Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Marina Tzvietáieva - Diante de um rio que é já outro rio

Numa toada nostálgica, orientada pelo sentimento de perda da juventude e pelo tema da renovação e do crescimento pessoal, a poetisa encara a maturidade como um afastamento de si mesma e de tudo aquilo que, antes, lhe era caro e familiar: nessa nova etapa da vida, urge adaptar-se às inexoráveis mudanças com sabedoria e serenidade.

 

Sob tal contexto, estes versos de Tzvietáieva alinham-se, topicamente falando, à já grande torrente de poemas a este espaço carreados, em cujas lindes projetam-se luzes sobre a fragilidade de nossas existências, ou numa perspectiva metafórica, sobre a beleza que num momento desponta como um dia fulgurante de verão e que, tão célere quanto se nos revela, dirige-se pungentemente para os tons crepusculares do ocaso.

 

J.A.R. – H.C.

 

Marina Tzvietáieva

(1892-1941)

 

Уже богов не те уже щедроты

 

Уже богов не те уже щедроты

На берегах не той уже реки.

В широкие закатные ворота

Венерины, летите, голубки!

 

Я ж на песках похолодевших лёжа,

В день отойду, в котором нет числа

Как змей на старую взирает кожу

Я молодость свою переросла.

 

17 октября 1921

(Из циклаХвала Афродите”)

 

A juventude perdida

(Deng Chengwen: artista chinês)

 

Diante de um rio que é já outro rio

 

Diante de um rio que é já outro rio

Já os deuses doam menos.

Do largo pórtico sombrio,

Voem, pombas de Vênus!

 

Mas eu, aqui na areia gélida,

Dia após dia me olho sem saída,

Como serpente que olha a velha pele, da

Juventude desvestida.

 

17 de outubro de 1921

(Do ciclo “Louvor de Afrodite”)

 

Referências:

 

Em Russo

 

Цветаева, Марина Ивановна. Уже богов не те уже щедроты. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 out. 2025.

 

Em Português

 

TZVIETÁIEVA, Marina. Diante de um rio que é já outro rio. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Seleção e Tradução). Poesia da recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. p. 152. (Coleção “Signos”; n. 42)

Nenhum comentário:

Postar um comentário