Numa mensagem de Natal publicada inicialmente em
1915, o norte-americano Robert Frost confronta as experiências de se viver no
campo e na cidade, ao expor como as pessoas que moram nos centros urbanos ainda
se encontram dependentes de coisas que partem do campo, como simples pinheiros
que servem como árvores de Natal nas salas de estar de muitas residências
citadinas.
O poema vai um pouco mais além: evidencia também
como as coisas ficam à mercê do mercado, que a tudo dispõe pelo mecanismo de
preços, levando ao ponto de, sob o mero enfoque do lucro, não se recusar um
negócio, ainda que, eventualmente, tenhamos que prescindir de coisas que tanto
prezamos.
Tal qual afirma Frost: “Todas as coisas, afinal,
devem se submeter à prova do mercado”. Por isso, o próprio Natal, infelizmente,
se tornou um grande negócio!
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
Christmas
Trees
(A
Christmas Circular Letter)
The
city had withdrawn into itself
And
left at last the country to the country;
When
between whirls of snow not come to lie
And
whirls of foliage not yet laid, there drove
A
stranger to our yard, who looked the city,
Yet
did in country fashion in that there
He
sat and waited till he drew us out
A-buttoning
coats to ask him who he was.
He
proved to be the city come again
To
look for something it had left behind
And
could not do without and keep its Christmas.
He
asked if I would sell my Christmas trees;
My
woods − the young fir balsams like a place
Where
houses all are churches and have spires.
I
hadn’t thought of them as Christmas trees.
I
doubt if I was tempted for a moment
To
sell them off their feet to go in cars
And
leave the slope behind the house all bare,
Where
the sun shines now no warmer than the moon.
I’d
hate to have them know it if I was.
Yet
more I’d hate to hold my trees except
As
others hold theirs or refuse for them,
Beyond
the time of profitable growth,
The
trial by market everything must come to.
I
dallied so much with the thought of selling.
Then whether from mistaken courtesy
And
fear of seeming short of speech, or whether
From
hope of hearing good of what was mine,
I
said, “There aren’t enough to be worth while”.
“I
could soon tell how many they would cut,
You
let me look them over”.
“You
could look.
But
don’t expect I’m going to let you have them”.
Pasture
they spring in, some in clumps too close
That
lop each other of boughs, but not a few
Quite
solitary and having equal boughs
All
round and round. The latter he nodded “Yes” to,
Or
paused to say beneath some lovelier one,
With
buyer’s moderation, “That would do”.
I
thought so too, but wasn’t there to say so.
We
climbed the pasture on the south, crossed over,
And
came down on the north.
He
said, “A thousand”.
“A
thousand Christmas trees! − at what apiece?”
He
felt some need of softening that to me:
“A
thousand trees would come to thirty dollars”.
Then
I was certain I had never meant
To
let him have them. Never show surprise!
But
thirty dollars seemed so small beside
The
extent of pasture I should strip, three cents
(For
that was all they figured out apiece),
Three
cents so small beside the dollar friends
I
should be writing to within the hour
Would
pay in cities for good trees like those,
Regular
vestry-trees whole Sunday Schools
Could
hang enough on to pick off enough.
A
thousand Christmas trees I didn’t know I had!
Worth
three cents more to give away than sell,
As
may be shown by a simple calculation.
Too
bad I couldn’t lay one in a letter.
I
can’t help wishing I could send you one,
In
wishing you herewith a Merry Christmas.
(To
Louis Mertim - 1920)
Plantação de Abetos
Balsâmicos
Árvores de Natal
(Uma Carta Circular de Natal)
A cidade havia se retirado em si mesma
E deixado, por fim, o interior ao interior;
Quando, entre vórtices de neve não aplacados
E remoinhos de folhagens ainda não assentes,
parou
O carro em nosso pátio um estranho, com aspecto
citadino;
No entanto, à moda interiorana daquele lugar,
Sentou-se e esperou até que, abotoando os
casacos,
Saímos a perguntar-lhe quem ele era.
Ele revelou ser da cidade e estar de volta
novamente
Em busca de algo que havia deixado para trás
E não poderia ficar sem, para celebrar o seu
Natal.
Perguntou-me se gostaria de vender minhas
árvores de Natal;
Meu bosque – os jovens pinheiros [*] tais como
um lugar
Onde todas as casas são igrejas e têm
campanários.
Eu jamais havia pensado neles como árvores de
Natal.
Tenho dúvidas se, por um momento, fiquei tentado
A arrancá-los de seus pés e vendê-los para serem
transportados em carros,
Deixando a encosta atrás da casa toda
desguarnecida,
Onde agora brilha um sol não mais ardente do que
a lua.
Detestaria tê-los sabendo que eu o faria.
Detestaria ainda mais manter minhas árvores
exceto
Como outros mantêm as suas ou recusam propostas
por elas,
Além do tempo de crescimento rentável,
Todas as coisas, afinal, devem se submeter à
prova do mercado.
A ideia de vendê-los fez-me hesitar por um longo
tempo.
Então, fosse por equivocada cortesia
E o receio de parecer escasso de palavras, ou
fosse
Por esperar ouvir elogio ao que era meu,
Disse-lhe: “São muito poucos para valer a pena”.
“Poderia lhe dizer quantos deles seriam
cortados,
Se você me permitir olhar mais”.
“Você pode examinar.
Mas não espere que eu permita que você os
resgate”.
Eles brotam num pasto, alguns em grupos tão
próximos
Que chegam a truncar os galhos uns dos outros,
embora não poucos
Sejam bem destacados e possuam ramos iguais
Em toda a volta. Ao último, acenou “Sim” com a
cabeça,
Ou fez uma pausa para dizer baixinho algo mais gracioso,
Com moderação de comprador, “Este pode ir”.
Eu pensava do mesmo modo, mas não estava ali
para dizer isso.
Nós subimos o pasto pelo sul, o percorremos,
E descemos ao norte.
Ele disse, “Mil”.
“Mil árvores de Natal! – a que preço cada uma?”
Sentiu alguma necessidade de me abrandar:
“Mil árvores sairiam por trinta dólares”.
Concluí que estava correto em nunca haver
desejado
Repassá-las a ele. Jamais mostrei surpresa!
Mas trinta dólares pareciam tão pouco frente
À extensão do pasto que eu deveria desnudar,
três centavos
(Por essa quantia sairia cada árvore),
Três centavos tão pequenos em comparação com o
dólar que os amigos
A quem eu escreveria dentro de uma hora
Pagariam nas cidades por boas árvores como
aquelas,
Habituais árvores de sacristia de todas as
escolas dominicais
Poderiam nelas pendurar o suficiente para
bastantes escolhas.
Não sabia que tinha mil árvores de Natal!
E doadas valem três centavos a mais do que
vendidas,
Como pode ser demonstrado por meio de cálculos
simples.
Pena que não tenha como incluir uma numa carta.
Não posso deixar de tencionar em lhe enviar uma,
Ao lhe desejar desse modo um Feliz Natal!
(Para
Louis Mertim - 1920)
Nota:
[*] No original: “abetos balsâmicos”.
Referência:
FROST, Robert. Christmas trees. In: BOTTOMLEY,
Gordon et al. An annual of new poetry: 1917. London (EN): Constable
and Company Ltd., 1917. p. 63-65.
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