Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Boris Pasternak - Hamlet

Selecionei este belo poema do Nobel de 1958, o russo Boris Pasternak (1890-1960), para fazer as vezes de “postagem do dia”, ele que conquistou o aludido prêmio, por “suas realizações tanto no âmbito da poesia lírica contemporânea, quanto no campo da grande tradição épica russa”.

“Hamlet”, como se sabe, é um personagem inolvidável na dramaturgia de Shakespeare, e o seu “obstinado desígnio”, pautado pelo desejo tresloucado de vingar a morte infame do pai, já rendeu miríades de páginas de comentos, inclusive de um contemporâneo de Pasternak: o bielorruso Lev Vygotsky (1896-1934).

Vygotsky, bem mais conhecido por estas plagas por suas contribuições ao domínio da linguagem e da aprendizagem, escreveu uma das obras seminais sobre a peça de que se trata: “A Tragédia de Hamlet – Príncipe da Dinamarca”, já traduzida ao português, e lançada no mercado pátrio pela editora Martins Fontes.

E como falar de Hamlet é incorrer numa galáxia de metadiscursos que, quase certamente, não agregará valor à nebulosa de reflexões, pertinentes e impertinentes, que gira à volta da peça do bardo, preferimos ir mesmo direto ao poema que lhe dedicou o afamado russo, razão primeira pela qual criamos esta inserção.

J.A.R. – H.C.

Hamlet e Horácio no Cemitério
(Eugène Delacroix – 1859)


Гул затих. Я вышел на подмостки.
Прислонясь к дверному косяку,
Я ловлю в далеком отголоске,
Что случится на моем веку.

На меня наставлен сумрак ночи
Тысячью биноклей на оси.
Если только можно, Aвва Oтче,
Чашу эту мимо пронеси.

Я люблю Твой замысел упрямый
И играть согласен эту роль.
Но сейчас идет другая драма,
И на этот раз меня уволь.

Но продуман распорядок действий,
И неотвратим конец пути.
Я один, все тонет в фарисействе.
Жизнь прожитьне поле перейти.

Hamlet
(William Morris Hunt – 1864)

Hamlet

The murmurs ebb; onto the stage I enter.
I am trying, standing in the door,
To discover in the distant echoes
What the coming years may hold in store.

The nocturnal darkness with a thousand
Binoculars is focused onto me.
Take away this cup, O Abba, Father,
Everything is possible to thee.

I am fond of this thy stubborn project,
And to play my part I am content.
But another drama is in progress,
And, this once, O let me be exempt.

But the plan of action is determined,
And the end irrevocably sealed.
I am alone; all round me drowns in falsehood:
Life is not a walk across a field.

Master Betty (1791-1874) como Hamlet
(James Northcote – 1805)

Hamlet

O murmúrio reflui. Adentro o palco.
Apoiado no batente da porta,
Capto num eco distante,
O que há de acontecer em minha vida.

A noite escura lança sobre mim
milhares de binóculos à queima-roupa.
Se possível, Abba Pai,
Afasta de mim esse cálice.

Encanta-me esse teu obstinado desígnio
E aceito representar esse papel.
Porém agora um outro drama está em curso,
E desta vez rogo-te que me dispenses.

Contudo a sequência de atos já está fixada,
E o fim do caminho é inelutável.
Sozinho estou, tudo submerge em hipocrisia.
A vida é para viver – não como um passeio no campo.

Referência:

PASTERNAK, Boris. Hamlet. Translated into English by Lydia Pasternak Slater. In: __________. Poems. Classic Poetry Series. Publisher: PoemHunter.com. The World's Poetry Archive, 2012. Disponível neste endereço. Acesso em: 11 nov 2014. p. 52.

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