É de Gabriel Nascente, poeta goianiense, o poema-chave desta postagem.
Uma criança sozinha, ensimesmada no seu universo infantil, tece um diálogo – que
mais parece um monólogo-apelo – com Papai Noel, fazendo-lhe pedidos sérios –
como o fim da bomba –, mesclados com outros que, com naturalidade, qualquer
infante seria capaz de requisitar ao “Bom Velhinho”.
J.A.R. – H.C.
The Spirit of Christmas
Greg Olsen
Bilhete de Quem Ficou Sozinho
Numa Noite de Natal
Papai Noel,
o senhor me garante
que o coração da
humanidade
não ganhará o caminho
dos escombros?
Papai Noel, o mundo
agora festeja
um tumulto de
alegrias,
– um banquete de lágrimas
o mundo comemora.
Papai Noel
o senhor me promete
que nenhum anjo
ficará mendigo?
Que todas as ruas do
mundo
ganharão uma estrela?
– Então vê se destrói
a origem da bomba.
Quero sinos
para unir os homens.
Açucenas, muito
afeto,
para o sonho dos
meninos.
Que o medo, Papai
Noel,
naufraga o mundo.
– Sabe, Papai Noel,
eu tenho somente
a ânsia de dois olhos
e um corpo, como sombra.
Sou mais sozinho
que uma chinela sem
dono.
Só sei brincar
com a cachorra do
vizinho.
Então o senhor me dá
um boneco de pano,
uma caneta e uma
viola?
Dá mesmo! Vou ficar
grande
de alegria.
Vou brincar de roda
com a humanidade.
São Paulo, 7/12/71.
Gabriel Nascente
(n. 1950)
Referência:
NASCENTE, Gabriel.
Bilhete de quem ficou sozinho numa noite de Natal. In: __________. Colmeia de anônimos: poemas. São Paulo:
Martins, 1973. p. 83-84.
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