Eis mais um dos
lúdicos poemas sobre a turma de “Gatos Práticos do Velho Gambá” (*), de Eliot, desta
feita a descrever um felino engenhoso e indetectável, mestre da criminalidade
que, com um ar de mistério e habilidade quase sobrenatural, põe-se a desafiar
tanto as leis humanas quanto as leis da Física, como a da gravidade.
A figura, apesar da sua
evidente culpabilidade em numerosos delitos, sempre consegue evadir-se antes de
ser capturado, o que o torna um meliante esquivo e desconcertante para as
autoridades: temos aqui um gato caracterizado como o “Napoleão do Crime”, um
vilão elegante e astuto que eleva a um status lendário a técnica do disfarce e
do escape sem deixar rastros.
J.A.R. – H.C.
T. S. Eliot
(1888-1965)
Macavity: the Mystery
Cat
Macavity’s a Mystery
Cat: he’s called the Hidden Paw –
For he’s the master
criminal who can defy the Law.
He’s the bafflement
of Scotland Yard, the Flying Squad’s despair:
For when they reach
the scene of crime – Macavity’s not there!
Macavity, Macavity, there’s
no one like Macavity,
He’s broken every
human law, he breaks the law of gravity.
His powers of
levitation would make a fakir stare,
And when you reach
the scene of crime – Macavity’s not there!
You may seek him in
the basement, you may look up in the air –
But I tell you once
and once again, Macavity’s not there!
Macavity’s a ginger
cat, he’s very tall and thin;
You would know him if
you saw him, for his eyes are sunken in.
His brow is deeply
lined with thought, his head is highly domed;
His coat is dusty
from neglect, his whiskers are uncombed.
He sways his head
from side to side, with movements like a snake;
And when you think
he’s half asleep, he’s always wide awake.
Macavity, Macavity,
there’s no one like Macavity,
For he’s a fiend in feline
shape, a monster of depravity.
You may meet him in a
by-street, you may see him in the square –
But when a crime’s
discovered, then Macavity’s not there!
He’s outwardly
respectable. (They say he cheats at cards.)
And his footprints
are not found in any file of Scotland Yard’s.
And when the larder’s
looted, or the jewel-case is rifled,
Or when the milk is
missing, or another Peke’s been stifled,
Or the greenhouse
glass is broken, and the trellis past repair –
Ay, there’s the
wonder of the thing! Macavity’s not there!
And when the Foreign
Office find a Treaty’s gone astray,
Or the Admiralty lose
some plans and drawings by the way,
There may be a scrap
of paper in the hall or on the stair –
But it’s useless to
investigate – Macavity’s not there!
And when the loss has
been disclosed, the Secret Service say:
‘It must have been
Macavity!’ – but he’s a mile away.
You’ll be sure to
find him resting, or a-licking of his thumbs,
Or engaged in doing
complicated long division sums.
Macavity, Macavity,
there’s no one like Macavity,
There never was a Cat
of such deceitfulness and suavity.
He always has an
alibi, and one or two to spare:
At whatever time the
deed took place – macavity wasn’t there!
And they say that all
the Cats whose wicked deeds are widely known
(I might mention
Mungojerrie, I might mention Griddlebone)
Are nothing more than
agents for the Cat who all the time
Just controls their
operations: the Napoleon of Crime!
Uma das ilustrações
para o Gato MacAnális
(Axel Scheffler:
ilustrador alemão)
MacAnália: o Gato
Misterioso
Eis MacAnália, o
Misterioso: apelidado a garra oculta,
Por ser do crime um
grande mestre, ri-se da Lei que enfrenta e insulta.
É o desespero da
Polícia, pois o Esquadrão Combate-ao-Vício
Quando ao local do
crime chega: de MacAnália nem indicio!
Ah, MacAnália,
MacAnália, ninguém igual a MacAnália.
Com ele as leis
humanas cedem e a lei da gravidade falha.
O seu poder de
levitar faz um faquir babar de início,
Pois quando um crime
se descobre: de MacAnália nem indício!
Podem buscar desde o
porão e até por cima do edifício,
Que eu te garanto com
certeza: de MacAnália nem indício!
O MacAnália é um gato
ruço, de boa altura e muito esguio.
Vendo-o uma vez logo
o conheces por seu olhar profundo e frio.
Testa franzida e
meditante, a juba arredondada e cheia;
O pelo é sujo por
desleixo, os seus bigodes não penteia.
Balança a cara para
os lados, num movimento que é de cobra;
Quando parece estar
dormindo, no mesmo instante se recobra.
Ah, MacAnália, MacAnália,
ninguém igual a MacAnália,
Felino em forma cie
facínora, monstro perverso que achincalha.
Há quem passando pela
praça, ou beco solitário, visse-o;
Porém se um crime e
descoberto: de MacAnália nem indício!
Exteriormente
respeitável. (Dizem que trapaceia à mesa.)
Suas pegadas não se
encontram nas fichas da polícia inglesa.
Se uma despensa é
despojada, ou joias somem de algum cofre,
Se nalgum litro o
leite falta, outro atentado o lulu sofre,
Quando da estufa a
telha estala, treme a treliça no bulício,
A coisa mais
extraordinária: de MacAnália nem indício!
No Ministério quando
somem tratados de importância extrema
Ou por azar no
Almirantado vaza-se algum secreto esquema,
Pode a parede estar
unhada, mais que arranhado o frontispício,
Que investigar será
frustrado: de MacAnália nem indício!
E quando o furo se revela,
comenta alguém da Vigilância:
“Deve ter sido
MacAnália!” que está a milhas de distância
A descansar contando
o bolo, a umedecer na língua as unhas,
Fazendo somas
complicadas ou subtraindo testemunhas.
Ah, MacAnália,
MacAnália, ninguém igual a MacAnália.
Gato nenhum foi mais
sutil e fraudulento na bandalha.
Sempre o seu álibi
compunha, nunca faltava um artifício:
Fosse o leito quando
fosse: de MacAnália nem indício!
Por mais que proezas
de outros gatos tivessem lá seu brilho ou vulto,
(Posso citar-lhes
Zaragato, ou referir me a Gatumulto)
Não passam todos de
uns agentes diante de Gato mais sublime
Que os feitos deles
supervisa como um Napoleão do Crime!
Nota:
(*). “Velho Gambá”:
trata-se de um apelido cunhado por Ezra Pound (1885-1972), poeta e crítico
literário norte-americano, para o próprio T. S. Eliot.
Referência:
ELIOT, T. S. Macavity:
the mystery cat / MacAnália: o gato misterioso. Tradução de Ivo Barroso. In:
__________. Os gatos. Tradução de Ivo Barroso. Ilustrado por Axel Scheffler.
Edição bilíngue: inglês x português. São Paulo, SP: Companhia das Letrinhas,
2010. Em inglês: p. 96-98; em português: p. 48-51.
ö


Nenhum comentário:
Postar um comentário