Numa sintaxe concisa,
pontuada pela anáfora inicial que dá título ao poema, o sujeito lírico clama
por uma morte que seja autêntica e libertadora, uma possibilidade de escape
para bem longe das amarras e falsas promessas da existência, fora do alcance,
por conseguinte, das opressivas limitações que experimentamos neste labirinto
terrenal.
O falante reconhece a
impossibilidade dessa libertação pelas vias à disposição neste mundo,
notadamente quando, tal como Borges – a quem dedica o poema –, imerge em
ponderações à volta do tema do eterno retorno e da circularidade do tempo,
presente na imagem de se adormecer sempre no mesmo sítio, embora se desperte ordinariamente
em outro lugar, aludindo – quem sabe? – a uma daquelas realidades alternativas
ou lugares míticos a que tanto se ateve a imaginação do representante maior da
Literatura Argentina.
J.A.R. – H.C.
Roberto Juarroz
(1925-1995)
Novena poesía
vertical
5
Morir, pero lejos.
No aquí,
donde todo es una
aviesa
conspiración de la
vida,
hasta las otras muertes.
Morir lejos.
No aquí,
donde morir es ya una
traición,
más traición que en
otra parte.
Morir lejos.
No aquí,
donde la soledad
descansa a ratos
como si fuera un
animal tendido,
olvidando su espuela
de locura.
Morir lejos.
No aquí,
donde cada uno se
duerme
siempre en el mismo
sitio,
aunque despierte
siempre en otro.
Morir lejos.
No aquí.
Morir donde nadie nos
espere,
donde haya lugar para
morir.
(para Jorge Luis
Borges)
A morte de um poeta I
(Antonio Frasconi: artista
uruguaio-americano)
Nona poesia vertical
5
Morrer, mas longe.
Não aqui,
onde tudo é uma
sinistra
conspiração da vida,
mesmo as outras
mortes.
Morrer longe.
Não aqui,
onde morrer é já uma
traição,
mais traição do que
em outra parte.
Morrer longe.
Não aqui,
onde a solidão por
vezes repousa
como se fosse um
animal deitado,
esquecendo o seu impulso
de loucura.
Morrer longe.
Não aqui,
onde toda a gente
adormece
invariavelmente no
mesmo sítio,
ainda que sempre
acorde em outro.
Morrer longe.
Não aqui.
Morrer onde ninguém
esteja à nossa espera,
onde haja um lugar
para morrer.
(para Jorge Luis
Borges)
Referência:
JUARROZ, Roberto. Novena
poesía vertical: 5 - Morir, pero lejos. In: __________. Poesía vertical:
tomo I. 1. ed. Buenos Aires, AR: Emecé Editores, 2005. p. 464-465.
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