Vem da Espanha mais um poema a nos falar sobre a poesia e seus
mistérios. E da pena do grande poeta madrileno José Hierro Real. Nossa versão,
para melhor apuro da leitura em português, explicitou na última estrofe os
elementos que, no original, foram objeto de elipse por seu autor. Mas nada que
altere de modo substantivo o teor do que se expressa!
J.A.R. – H.C.
José Hierro
(1922-2002)
Teoría
Un instante vacío
de acción puede
poblarse solamente
de nostalgia o de
vino.
Hay quien lo llena de
palabras vivas,
de poesía (acción
de espectros, vino
con remordimiento).
Cuando la vida se
detiene,
se escribe lo pasado
o lo imposible
para que los demás
vivan aquello
que ya vivió (o que
no vivió) el poeta.
Él no puede dar vino,
nostalgia a los
demás: sólo palabras.
Si les pudiese dar
acción.
La poesía es como el
viento,
o como el fuego, o
como el mar.
Hace vibrar árboles,
ropas,
abrasa espigas, hojas
secas,
acuna en su oleaje
los objetos
que duermen en la playa.
La poesía es como el
viento,
o como el fuego, o
como el mar:
da apariencia de vida
a lo inmóvil , a lo
paralizado.
Y el leño que arde,
las conchas que las
olas traen o llevan,
el papel que arrebata
el viento,
destellan una vida
momentánea
entre dos
inmovilidades.
Pero los que están
vivos,
los henchidos de
acción,
los palpitantes de
nostalgia o vino,
esos... felices,
bienaventurados,
porque no necesitan
las palabras,
como el caballo
corre, aunque no sople el viento,
y vuela la gaviota,
aunque esté seco el mar,
y el hombre llora, y canta,
proyecta y edifica,
aun sin el fuego.
De: Antología. Por Aurora de Albornoz.
Calm Sea?
Michael Perchard
Teoria
Um instante vazio
de ação somente pode
ser preenchido
por nostalgia ou
vinho.
Há quem os preencha com
palavras vivas,
de poesia (ação
de espectros, vinho
com remorso).
Quando a vida se
detém,
se escreve o passado
ou o impossível
para que os demais
vivam aquilo
que já viveu (ou o
que não viveu) o poeta.
Ele não pode dar
vinho,
nostalgia aos demais:
somente palavras.
Se lhes pudesse dar
ação.
A poesia é como o
vento,
ou como o fogo, ou
como o mar.
Faz vibrar árvores,
roupas,
abrasa espigas,
folhas secas,
acalanta em sua
maresia os objetos
que dormem na praia.
A poesia é como o
vento,
ou como o fogo, ou
como o mar:
dá aparência de vida
ao imóvel, ao
paralisado.
E o lenho que arde,
as conchas que as
ondas trazem ou levam,
o papel que o vento
arrebata,
difundem uma vida
momentânea
entre duas
imobilidades.
Porém os que estão
vivos,
os plenos de ação,
os que palpitam por
nostalgia e vinho,
esses... são felizes,
bem-aventurados,
porque não necessitam
de palavras,
como o cavalo que
corre, ainda que o vento não sopre,
e a gaivota que voa,
ainda que o mar esteja seco,
e o homem que chora,
e canta,
projeta e edifica,
mesmo sem o fogo.
De: Antologia. Por Aurora de Albornoz.
Referência:
HIERRO, José. Teoria. In: __________. Antología de la poesía cósmica de José
Hierro y Nicolas del Hierro. Selección por Fredo Arias de la Canal. México,
D.F. (MX): Frente de Afirmación Hispanista, A.C., 2004. p. 15-16.
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