O poeta sérvio lança
mão de uma linguagem críptica e simbólica para nos fazer penetrar numa
atmosfera sombria, enigmática ao extremo, na qual prevalecem os sinais de pesadelo,
decadência e desesperança, alinhados, a bem dizer, à sensação de completo
olvido dos restos humanos que jazem no anonimato – prováveis vítimas de toda a
mentira que teima em ser cultivada nas interações humanas.
O “Bosque da
Maldição” – mais que um recinto bem demarcado na natureza, um espaço metafórico
permeado por fulgores crepusculares –, converte-se no refúgio último da
humanidade, testemunhando os seus sofrimentos e tragédias, os vestígios de sua
luta contínua para preservar a memória e a verdade acerca de um opressivo
passado.
J.A.R. – H.C.
Miodrag Pávlovitch
(1928-2014)
Шума Проклетства
Шума проклетства
застава сумрака
долазе судбине
на спавање
Збирке лешева
пливају под земљом
заборављена имена
клијају камењем
Изгубљени дани
развејана сунца
ко мртви облаци
даве се у реци
Векови разговарају телефоном
једино лаж
полаже право на повратак
Bosque ensombrecido
(Ivan Shishkin:
artista russo)
Bosque da Maldição
Bosque da maldição
estandarte do
crepúsculo
destino chegam
para repousar
Coleções de cadáveres
boiam sob a terra
nomes esquecidos
brotam com as pedras
Dias perdidos
sóis esparramados
feito nuvens mortas
afogam-se no rio
Os séculos conversam
por telefone
apenas a mentira
imagina ter direito
ao regresso
Referência:
PÁVLOVITCH, Miodrag. Шума проклетства. / Bosque da maldição. Tradução de Aleksandar Jovanović. In: __________. Bosque
da maldição. Seleção, introdução e tradução de Aleksandar Jovanović. Edição
bilíngue. Brasília, DF: Editora da UnB, 2003. Em sérvio: p. 66; em português:
p. 67. (Coleção “Poetas do Mundo”)
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