Fazendo explícita
alusão ao poeta parnasiano carioca Olavo Bilac (1865-1918), autor de um belo poema
sobre o tema – “Velhas Árvores” –, já aqui
postado, Nunes afirma aceitar o envelhecimento como parte de um fenômeno
natural inexorável, incidente sobre todos e sobre tudo o quanto há sobre a
terra, desde as árvores até mesmo as rochas milenárias.
Submetidos a esse ciclo
que vai do nascimento à expiração, “vivemos o efêmero / sonhando um presente
eterno”, aferrando-nos a manter a juventude a qualquer custo, lançando mão de
cirurgias estéticas. Mas o poeta nos sugere que, em vez de resistirmos à
passagem do tempo, o melhor seria aceitarmos o envelhecimento como parte
intrínseca da vida, abraçando a beleza de cada etapa de nossa existência. Afinal:
“Não há vergonha, fracasso, / infortúnio, / em envelhecer”.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Nunes
(1921-2007)
Envelhecer
Envelheci
como as árvores
envelhecem.
(Que saudades de ti,
Olavo Bilac!)
Envelheci
como até a terra
envelhece.
Como, talvez, as rochas
envelheçam.
Embora isto leve
séculos, milênios.
Envelheci
como as mulheres
belas
envelhecem.
E vão depois,
agônicas,
tentar a recuperação
da beleza
– magia do
Pitanguy...
Envelhecemos todos
e isto faz parte da
Natureza
como o sol, as estrelas,
o mar...
Os pássaros, decerto,
também envelhecem.
Vivemos o efêmero
sonhando um presente
eterno.
Mas tapete movente,
imperceptível,
silenciosamente,
vai nos levando...
Para onde?
Afinal, envelhecer é
tão natural)
Não há vergonha, fracasso,
infortúnio,
em envelhecer.
Anciã de vermelho
(Richard McBee: artista
norte-americano)
Referência:
NUNES, Cassiano.
Envelhecer. In: EVANGELISTA, Maria de Jesus. Viagens em temas e verso de
Cassiano Nunes. Tributo ao poeta, Brasília (DF), Biblioteca Nacional de
Brasília, p. 79, ago. 2008.
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