O poeta retrata em
seus versos a alienação e o desgaste que sofre o trabalhador no sistema
capitalista moderno de produção em massa, como se dele fosse uma peça
descartável, ideia tão bem capturada no cinema por Charles Chaplin (1889-1977)
em sua antológica película “Tempos Modernos”, de 1936, na qual Carlitos vê-se
enredado numa linha de montagem, submetido aos infortúnios do estresse e do
ritmo repetitivo de trabalho.
O poema, assim, pode
ser tomado como uma denúncia – de notório teor marxista – da alienação do
trabalhador em relação ao produto de seu esforço e uma crítica ao sistema que, vocacionado
à produção desumanizada de mercadorias, o reduz a apenas mais uma de suas
engrenagens, pouco se importando com questões alusivas à dignidade do
operariado, tampouco com a deterioração de sua saúde física e mental.
J.A.R. – H.C.
Donizete Galvão
(1955-2014)
Mística do trabalho
O homem põe seu corpo
no artefato que
fabrica.
Veias, suor e
respiração
a serviço da
monotonia.
O homem gasta seu
tempo
e o coloca dentro dos
objetos.
Preso no círculo da
repetição
morre um pouco
ao fim de cada dia.
Homem no trabalho
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Referência:
GALVÃO, Donizete.
Mística do trabalho. In: __________. O homem inacabado. São Paulo, SP:
Portal Literatura, 2010. p. 50.
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