Considerado por muitos como um dos cem melhores poemas americanos, “A
Flecha e a Canção” é um marco na obra do educador e poeta romântico Henry Wadsworth
Longfellow.
Ao ler o poema, percebem-se algumas possibilidades de interpretação, todas
válidas a meu ver. Afinal, flechas ao léu não lembrariam as setas de Cupido?!
Com efeito, os elementos díspares de uma flecha e de uma canção, que têm
respostas distintas por parte do destinatário – o primeiro a lhe oferecer
resistência e a ficar marcado por um ato “irrefletido”, cujos efeitos se protraíram
indeléveis no tempo (afinal, o autor encontrou a seta “intacta” muito depois, no tronco de um carvalho!), e o último, a abrigar de modo fraterno a
canção distribuída no ar –, denotam, com alguma clarividência, que propriedades
maleáveis e flexíveis podem ser capazes de melhores respostas nas interações de
ação e reação, do que o impacto dúctil de projéteis sem direção muito bem definida.
Essa é ou não uma boa metáfora?!
J.A.R. – H.C.
Henry Wadsworth Longfellow
(1807-1882)
The Arrow and the
Song
I shot an arrow into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For, so swiftly it flew, the sight
Could not follow it in its flight.
I breathed a song into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For who has sight so keen and strong,
That it can follow the flight of song?
Long, long afterward, in an oak
I found the arrow, still unbroke;
And the song, from beginning to end,
I found again in the heart of a friend.
O Arqueiro
(Payson Welch)
A Flecha e a
Canção
Disparei uma flecha ao ar,
Ela caiu à terra, não
sei onde;
Pois, pela sua
rapidez, a vista
não a pode seguir em
seu voo.
Lancei ao ar uma
canção,
Ela caiu à terra, não
sei onde;
Pois quem teria a
vista tão aguda e sã,
Capaz de seguir o voo
da canção?
Muito tempo depois,
num carvalho
Encontrei a flecha,
ainda intacta;
E a canção, do começo
ao fim,
Dei com ela no
coração de um amigo.
Referência:
LONGFELLOW, Henry Wadsworth. The arrow and the song. In: __________. Poems. Complete in two volumes. Volume
I. Boston (MA): Ticknor and Fields, 1862. p. 277.
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Há coisas que realmente permanecem para sempre. Algumas a gente guarda na memória, outras o coração se encarrega de "arquivar" e outras ainda ficam na alma...impossível de descolar. Por mais que vivamos, por mais que nossa história e a do outro se transformem elas passam a fazer parte da gente até não sabermos mais quando e porque incorporamos aquilo. Mas tanto pode ser uma canção como uma flecha.
ResponderExcluirPrezado(a):
ExcluirGrato pelo belo e consistente comentário sobre o poema! A vida é exatamente isso: os efeitos que provocamos nos outros, os impactos que os outros nos engendram. Quase que como um símile da terceira lei de Newton! (rs)
Um abraço,
João A. Rodrigues