Em meio a angústias
provocadas por sentimentos de amor, o falante apresenta-se a si mesmo preparando
um novo lar – num renovo simbólico de seu espaço interno e emocional –, bem
assim um banquete surreal com partes de seu próprio corpo, tudo isso à espera
desesperada por sua amante.
Vê-se, em primeiro
plano, uma espécie de amor cinzento a funcionar como um véu protetor contra o
calor de outro amor, mas que, ao mesmo tempo, torna-se como que uma sombra a
obscurecer a paixão, impedindo que o sujeito lírico tenha uma visão clara das
coisas, distanciando-o ainda mais de seu desejo à medida que o tempo passa sem
a chegada daquela por quem sofregamente espera, com o que imerge num dorido
estado de desgaste, incompletude e frustração.
J.A.R. – H.C.
Pál Dániel Levente
(n. 1982)
Most is, mintha egy
szürke szerelem
Most is, mintha egy
szürke szerelem
függönyével védeném
ki
egy másik szerelem
napjának hevét.
Szúr a fény, – leng,
libeg, lebeg be
a 36 fokos
szenvedély.
A szobából, hol lakni
álmodom,
kipakolom mind a
bútorokat,
nyugodtan rendezem be
új otthonom.
Vérrel festem meg az
ajtókeretet,
beleimre akasztom
könyveimet,
gyomromat átsikálom,
kivakarom a koszt,
ajtót szerelek
szebbik oldalára,
amit még ennék, itt
melengetem,
szerelmesen várom
szerelmesem.
Két bordám
megfaragtam,
két költözés előtti gyertyát
két faragott bordámra
viaszoltam;
megterítettem, ahogy
illik,
medencémbe a meleg
levest,
lapockámba a tésztát,
bőrömből szalvétát,
apróbb csontjaimból
kést, kanalat, villát,
valami ilyesféle
romantikát.
Sok hülyeség
maradozott el, verődött össze,
ahogy csiszolatlan
félig férfi-aggyal,
szájpadlásra tapadt,
vergődő szívvel,
eddigi életemben és
egész délelőtt
vártalak.
És egész délután, két
héten át
étlen-szomjan, egyre
zsugorodva,
egyenletesen
porosodva,
szürke függönyömbe
kavarodva,
lengve, libegve,
szenvedélyve.
Hogy soha aztán ne
lássalak.
Beije meu...
(Ginny Sykes: artista
norte-americana)
Também agora, como se
com a cortina
Também agora, como se
com a cortina
de um amor cinzento
desviasse
o ardor do sol de um
outro amor.
A luz pica – balança,
dança, voa
a paixão de 38,7
graus centígrados,
Do quarto, onde sonho
morar,
deito fora todos os
móveis:
calmamente mobilo o
meu novo lar.
Pinto com sangue a
maçaneta da porta,
penduro os livros nos
meus intestinos,
esfrego o estômago,
raspo-lhe a sujidade,
coloco uma porta no seu
lado mais belo,
o que eu ainda comia,
aqui o guardo quente,
espero amorosamente o
meu amor.
Preparei duas
costelas minhas,
duas velas anteriores
à mudança,
servi as duas
costelas;
pus a mesa, como deve
ser,
a sopa quente sobre a
minha bacia,
nas omoplatas, a
massa,
fiz da pele
guardanapo,
dos ossos mais
pequenos faca, colher, garfo,
um romantismo do
género.
Muita estupidez
ficou para trás, tudo
se dispersou,
pois, com um cérebro
bruto de meio-homem,
cujo coração se
debate, colado ao céu da boca,
toda a minha vida,
até hoje, e durante a manhã,
te esperava.
E toda a tarde,
durante duas semanas
sem comer nem beber,
em contracções permanentes,
cobrindo-me de pó,
uniformemente,
embrulhado na minha
cortina cinzenta,
balançando, dançando,
apaixonando-me,
para nunca mais te
ver.
Referências:
Em Húngaro
LEVENTE, Pál Dániel. Most
is, mintha egy szürke szerelem. Disponível neste endereço. Acesso em: 28 set.
2025.
Em Português
LEVENTE, Pál Dániel. Também
agora, como se com a cortina. Tradução de Ernesto Rodrigues. Poesia sempre.
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de janeiro (RJ), p. 71, ano 17, n. 35, 2010.
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