Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de novembro de 2014

József Attila - Welcome to Thomas Mann

Postamos aqui um poema de boas-vindas a Thomas Mann, escrito pelo poeta húngaro Attila József, quando o autor alemão esteve em Budapeste, para conferência no “Teatro Húngaro”, em 1937. Apesar de inicialmente censurado, pela explícita referência aos regimes fechados de “Estados monstruosos”, o poema logo após foi publicado na revista “Szép Szó” (“Belas Palavras”), da qual Attila foi um dos fundadores.

 

J.A.R. – H.C.

 

Attila József

(1905-1937)

 

Thomas Mann üdvözlése

[Original em Húngaro]

 

Mint gyermek, aki már pihenni vágyik

és el is jutott a nyugalmas ágyig

még megkérlel, hogy: “Ne menj el, mesélj” –

(igy nem szökik rá hirtelen az éj)

s mig kis szive nagyon szorongva dobban,

tán ő se tudja, mit is kiván jobban,

a mesét-e, vagy azt, hogy ott legyél:

igy kérünk: Ülj le közénk és mesélj.

Mondd el, mit szoktál, bár mi nem feledjük,

mesélj arról, hogy itt vagy velünk együtt

s együtt vagyunk veled mindannyian,

kinek emberhez méltó gondja van.

Te jól tudod, a költő sose lódit:

az igazat mondd, ne csak a valódit,

a fényt, amelytől világlik agyunk,

hisz egymás nélkül sötétben vagyunk.

Ahogy Hans Castorp madame Chauchat testén,

hadd lássunk át magunkon itt ez estén.

Párnás szavadon át nem üt a zaj –

mesélj arról, mi a szép, mi a baj,

emelvén szivünk a gyásztól a vágyig.

Most temettük el szegény Kosztolányit [*]

s az emberségen, mint rajta a rák,

nem egy szörny-állam iszonyata rág

s mi borzadozva kérdezzük, mi lesz még,

honnan uszulnak ránk uj ordas eszmék,

fő-e uj méreg, mely közénk hatol –

meddig lesz hely, hol fölolvashatol?...

Arról van szó, ha te szólsz, ne lohadjunk,

de mi férfiak férfiak maradjunk

és nők a nők – szabadok, kedvesek

− s mind ember, mert az egyre kevesebb...

Foglalj helyet. Kezdd el a mesét szépen.

Mi hallgatunk és lesz, aki csak éppen

néz téged, mert örül, hogy lát ma itt

fehérek közt egy európait.

 

Foto do Encontro

 

Welcome to Thomas Mann

[Versão para o Inglês de Vernon Watkins]

 

So we ask you: Sit down with us; make clear

What you are used to saying; the known relate,

That you are here among us, and our state

Is yours, and that we all are here with you,

All whose concerns are worthy of man’s due.

You know this well: the poet never lies,

The real is not enough, through its disguise

Tell us the truth which fills the mind with light

Because, without each other, all is night.

Through Madame Chauchatz’s body Hans Castorp sees,

So train us to be our own witnesses.

Gentle your voice, no discord in that tongue;

Then tell us what is noble, what is wrong,

Lifting our hearts from mourning to desire,

We have buried Kosztolányi [*]; cureless, dire,

The cancer on his mouth grew bitterly,

But growths more monstrous gnaw humanity.

Appalled we ask: More than what went before,

What horror has the future yet in store?

What ravening thoughts will seize us for their prey?

What poison, brewing now, eat us away?

And, if your lecture can put off that doom,

How long may you still count upon a room?

O, do not speak, and we can take heart then.

Being men by birthright, we must remain men,

And women, women, cherished for that reason.

All of us human, though such numbers lessen.

Sit down, please. Let your stirring tale be said.

We are listening to you, glad, like one in bed.

To see today, before that sudden night,

A European mid people barbarous, white.

 

Monumento a Attila Józset

(Budapeste - Hungria)

 

Boas-vindas a Thomas Mann

[Versão para o Português]

 

Como uma criança, já tomada pelo sono,

que ao chegar em seu leito tranquilo, ávida por descansar,

mesmo assim te pede: “não te vás ainda, conta-me uma história”;

(para que a noite, desse modo, transcorra menos vertiginosamente)

enquanto palpita inquieto o seu pequeno coração,

talvez sem saber o que de fato quer,

se a história ou alguém para acompanhá-la,

assim é que te pedimos: senta-te conosco.

Relata-nos tudo o que expuseste alguma vez, ainda que não o tenhamos

esquecido,

Dize-nos que estás aqui conosco

e que nós estamos contigo,

somos todos aqueles que se preocupam com a dignidade humana.

Bem sabes que o poeta jamais mente:

revela-nos a verdade, não somente a real,

luz que ilumina nossas mentes,

porque se não andamos juntos, nas trevas estamos.

Como Hans Castorp, capaz de ver através do corpo de madame Chauchat,

Permite-nos que alcancemos mais transparência de nós mesmos esta noite.

A tua suave palavra não se deixa vencer pelo ruído –

Fala-nos sobre o que é o belo, o que é o mal,

eleva os nossos corações da dor ao desejo.

Mal havíamos sepultado o pobre Kosztolányi [*],

e tal como o câncer a corroer o seu corpo,

passamos a ver a humanidade ser consumida por Estados monstruosos,

e nos perguntamos com horror: o que mais poderá acontecer,

de onde nos instigam essas novas ideias canibalescas,

onde se prepara o veneno que nos querem instilar,

e por quanto tempo ainda haverá um lugar onde possamos conversar?...

O fato é que, quando falas, não desanimamos,

homens que somos, homens seguimos sendo,

e as mulheres como mulheres – livres, amáveis 

e todos como seres humanos, dos quais sempre há alguma escassez...

Senta-te, por favor. E habilmente dá começo à história.

Estamos à tua escuta, e há mesmo aqueles

que felizes estão apenas por te ver hoje, aqui,

entre os brancos europeus.

 

Nota:

 

[*] Dezső Kosztolányi (1885-1936), ensaísta e poeta húngaro.

 

Referência:

 

JÓZSEF, Attila. Welcome to Thomas Mann. Translation hungarian-english by Vernon Watkins. In: KLEIN, George. Pietà: mitleid compassion agape. Translation swedish-english by Theodore and Ingrid Friedmann. Cambridge (MA): MIT Press, 1992. p. 90.

 

P.s.: O poema, no original em húngaro, foi extraído deste site, no qual constam também muitas outras poesias de Atttila. Já a versão em inglês, além de aparecer na referência anterior, encontra-se também disponível neste endereço da internet.

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