Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Salvatore Quasimodo - Thànatos Athànatos

De uma obra que, pelo título – “La vita non è sogno” (“A vida não é sonho”), de 1949 –, parece lançar um repto à peça teatral do dramaturgo e poeta espanhol Pedro Calderón de la Barca (1600-1681), a saber, “La vida es sueño” (“A vida é sonho”), de 1635, estas linhas de Quasimodo têm o propósito de nos confrontar com a mais candente das realidades observáveis sobre a Terra: o paradoxo de uma imortalidade que só se manifesta por meio da própria finitude.

 

Sob tal perspectiva, o sujeito lírico questiona-se se há justiça em se reduzir a vida de alguém a uma simples inscrição em sua tumba, sem que se mencionem seus sonhos, suas emoções, suas lutas: no fim de tudo, a angústia existencial que nos impõem as condicionantes do silêncio e da solidão, quiçá impostas por um ser divino que, embora presente, não responde aos humanos apelos, deixando-nos a experimentar uma vida desvestida de sentidos absolutos, embora muito concreta e real.

 

J.A.R. – H.C.

 

Salvatore Quasimodo

(1901-1968)

 

Thànatos Athànatos

 

E dovremo dunque negarti, Dio

dei tumori, Dio del fiore vivo,

e cominciare con un no all’ oscura

pietra “io sono”, e consentire alla morte

e su ogni tomba scrivere la sola

nostra certezza: “thànatos athànatos”?

Senza un nome che ricordi i sogni

le lacrime i furori di quest’uomo

sconfitto da domande ancora aperte?

Il nostro dialogo muta; diventa

ora possibile l’assurdo. La

oltre il fumo di nebbia, dentro gli alberi

vigila la potenza delle foglie,

vero è il fiume che preme sulle rive.

La vita non e sogno. Vero l’uomo

e il suo pianto geloso del silenzio.

Dio del silenzio, apri la solitudine.

 

Vida, morte e imortalidade

(Thomas Cole: pintor anglo-americano)

 

Thànatos Athànatos

 

E teremos, pois, que vos negar, Deus

dos tumores, Deus da flor viva,

e começar com um não à escura

pedra do “eu sou”, e consentir com a morte

e sobre cada túmulo escrever a nossa

única certeza: “thànatos athànatos”?

Sem um nome que recorde os sonhos,

as lágrimas, os furores deste homem

derrotado por questões ainda em aberto?

Altera-se o nosso diálogo; o absurdo

torna-se agora possível. Para

além dos eflúvios da neblina, no meio das árvores,

vela o poder das folhas,

tangível é o rio que comprime as margens.

A vida não é sonho. Real é o homem

e o seu zeloso pranto de silêncio.

Deus do silêncio, abri a solidão.

 

Referência:

 

QUASIMODO, Salvatore. Thànatos Athànatos. In: __________. La vita non è sogno: 1946-1948. Milano, IT: Mondadori, 1949. p. 20.

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