Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 5 de outubro de 2025

Donizete Galvão - Mística do trabalho

O poeta retrata em seus versos a alienação e o desgaste que sofre o trabalhador no sistema capitalista moderno de produção em massa, como se dele fosse uma peça descartável, ideia tão bem capturada no cinema por Charles Chaplin (1889-1977) em sua antológica película “Tempos Modernos”, de 1936, na qual Carlitos vê-se enredado numa linha de montagem, submetido aos infortúnios do estresse e do ritmo repetitivo de trabalho.

 

O poema, assim, pode ser tomado como uma denúncia – de notório teor marxista – da alienação do trabalhador em relação ao produto de seu esforço e uma crítica ao sistema que, vocacionado à produção desumanizada de mercadorias, o reduz a apenas mais uma de suas engrenagens, pouco se importando com questões alusivas à dignidade do operariado, tampouco com a deterioração de sua saúde física e mental.

 

J.A.R. – H.C.

 

Donizete Galvão

(1955-2014)

 

Mística do trabalho

 

O homem põe seu corpo

no artefato que fabrica.

Veias, suor e respiração

a serviço da monotonia.

O homem gasta seu tempo

e o coloca dentro dos objetos.

Preso no círculo da repetição

morre um pouco

ao fim de cada dia.

 

Homem no trabalho

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

Referência:

 

GALVÃO, Donizete. Mística do trabalho. In: __________. O homem inacabado. São Paulo, SP: Portal Literatura, 2010. p. 50.

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