Este breve poema de
Hölderlin – decerto a sugerir o seu ceticismo em relação às formas de poder
emergentes, após a queda das monarquias tradicionais – reverbera com novos matizes nestes dias, como
se tivesse sido escrito sob a égide da praga mundial que se tornou a propagação
de “fake news” – sobretudo na prática quotidiana da extrema-direita –, em completo
desrespeito à nobreza das palavras, o lado oposto daquilo que se caracteriza
como a perda da virtude e da honra no discurso contemporâneo, agora com um
linguajar degenerado, covarde e falso.
Justiça e verdade são o duo cada vez mais distante de nossas sociedades hipócritas e corruptas, de seus pretensos líderes, pouco preocupados com valores éticos e morais, figuras deslegitimadas pela crise de autoridade por elas mesmas engendrada – deliberadamente ou não! E para um mundo já cansado de falsos heróis, só nos resta a esperança em um despertar da consciência coletiva, em um renovo do que se tem por sabedoria, para que se restaure a integridade no comportamento humano.
J.A.R. – H.C.
Friedrich Hölderlin
(1770-1843)
(Pastel de Franz Karl
Hiemer)
Vormals richtete Cott
Vormals richtete
Gott. Könige. Weise.
Wer richtet denn
jetzt?
Volk? die heilge
Gemeinde?
Nein! o nein! Wer
richtet denn jetzt?
Ein
Natterngeschlecht! feig und falsch!
(Das edlere Wort,
nicht mehr
über die Lippe.)
O, im Namen
ruf ich
dich herab,
al ter Dämon, wieder!
Oder sende
einen Helden
oder
die Weisheit.
A Justiça e a Vingança
Divina
na Punição do Delito
(Pierre-Paul Prud’hon:
pintor francês)
Outrora Deus julgava
Outrora Deus julgava.
Reis. Sábios.
Mas agora quem julga?
A comunidade santa? O
povo
Unido?
Não! oh não! Mas quem
agora julga?
Uma estirpe de víboras!
falsa e vil!
(A palavra nobre não
mais
sobre o lábio.)
Ó, por teu nome
de novo
invoco,
velho demônio!
Manda-nos
um herói
ou a
sabedoria.
Referência:
HÖLDERLIN, Friedrich.
Vormals richtete Cott / Outrora Deus julgava. Tradução de Augusto de Campos. In:
CAMPOS, Augusto de (Seleção, tradução e introdução). Irmãos germanos:
poemas de diversos autores. Florianópolis, SC: Noa Noa, 1992. Em alemão: p. 16;
em português: p. 17.
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