Pode-se interpretar
este poema de Luiza Neto Jorge como uma celebração da linguagem enquanto sítio
de criação e de transformação, ou por outra, não apenas um instrumento de
comunicação, senão também um espaço onde as experiências convertem-se em significados
– significados esses que, num lampejo, a poetisa logra vislumbrar nos
interstícios de potenciais conexões entre o tangível e o inefável.
O mínimo e o
magnificente emergem em pequenos milagres, entretecidos quer na natureza, quer
na linguagem poética, pondo-se a deslizar e ressoar por toda parte. No plano de
uma lauda em branco, a magnólia transfigura-se em sensorial e vívida imagética,
pelo efeito de metáforas impactantes, lépidas em apreender o aroma e a beleza dessa
flor.
J.A.R. – H.C.
Luiza Neto Jorge
(1939-1989)
A Magnólia
A exaltação do
mínimo,
e o magnifico
relâmpago
do acontecimento
mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.
Um diminuto berço me
recolhe
onde a palavra se
elide
na matéria – na
metáfora –
necessária, e leve, a
cada um
onde se ecoa e
resvala.
A magnólia,
o som que se
desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na
tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando
relâmpagos
sobre mim.
Flores de Magnólia
(Myroslava Voloschuk:
pintora ucraniana)
Referência:
JORGE, Luiza Neto. A
magnólia. In: __________. 19 recantos e outros poemas. Organização de
Jorge Fernandes da Silveira e Mauricio Dias. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008.
p. 62.
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