Numa poesia que rejeita os sedimentos vitorianos presentes na poesia “letárgica”
de seu tempo, o norte-americano Ezra Pound faz exortações ao Eterno para que
sopre vida em seus pares, para que se tornem novos titãs capazes de revolver
tudo quanto se encontra em estado soporífero sobre a Terra. Belas imagens para
o intento de fazer a poesia se expressar de um modo mais consentâneo à forma
natural do discurso quotidiano!
J.A.R. – H.C.
Ezra Pound
(1885-1972)
Revolt Against
the Crepuscular Spirit of Modern Poetry
I would shake off the lethargy of this our time,
and give
For shadows – shapes of power
For dreams – men.
“It is better to dream than to do? ”
Aye! and, No!
Aye! if we dream great deeds, strong men,
Hearts hot, thoughts mighty.
No! if we dream pale flowers,
Slow-moving pageantry of hours that languidly
Drop as o’er-ripened fruit from sallow trees.
If so we live and die not life but dreams,
Great God, grant life in dreams,
Not dalliance, but life!
Let us be men that dream,
Not cowards, dabblers, waiters
For dead Time to reawaken and grant balm
For ills unnamed.
Great God, if we be damn’d to be not men but only
dreams,
Then let us be such dreams the world shall tremble
at
And know we be its rulers though but dreams!
Then let us be such shadows as the world shall
tremble at
And know we be its masters though but shadow!
High God, if men are grown but pale sick phantoms
That must live only in those mists and tempered
lights
And tremble for dim hours that knock o’er loud
Or tread too violent in passing them;
Great God, if these thy sons are grown such thin
ephemera,
I bid thee grapple chaos and beget
Some new titanic spawn to pile the hills and stir
This earth again.
The Wasteland
(Bernard Cohen)
Revolta Contra o Espírito Crepuscular
da Poesia Moderna
Gostaria de chacoalhar a letargia de nosso tempo, e dar
Por sombras – formas de poder.
Por sonhos – homens.
“É melhor sonhar do que realizar?”
Sim! e, Não!
Sim! Se sonhamos com grandes feitos, homens fortes,
Corações ardentes, pensamentos poderosos.
Não! Se sonhamos com pálidas flores,
Com o moroso e solene fluir das horas que languidamente
Caem como fruto maduro de árvores esquálidas.
Se assim vivemos e morremos não a vida, mas os sonhos,
Grande Deus, concedei vida nos sonhos,
Não folgança, mas vida.
Sejamos homens que sonham,
Não covardes, diletantes, aios
De um Tempo morto a redespertar e prover o lenitivo
Para males inominados.
Grande Deus, se estamos condenados a ser não homens, mas apenas sonhos,
Então deixai que sejamos como sonhos nos quais o mundo há de tremer
E saibamos ser seus soberanos ainda que não sejamos mais que sonhos!
Então deixai que sejamos como sombras sob as quais o mundo há de tremer
E saibamos ser seus mestres ainda que não sejamos mais que sombras!
Deus Celestial, se os homens estão maduros, mas como pálidos e enfermos fantasmas
Que hão de viver somente nessas névoas e tênues luzes
E tremem sob a tunda das horas sombrias
Ou avançam impetuosamente ao passar por elas;
Grande Deus, se esses vossos filhos são maduros como tênues entes efêmeros,
Recomendo-vos que enfrenteis o caos e que concebais
Alguma nova prole titânica capaz de empilhar as colinas e revolver
Esta Terra novamente.
Referência:
POUND, Ezra. Revolt against the crepuscular spirit of modern poetry. In:
__________. Provença. Poems selected
from personae, exultations and canzoniere of Ezra Pound. Cambridge (MA): Boston
Small, Maynard and Company Publishers. Cambridge University Press (USA), 1910. p.
28-30.
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