Postamos aqui um poema de boas-vindas a Thomas Mann, escrito pelo poeta húngaro Attila József, quando o autor alemão esteve em Budapeste, para conferência no “Teatro Húngaro”, em 1937. Apesar de inicialmente censurado, pela explícita referência aos regimes fechados de “Estados monstruosos”, o poema logo após foi publicado na revista “Szép Szó” (“Belas Palavras”), da qual Attila foi um dos fundadores.
J.A.R. – H.C.
Attila József
(1905-1937)
Thomas Mann üdvözlése
[Original em Húngaro]
Mint gyermek, aki már pihenni vágyik
és el is jutott a nyugalmas ágyig
még megkérlel,
hogy: “Ne menj el, mesélj” –
(igy nem szökik rá hirtelen az éj)
s mig kis szive
nagyon szorongva dobban,
tán ő se tudja, mit is kiván
jobban,
a mesét-e, vagy
azt, hogy ott legyél:
igy kérünk: Ülj
le közénk és mesélj.
Mondd el, mit
szoktál, bár mi nem feledjük,
mesélj arról,
hogy itt vagy velünk együtt
s együtt vagyunk
veled mindannyian,
kinek emberhez
méltó gondja van.
Te jól tudod, a költő sose lódit:
az igazat mondd,
ne csak a valódit,
a fényt, amelytől világlik agyunk,
hisz egymás
nélkül sötétben vagyunk.
Ahogy Hans
Castorp madame Chauchat testén,
hadd lássunk át
magunkon itt ez estén.
Párnás szavadon át nem üt a zaj –
mesélj arról, mi a szép, mi a baj,
emelvén szivünk a gyásztól a vágyig.
Most temettük el
szegény Kosztolányit [*]
s az emberségen,
mint rajta a rák,
nem egy szörny-állam iszonyata rág
s mi borzadozva kérdezzük, mi lesz még,
honnan uszulnak ránk uj ordas eszmék,
fő-e uj méreg, mely közénk hatol –
meddig lesz hely,
hol fölolvashatol?...
Arról van szó, ha te szólsz, ne lohadjunk,
de mi férfiak férfiak maradjunk
és nők a nők – szabadok, kedvesek
− s mind ember,
mert az egyre kevesebb...
Foglalj helyet.
Kezdd el a mesét szépen.
Mi hallgatunk és
lesz, aki csak éppen
néz téged, mert
örül, hogy lát ma itt
fehérek közt egy
európait.
Foto do Encontro
Welcome to Thomas Mann
[Versão para o Inglês de Vernon Watkins]
So we ask you:
Sit down with us; make clear
What you are used
to saying; the known relate,
That you are here
among us, and our state
Is yours, and
that we all are here with you,
All whose
concerns are worthy of man’s due.
You know this
well: the poet never lies,
The real is not
enough, through its disguise
Tell us the truth
which fills the mind with light
Because, without
each other, all is night.
Through Madame
Chauchatz’s body Hans Castorp sees,
So train us to be
our own witnesses.
Gentle your
voice, no discord in that tongue;
Then tell us what
is noble, what is wrong,
Lifting our
hearts from mourning to desire,
We have buried
Kosztolányi [*]; cureless, dire,
The cancer on his
mouth grew bitterly,
But growths more
monstrous gnaw humanity.
Appalled we ask:
More than what went before,
What horror has
the future yet in store?
What ravening
thoughts will seize us for their prey?
What poison,
brewing now, eat us away?
And, if your
lecture can put off that doom,
How long may you
still count upon a room?
O, do not speak,
and we can take heart then.
Being men by
birthright, we must remain men,
And women, women,
cherished for that reason.
All of us human,
though such numbers lessen.
Sit down, please.
Let your stirring tale be said.
We are listening
to you, glad, like one in bed.
To see today,
before that sudden night,
A European mid
people barbarous, white.
Monumento a Attila Józset
(Budapeste - Hungria)
Boas-vindas a Thomas Mann
[Versão para o Português]
Como uma criança, já tomada pelo sono,
que ao chegar em seu leito tranquilo,
ávida por descansar,
mesmo assim te pede: “não te vás ainda,
conta-me uma história”;
(para que a noite, desse modo, transcorra
menos vertiginosamente)
enquanto palpita inquieto o seu pequeno
coração,
talvez sem saber o que de fato quer,
se a história ou alguém para acompanhá-la,
assim é que te pedimos: senta-te conosco.
Relata-nos tudo o que expuseste alguma
vez, ainda que não o tenhamos
esquecido,
Dize-nos que estás aqui conosco
e que nós estamos contigo,
somos todos aqueles que se preocupam com
a dignidade humana.
Bem sabes que o poeta jamais mente:
revela-nos a verdade, não somente a real,
luz que ilumina nossas mentes,
porque se não andamos juntos, nas trevas
estamos.
Como Hans Castorp, capaz de ver através
do corpo de madame Chauchat,
Permite-nos que alcancemos mais
transparência de nós mesmos esta noite.
A tua suave palavra não se deixa vencer
pelo ruído –
Fala-nos sobre o que é o belo, o que é o
mal,
eleva os nossos corações da dor ao desejo.
Mal havíamos sepultado o pobre
Kosztolányi [*],
e tal como o câncer a corroer o seu corpo,
passamos a ver a humanidade ser consumida
por Estados monstruosos,
e nos perguntamos com horror: o que mais
poderá acontecer,
de onde nos instigam essas novas ideias
canibalescas,
onde se prepara o veneno que nos querem
instilar,
e por quanto tempo ainda haverá um lugar
onde possamos conversar?...
O fato é que, quando falas, não
desanimamos,
homens que somos, homens seguimos sendo,
e as mulheres como mulheres – livres,
amáveis
e todos como seres humanos, dos quais
sempre há alguma escassez...
Senta-te, por favor. E habilmente dá
começo à história.
Estamos à tua escuta, e há mesmo aqueles
que felizes estão apenas por te ver hoje,
aqui,
entre os brancos europeus.
Nota:
[*]
Dezső Kosztolányi (1885-1936), ensaísta e poeta húngaro.
Referência:
JÓZSEF, Attila. Welcome to Thomas Mann.
Translation hungarian-english by Vernon Watkins. In: KLEIN, George. Pietà: mitleid
compassion agape. Translation swedish-english by Theodore and Ingrid Friedmann.
Cambridge (MA): MIT Press, 1992. p. 90.
P.s.:
O poema, no original em húngaro, foi extraído deste
site, no qual constam também muitas outras poesias de Atttila. Já a
versão em inglês, além de aparecer na referência anterior, encontra-se também
disponível neste endereço da
internet.
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