Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Henry W. Longfellow - A Flecha e a Canção

Considerado por muitos como um dos cem melhores poemas americanos, “A Flecha e a Canção” é um marco na obra do educador e poeta romântico Henry Wadsworth Longfellow.

Ao ler o poema, percebem-se algumas possibilidades de interpretação, todas válidas a meu ver. Afinal, flechas ao léu não lembrariam as setas de Cupido?!

Com efeito, os elementos díspares de uma flecha e de uma canção, que têm respostas distintas por parte do destinatário – o primeiro a lhe oferecer resistência e a ficar marcado por um ato “irrefletido”, cujos efeitos se protraíram indeléveis no tempo (afinal, o autor encontrou a seta “intacta” muito depois, no tronco de um carvalho!), e o último, a abrigar de modo fraterno a canção distribuída no ar –, denotam, com alguma clarividência, que propriedades maleáveis e flexíveis podem ser capazes de melhores respostas nas interações de ação e reação, do que o impacto dúctil de projéteis sem direção muito bem definida.

Essa é ou não uma boa metáfora?!

J.A.R. – H.C. 
Henry Wadsworth Longfellow
(1807-1882)

The Arrow and the Song

I shot an arrow into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For, so swiftly it flew, the sight
Could not follow it in its flight.

I breathed a song into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For who has sight so keen and strong,
That it can follow the flight of song?

Long, long afterward, in an oak
I found the arrow, still unbroke;
And the song, from beginning to end,
I found again in the heart of a friend.

O Arqueiro
(Payson Welch)

A Flecha e a Canção

Disparei uma flecha ao ar,
Ela caiu à terra, não sei onde;
Pois, pela sua rapidez, a vista
não a pode seguir em seu voo.

Lancei ao ar uma canção,
Ela caiu à terra, não sei onde;
Pois quem teria a vista tão aguda e sã,
Capaz de seguir o voo da canção?

Muito tempo depois, num carvalho
Encontrei a flecha, ainda intacta;
E a canção, do começo ao fim,
Dei com ela no coração de um amigo.

Referência:

LONGFELLOW, Henry Wadsworth. The arrow and the song. In: __________. Poems. Complete in two volumes. Volume I. Boston (MA): Ticknor and Fields, 1862. p. 277.

2 comentários:

  1. Há coisas que realmente permanecem para sempre. Algumas a gente guarda na memória, outras o coração se encarrega de "arquivar" e outras ainda ficam na alma...impossível de descolar. Por mais que vivamos, por mais que nossa história e a do outro se transformem elas passam a fazer parte da gente até não sabermos mais quando e porque incorporamos aquilo. Mas tanto pode ser uma canção como uma flecha.

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    1. Prezado(a):
      Grato pelo belo e consistente comentário sobre o poema! A vida é exatamente isso: os efeitos que provocamos nos outros, os impactos que os outros nos engendram. Quase que como um símile da terceira lei de Newton! (rs)
      Um abraço,
      João A. Rodrigues

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