Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 16 de novembro de 2014

Satã (V): Karen Alkalay-Gut

Um Satã carente de amor, sitiado em seu mundo de solidão: é assim que a poetisa e professora Karen Alkalay-Gut, hoje vivendo em Israel, descreve o Demo com quem teve contato, numa das encruzilhadas da vida!

 

Coincidência ou não, o título de seu poema, “Sympathy for the Devil”, é o mesmo da conhecida letra da banda inglesa “Rolling Stones” (em tempo: Karen também nasceu na Inglaterra), em que Lúcifer se apresenta à sua pretendente, por meio de um rol de proezas para as quais teria contribuído, ao longo de toda a história da humanidade.

 

J.A.R. – H.C. 

 

Karen Alkalay-Gut

(n. 1945)

 

Sympathy for the Devil

 

Even you, Prince, are sometimes blind,

living so deep in darkness as you do –

sure that evil is easy as egotism,

that some one like me would savor

your sort of loneliness, relishing

those seductive days, nights in empty beds.

What can I say? Yours is such a masculine way –

and when we met that night at the crossroads

I walked a piece with you, watching the twisting

of your walking stick, wishing I could soothe

all the writhings in your world.  I thought

to cradle you, like an agonized disciple,

in my bountiful lap – didn’t even hear

all the offers you made of wisdom

in exchange for my soul.

Even when you flashed the contract,

secure in my signature, I wasn’t paying

attention, bedeviled by that pain

in your eyes, that need for something good –

dare I call it – love?

 

O Demônio como um Alfaiate

(Jerome Witkin: 1978-1979)

 

Simpatia pelo Demônio

 

Inclusive tu, Príncipe, por vezes ficas cego,

vivendo tão profundamente na escuridão –

convencido de que a maldade é fácil como o egoísmo,

e que alguém como eu apreciaria

teu tipo de exílio, a saborear

aqueles dias sedutores, noites em leitos vazios.

O que posso dizer? Teus modos são tão masculinos...

e quando nos encontramos naquela noite, na encruzilhada,

caminhei um pouco contigo, observando a torção

de teu cajado, desejosa de poder aplacar

todos os pesares do teu mundo. Pensei

em te ninar, como um agônico discípulo,

no meu colo generoso – nem sequer escutei

todas as tuas ofertas de sabedoria

em troca de minha alma.

Mesmo quando brandiste o contrato,

seguro de minha assinatura, não estava prestando

atenção, importunada pela dor

em teus olhos, carente de algo bom,

poderia chamá-lo de – amor?

 

Referência:

 

ALKALAY-GUT, Karen. Sympathy for the devil. In: Le poetesse di Kolibris – 2008-2013. Ferrara (IT): Kolibris Edizioni, 2013. p. 176. (Collana Chiara nº 25). Disponível neste endereço. Acesso em: 14 nov 2014.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário