Numa toada
nostálgica, orientada pelo sentimento de perda da juventude e pelo tema da
renovação e do crescimento pessoal, a poetisa encara a maturidade como um
afastamento de si mesma e de tudo aquilo que, antes, lhe era caro e familiar:
nessa nova etapa da vida, urge adaptar-se às inexoráveis mudanças com sabedoria
e serenidade.
Sob tal contexto, estes
versos de Tzvietáieva alinham-se, topicamente falando, à já grande torrente de
poemas a este espaço carreados, em cujas lindes projetam-se luzes sobre a
fragilidade de nossas existências, ou numa perspectiva metafórica, sobre a
beleza que num momento desponta como um dia fulgurante de verão e que, tão
célere quanto se nos revela, dirige-se pungentemente para os tons crepusculares
do ocaso.
J.A.R. – H.C.
Marina Tzvietáieva
(1892-1941)
Уже богов – не те уже щедроты
Уже богов – не те уже щедроты
На берегах – не той уже реки.
В широкие закатные ворота
Венерины, летите, голубки!
Я ж на песках похолодевших лёжа,
В день отойду, в котором нет числа…
Как змей на старую взирает кожу –
Я молодость свою переросла.
17 октября 1921
(Из цикла “Хвала Афродите”)
A juventude perdida
(Deng Chengwen:
artista chinês)
Diante de um rio que
é já outro rio
Diante de um rio que
é já outro rio
Já os deuses doam
menos.
Do largo pórtico
sombrio,
Voem, pombas de Vênus!
Mas eu, aqui na areia
gélida,
Dia após dia me olho
sem saída,
Como serpente que
olha a velha pele, da
Juventude desvestida.
17 de outubro de 1921
(Do ciclo “Louvor de
Afrodite”)
Referências:
Em Russo
Цветаева, Марина Ивановна. Уже богов – не те уже щедроты. Disponível neste
endereço. Acesso em: 30 out. 2025.
Em Português
TZVIETÁIEVA, Marina. Diante
de um rio que é já outro rio. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS,
Augusto de (Seleção e Tradução). Poesia da recusa. São Paulo, SP:
Perspectiva, 2006. p. 152. (Coleção “Signos”; n. 42)
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