Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de novembro de 2014

José Hierro - Teoria

Vem da Espanha mais um poema a nos falar sobre a poesia e seus mistérios. E da pena do grande poeta madrileno José Hierro Real. Nossa versão, para melhor apuro da leitura em português, explicitou na última estrofe os elementos que, no original, foram objeto de elipse por seu autor. Mas nada que altere de modo substantivo o teor do que se expressa!

J.A.R. – H.C.

José Hierro
(1922-2002)

Teoría

Un instante vacío
de acción puede poblarse solamente
de nostalgia o de vino.
Hay quien lo llena de palabras vivas,
de poesía (acción
de espectros, vino con remordimiento).

Cuando la vida se detiene,
se escribe lo pasado o lo imposible
para que los demás vivan aquello
que ya vivió (o que no vivió) el poeta.
Él no puede dar vino,
nostalgia a los demás: sólo palabras.
Si les pudiese dar acción.

La poesía es como el viento,
o como el fuego, o como el mar.
Hace vibrar árboles, ropas,
abrasa espigas, hojas secas,
acuna en su oleaje los objetos
que duermen en la playa.
La poesía es como el viento,
o como el fuego, o como el mar:
da apariencia de vida
a lo inmóvil , a lo paralizado.
Y el leño que arde,
las conchas que las olas traen o llevan,
el papel que arrebata el viento,
destellan una vida momentánea
entre dos inmovilidades.

Pero los que están vivos,
los henchidos de acción,
los palpitantes de nostalgia o vino,
esos... felices, bienaventurados,
porque no necesitan las palabras,
como el caballo corre, aunque no sople el viento,
y vuela la gaviota, aunque esté seco el mar,
y el hombre llora, y canta,
proyecta y edifica, aun sin el fuego.

De: Antología. Por Aurora de Albornoz.

Calm Sea?
Michael Perchard

Teoria

Um instante vazio
de ação somente pode ser preenchido
por nostalgia ou vinho.
Há quem os preencha com palavras vivas,
de poesia (ação
de espectros, vinho com remorso).

Quando a vida se detém,
se escreve o passado ou o impossível
para que os demais vivam aquilo
que já viveu (ou o que não viveu) o poeta.
Ele não pode dar vinho,
nostalgia aos demais: somente palavras.
Se lhes pudesse dar ação.

A poesia é como o vento,
ou como o fogo, ou como o mar.
Faz vibrar árvores, roupas,
abrasa espigas, folhas secas,
acalanta em sua maresia os objetos
que dormem na praia.
A poesia é como o vento,
ou como o fogo, ou como o mar:
dá aparência de vida
ao imóvel, ao paralisado.
E o lenho que arde,
as conchas que as ondas trazem ou levam,
o papel que o vento arrebata,
difundem uma vida momentânea
entre duas imobilidades.

Porém os que estão vivos,
os plenos de ação,
os que palpitam por nostalgia e vinho,
esses... são felizes, bem-aventurados,
porque não necessitam de palavras,
como o cavalo que corre, ainda que o vento não sopre,
e a gaivota que voa, ainda que o mar esteja seco,
e o homem que chora, e canta,
projeta e edifica, mesmo sem o fogo.

De: Antologia. Por Aurora de Albornoz.

Referência:

HIERRO, José. Teoria. In: __________. Antología de la poesía cósmica de José Hierro y Nicolas del Hierro. Selección por Fredo Arias de la Canal. México, D.F. (MX): Frente de Afirmación Hispanista, A.C., 2004. p. 15-16.

Nenhum comentário:

Postar um comentário