De uma obra que, pelo
título – “La vita non è sogno” (“A vida não é sonho”), de 1949 –, parece lançar
um repto à peça teatral do dramaturgo e poeta espanhol Pedro Calderón de la
Barca (1600-1681), a saber, “La vida es sueño” (“A vida é sonho”), de 1635, estas
linhas de Quasimodo têm o propósito de nos confrontar com a mais candente das
realidades observáveis sobre a Terra: o paradoxo de uma imortalidade que só se
manifesta por meio da própria finitude.
Sob tal perspectiva,
o sujeito lírico questiona-se se há justiça em se reduzir a vida de alguém a
uma simples inscrição em sua tumba, sem que se mencionem seus sonhos, suas
emoções, suas lutas: no fim de tudo, a angústia existencial que nos impõem as
condicionantes do silêncio e da solidão, quiçá impostas por um ser divino que,
embora presente, não responde aos humanos apelos, deixando-nos a experimentar
uma vida desvestida de sentidos absolutos, embora muito concreta e real.
J.A.R. – H.C.
Salvatore Quasimodo
(1901-1968)
Thànatos Athànatos
E dovremo dunque
negarti, Dio
dei tumori, Dio del
fiore vivo,
e cominciare con un
no all’ oscura
pietra “io sono”, e
consentire alla morte
e su ogni tomba
scrivere la sola
nostra certezza: “thànatos
athànatos”?
Senza un nome che
ricordi i sogni
le lacrime i furori
di quest’uomo
sconfitto da domande
ancora aperte?
Il nostro dialogo
muta; diventa
ora possibile l’assurdo.
La
oltre il fumo di
nebbia, dentro gli alberi
vigila la potenza
delle foglie,
vero è il fiume che
preme sulle rive.
La vita non e sogno.
Vero l’uomo
e il suo pianto
geloso del silenzio.
Dio del silenzio,
apri la solitudine.
Vida, morte e
imortalidade
(Thomas Cole: pintor
anglo-americano)
Thànatos Athànatos
E teremos, pois, que
vos negar, Deus
dos tumores, Deus da
flor viva,
e começar com um não
à escura
pedra do “eu sou”, e
consentir com a morte
e sobre cada túmulo
escrever a nossa
única certeza: “thànatos
athànatos”?
Sem um nome que
recorde os sonhos,
as lágrimas, os
furores deste homem
derrotado por
questões ainda em aberto?
Altera-se o nosso diálogo;
o absurdo
torna-se agora
possível. Para
além dos eflúvios da
neblina, no meio das árvores,
vela o poder das
folhas,
tangível é o rio que
comprime as margens.
A vida não é sonho. Real
é o homem
e o seu zeloso pranto
de silêncio.
Deus do silêncio,
abri a solidão.
Referência:
QUASIMODO, Salvatore. Thànatos Athànatos. In: __________. La vita non è sogno: 1946-1948. Milano, IT: Mondadori, 1949. p. 20.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário