Rogelio Echavarría - Lugar comum

Partindo da tese de que a poesia pressupõe alguns atributos essenciais de quem se dispõe a tomá-la pelas mãos, como a sensibilidade e a capacidade de exaltar a beleza das coisas mais simples – o que ocasionalmente não ocorre, pelo efeito de uma ausência de vitalidade e de inspiração –, diz-nos Echavarría que nem todos podemos ser poetas.

 

Parece-lhe, nada obstante, que a busca de entendimento mútuo e de identificação com o humano que há em cada um ao redor pode transformar essa impotência em algo que esparge o substrato da poesia ou, pelo menos, abranda a aridez da vida cotidiana.

 

Trata-se, como se vê, de um poema celebratório da experiência humana como um ato poético em si mesmo, mitigador de nossas carências, de nossos desassossegos, de “nossos esforços cegos / sem vãs metáforas”, neste universo de contrastes em que coexistem – na dicção de Echavarría – tanto “poetas” quanto “homens sem asa”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Rogelio Echavarría

(1926-2017)

 

Lugar común

 

Ya que no todos podemos ser

poetas

comprender lo sensible

o exaltar lo sencillo

hablemos francamente

confesemos nuestro fracaso

de hombres sin alas

de hojas muertas en el estío

nuestros empeños ciegos

sin metáforas vanas

nuestra identificación con todos

o con casi todos

y si alguien nos entiende

y fecunda nuestra impotencia

eso también es poesía

o por lo menos una gota

en la sed del infierno

cotidiano.

 

Árida e bela: paisagem australiana

(Michelle Keighley: artista australiana)

 

Lugar comum

 

Já que todos não podemos ser

poetas

compreender o sensível

ou exaltar o simples

falemos francamente

confessemos o nosso fracasso

de homens sem asas

de folhas mortas no estio

nossos esforços cegos

sem vãs metáforas

nossa identificação com todos

ou quase todos

e se alguém nos entende

e fecunda a nossa impotência

isso também é poesia

ou pelo menos uma gota

na sede do inferno

cotidiano.

 

Referência:

 

ECHAVARRÍA, Rogelio. Lugar común. In: COTE, Ramón (Comp.). Antología de poesía colombiana contemporánea. Bogotá, CO: Ministerio de Cultura; Biblioteca Nacional de Colombia, 2018. p. 90. (BC Literatura: Biblioteca Básica de Cultura Colombiana)

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