Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de novembro de 2025

Roberto Juarroz - Morrer, mas longe

Numa sintaxe concisa, pontuada pela anáfora inicial que dá título ao poema, o sujeito lírico clama por uma morte que seja autêntica e libertadora, uma possibilidade de escape para bem longe das amarras e falsas promessas da existência, fora do alcance, por conseguinte, das opressivas limitações que experimentamos neste labirinto terrenal.

 

O falante reconhece a impossibilidade dessa libertação pelas vias à disposição neste mundo, notadamente quando, tal como Borges – a quem dedica o poema –, imerge em ponderações à volta do tema do eterno retorno e da circularidade do tempo, presente na imagem de se adormecer sempre no mesmo sítio, embora se desperte ordinariamente em outro lugar, aludindo – quem sabe? – a uma daquelas realidades alternativas ou lugares míticos a que tanto se ateve a imaginação do representante maior da Literatura Argentina.

 

J.A.R. – H.C.

 

Roberto Juarroz

(1925-1995)

 

Novena poesía vertical

 

5

 

Morir, pero lejos.

No aquí,

donde todo es una aviesa

conspiración de la vida,

hasta las otras muertes.

 

Morir lejos.

No aquí,

donde morir es ya una traición,

más traición que en otra parte.

 

Morir lejos.

No aquí,

donde la soledad descansa a ratos

como si fuera un animal tendido,

olvidando su espuela de locura.

 

Morir lejos.

No aquí,

donde cada uno se duerme

siempre en el mismo sitio,

aunque despierte siempre en otro.

 

Morir lejos.

No aquí.

Morir donde nadie nos espere,

donde haya lugar para morir.

 

(para Jorge Luis Borges)

 

A morte de um poeta I

(Antonio Frasconi: artista uruguaio-americano)

 

Nona poesia vertical

 

5

 

Morrer, mas longe.

Não aqui,

onde tudo é uma sinistra

conspiração da vida,

mesmo as outras mortes.

 

Morrer longe.

Não aqui,

onde morrer é já uma traição,

mais traição do que em outra parte.

 

Morrer longe.

Não aqui,

onde a solidão por vezes repousa

como se fosse um animal deitado,

esquecendo o seu impulso de loucura.

 

Morrer longe.

Não aqui,

onde toda a gente adormece

invariavelmente no mesmo sítio,

ainda que sempre acorde em outro.

 

Morrer longe.

Não aqui.

Morrer onde ninguém esteja à nossa espera,

onde haja um lugar para morrer.

 

(para Jorge Luis Borges)

 

Referência:

 

JUARROZ, Roberto. Novena poesía vertical: 5 - Morir, pero lejos. In: __________. Poesía vertical: tomo I. 1. ed. Buenos Aires, AR: Emecé Editores, 2005. p. 464-465.

Nenhum comentário:

Postar um comentário