Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de novembro de 2014

Rudyard Kipling – “Se és capaz de manter a tua calma”

Rudyard Kipling, Nobel de 1907, escritor do famoso conto “O homem que queria ser rei”, também foi autor de inúmeras poesias, sendo que uma delas, “If” (“Se”), tornou-se quase que sua marca pessoal.

Dedicado ao seu filho John, “If” sintetiza, digamos assim, um tipo ideal weberiano de homem: perseverança, racionalidade, responsabilidade, confiabilidade e paciência. Em suma: um virtuosismo muito na linha das prescrições dos estoicos.

J.A.R. – H.C. 
Rudyard Kipling
(1865-1936)

If

If you can keep your head when all about you
    Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
    But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
    Or being lied about, don’t deal in lies,
Or being hated, don’t give way to hating,
    And yet don’t look too good, nor talk too wise:

If you can dream − and not make dreams your master;
    If you can think − and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
    And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you’ve spoken
    Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
    And stoop and build ’em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
    And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
    And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
    To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
    Except the Will which says to them: “Hold on!”

If you can talk with crowds and keep your virtue,
    Or walk with Kings − nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
    If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
    With sixty seconds’ worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that’s in it,
    And − which is more − you’ll be a Man, my son!

Récita do poema “If”
pelo ator Harvey Keitel

Se
(Tradução atribuída a Guilherme de Almeida)

Se és capaz de manter a tua calma quando
    Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
    E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
    Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
    E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;
    De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
    Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
    Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
    E refazê-las com o bem pouco que te reste;
   
Se és capaz de arriscar numa única parada
    Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
    Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
    A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
    Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
    E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
    Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
    Ao mínimo fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
    E o que mais – tu serás um homem, ó meu filho!

Referência:

KIPLING, Rudyard. If. In: __________. 100 poems: old and new. Poem n. 77.  Selected and edited by Thomas Pinney. Cambridge (UK): Cambridge University Press, 2013. p. 137.

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