com aspecto citadino;

No entanto, à moda interiorana daquele lugar,

Sentou-se e esperou até que, abotoando os casacos,

Saímos a perguntar-lhe quem ele era.

Ele revelou ser da cidade e estar de volta novamente

Em busca de algo que havia deixado para trás

E não poderia ficar sem, para celebrar o seu Natal.

Perguntou-me se gostaria de vender minhas árvores de Natal;

Meu bosque – os jovens pinheiros [*] tais como um lugar

Onde todas as casas são igrejas e têm campanários.

Eu jamais havia pensado neles como árvores de Natal.

Tenho dúvidas se, por um momento, fiquei tentado

A arrancá-los de seus pés e vendê-los para serem transportados em carros,

Deixando a encosta atrás da casa toda desguarnecida,

Onde agora brilha um sol não mais ardente do que a lua.

Detestaria tê-los sabendo que eu o faria.

Detestaria ainda mais manter minhas árvores exceto

Como outros mantêm as suas ou recusam propostas por elas,

Além do tempo de crescimento rentável,

Todas as coisas, afinal, devem se submeter à prova do mercado.

A ideia de vendê-los fez-me hesitar por um longo tempo.

Então, fosse por equivocada cortesia

E o receio de parecer escasso de palavras, ou fosse

Por esperar ouvir elogio ao que era meu,

Disse-lhe: “São muito poucos para valer a pena”.

 

“Poderia lhe dizer quantos deles seriam cortados,

Se você me permitir olhar mais”.

 

“Você pode examinar.

Mas não espere que eu permita que você os resgate”.

 

Eles brotam num pasto, alguns em grupos tão próximos

Que chegam a truncar os galhos uns dos outros, embora não poucos

Sejam bem destacados e possuam ramos iguais

Em toda a volta. Ao último, acenou “Sim” com a cabeça,

Ou fez uma pausa para dizer baixinho algo mais gracioso,

Com moderação de comprador, “Este pode ir”.

Eu pensava do mesmo modo, mas não estava ali para dizer isso.

Nós subimos o pasto pelo sul, o percorremos,

E descemos ao norte.

Ele disse, “Mil”.

 

“Mil árvores de Natal! – a que preço cada uma?”

 

Sentiu alguma necessidade de me abrandar:

“Mil árvores sairiam por trinta dólares”.

 

Concluí que estava correto em nunca haver desejado

Repassá-las a ele. Jamais mostrei surpresa!

Mas trinta dólares pareciam tão pouco frente

À extensão do pasto que eu deveria desnudar, três centavos

(Por essa quantia sairia cada árvore),

Três centavos tão pequenos em comparação com o dólar que os amigos

A quem eu escreveria dentro de uma hora

Pagariam nas cidades por boas árvores como aquelas,

Habituais árvores de sacristia de todas as escolas dominicais

Poderiam nelas pendurar o suficiente para bastantes escolhas.

Não sabia que tinha mil árvores de Natal!

E doadas valem três centavos a mais do que vendidas,

Como pode ser demonstrado por meio de cálculos simples.

Pena que não tenha como incluir uma numa carta.

Não posso deixar de tencionar em lhe enviar uma,

Ao lhe desejar desse modo um Feliz Natal!

 

(Para Louis Mertim - 1920)

 

Nota:

 

[*] No original: “abetos balsâmicos”.

 

Referência:

 

FROST, Robert. Christmas trees. In: BOTTOMLEY, Gordon et al. An annual of new poetry: 1917. London (EN): Constable and Company Ltd., 1917. p. 63-65.

 

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