Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Yehuda Amichai - Amargo e abrupto

O poeta discorre sobre a dicotomia entre o amor e a perda, o prazer do tempo compartilhado com a amada – num embalo de intimidade quase dolente, embora pleno de êxtase – e a amargura do distanciamento, dando-nos conta, incontinenti, da insuficiência das palavras para preencher o vazio deixado por sua ausência, agora que tudo se convola em sentimentos nostálgicos.

 

De uma condição lenta e doce passa-se a um contexto “amargo e abrupto”, no curso do qual o falante percebe que a beleza do silêncio, existente apenas diante da presença do outro, torna-se pungente memória, pois que, estando longe o amor, a comunicação perde profundidade, não passando de um substituto insatisfatório.

 

J.A.R. – H.C.

 

Yehuda Amichai

(1924-2000)

 

Amargo e abrupto

 

Amargo e abrupto veio o fim,

mas lento e doce era o tempo entre nós,

lentas e doces eram as noites,

quando minhas mãos não se tocavam em desespero

mas com amor, o teu corpo, que separava as duas.

Quando eu entrava em ti, esta era a possibilidade única

da grande felicidade ser medida

com a exatidão de uma dor aguda. Amargo e abrupto.

 

Lentas e doces eram as noites,

amargo e rangente feito areia é o tempo de agora.

“Sejamos inteligentes”, e pragas semelhantes a isso.

 

Quanto mais nos distanciamos do amor,

mais precisamos conversar,

palavras, frases longas e arrumadas.

 

Se estivéssemos juntos,

poderíamos ficar em silêncio.

 

Amantes silenciosos

(Ekaterina Gromova: artista russa)

 

Referência:

 

AMICHAI, Yehuda. Amargo e abrupto. Tradução de Moacir Amâncio. In: __________. Terra e paz: antologia poética. Organização e tradução de Moacir Amâncio. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2018. p. 139.

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