Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 29 de novembro de 2025

Luiza Neto Jorge - A Magnólia

Pode-se interpretar este poema de Luiza Neto Jorge como uma celebração da linguagem enquanto sítio de criação e de transformação, ou por outra, não apenas um instrumento de comunicação, senão também um espaço onde as experiências convertem-se em significados – significados esses que, num lampejo, a poetisa logra vislumbrar nos interstícios de potenciais conexões entre o tangível e o inefável.

 

O mínimo e o magnificente emergem em pequenos milagres, entretecidos quer na natureza, quer na linguagem poética, pondo-se a deslizar e ressoar por toda parte. No plano de uma lauda em branco, a magnólia transfigura-se em sensorial e vívida imagética, pelo efeito de metáforas impactantes, lépidas em apreender o aroma e a beleza dessa flor.

 

J.A.R. – H.C.

 

Luiza Neto Jorge

(1939-1989)

 

A Magnólia

 

A exaltação do mínimo,

e o magnifico relâmpago

do acontecimento mestre

restituem-me a forma

o meu resplendor.

 

Um diminuto berço me recolhe

onde a palavra se elide

na matéria – na metáfora –

necessária, e leve, a cada um

onde se ecoa e resvala.

 

A magnólia,

o som que se desenvolve nela

quando pronunciada,

é um exaltado aroma

perdido na tempestade,

 

um mínimo ente magnífico

desfolhando relâmpagos

sobre mim.

 

Flores de Magnólia

(Myroslava Voloschuk: pintora ucraniana)

 

Referência:

 

JORGE, Luiza Neto. A magnólia. In: __________. 19 recantos e outros poemas. Organização de Jorge Fernandes da Silveira e Mauricio Dias. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. p. 62.

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