Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Cassiano Nunes - Envelhecer

Fazendo explícita alusão ao poeta parnasiano carioca Olavo Bilac (1865-1918), autor de um belo poema sobre o tema – “Velhas Árvores” –, já aqui postado, Nunes afirma aceitar o envelhecimento como parte de um fenômeno natural inexorável, incidente sobre todos e sobre tudo o quanto há sobre a terra, desde as árvores até mesmo as rochas milenárias.

 

Submetidos a esse ciclo que vai do nascimento à expiração, “vivemos o efêmero / sonhando um presente eterno”, aferrando-nos a manter a juventude a qualquer custo, lançando mão de cirurgias estéticas. Mas o poeta nos sugere que, em vez de resistirmos à passagem do tempo, o melhor seria aceitarmos o envelhecimento como parte intrínseca da vida, abraçando a beleza de cada etapa de nossa existência. Afinal: “Não há vergonha, fracasso, / infortúnio, / em envelhecer”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Cassiano Nunes

(1921-2007)

 

Envelhecer

 

Envelheci

como as árvores

envelhecem.

(Que saudades de ti, Olavo Bilac!)

Envelheci

como até a terra envelhece.

Como, talvez, as rochas envelheçam.

Embora isto leve séculos, milênios.

 

Envelheci

como as mulheres belas

envelhecem.

E vão depois,

agônicas,

tentar a recuperação da beleza

– magia do Pitanguy...

 

Envelhecemos todos

e isto faz parte da Natureza

como o sol, as estrelas, o mar...

Os pássaros, decerto, também envelhecem.

Vivemos o efêmero

sonhando um presente eterno.

Mas tapete movente,

imperceptível, silenciosamente,

vai nos levando...

 

Para onde?

Afinal, envelhecer é tão natural)

Não há vergonha, fracasso,

infortúnio,

em envelhecer.

 

Anciã de vermelho

(Richard McBee: artista norte-americano)

 

Referência:

 

NUNES, Cassiano. Envelhecer. In: EVANGELISTA, Maria de Jesus. Viagens em temas e verso de Cassiano Nunes. Tributo ao poeta, Brasília (DF), Biblioteca Nacional de Brasília, p. 79, ago. 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário