Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Pál Dániel Levente - Também agora, como se com a cortina

Em meio a angústias provocadas por sentimentos de amor, o falante apresenta-se a si mesmo preparando um novo lar – num renovo simbólico de seu espaço interno e emocional –, bem assim um banquete surreal com partes de seu próprio corpo, tudo isso à espera desesperada por sua amante.

 

Vê-se, em primeiro plano, uma espécie de amor cinzento a funcionar como um véu protetor contra o calor de outro amor, mas que, ao mesmo tempo, torna-se como que uma sombra a obscurecer a paixão, impedindo que o sujeito lírico tenha uma visão clara das coisas, distanciando-o ainda mais de seu desejo à medida que o tempo passa sem a chegada daquela por quem sofregamente espera, com o que imerge num dorido estado de desgaste, incompletude e frustração.

 

J.A.R. – H.C.

 

Pál Dániel Levente

(n. 1982)

 

Most is, mintha egy szürke szerelem

 

Most is, mintha egy szürke szerelem

függönyével védeném ki

egy másik szerelem napjának hevét.

Szúr a fény, – leng, libeg, lebeg be

a 36 fokos szenvedély.

A szobából, hol lakni álmodom,

kipakolom mind a bútorokat,

nyugodtan rendezem be új otthonom.

Vérrel festem meg az ajtókeretet,

beleimre akasztom könyveimet,

gyomromat átsikálom, kivakarom a koszt,

ajtót szerelek szebbik oldalára,

amit még ennék, itt melengetem,

szerelmesen várom szerelmesem.

Két bordám megfaragtam,

két költözés előtti gyertyát

két faragott bordámra viaszoltam;

megterítettem, ahogy illik,

medencémbe a meleg levest,

lapockámba a tésztát,

bőrömből szalvétát,

apróbb csontjaimból kést, kanalat, villát,

valami ilyesféle romantikát.

 

Sok hülyeség

maradozott el, verődött össze,

ahogy csiszolatlan félig férfi-aggyal,

szájpadlásra tapadt, vergődő szívvel,

eddigi életemben és egész délelőtt

vártalak.

És egész délután, két héten át

étlen-szomjan, egyre zsugorodva,

egyenletesen porosodva,

szürke függönyömbe kavarodva,

lengve, libegve, szenvedélyve.

Hogy soha aztán ne lássalak.

 

Beije meu...

(Ginny Sykes: artista norte-americana)

 

Também agora, como se com a cortina

 

Também agora, como se com a cortina

de um amor cinzento desviasse

o ardor do sol de um outro amor.

A luz pica – balança, dança, voa

a paixão de 38,7 graus centígrados,

Do quarto, onde sonho morar,

deito fora todos os móveis:

calmamente mobilo o meu novo lar.

Pinto com sangue a maçaneta da porta,

penduro os livros nos meus intestinos,

esfrego o estômago, raspo-lhe a sujidade,

coloco uma porta no seu lado mais belo,

o que eu ainda comia, aqui o guardo quente,

espero amorosamente o meu amor.

Preparei duas costelas minhas,

duas velas anteriores à mudança,

servi as duas costelas;

pus a mesa, como deve ser,

a sopa quente sobre a minha bacia,

nas omoplatas, a massa,

fiz da pele guardanapo,

dos ossos mais pequenos faca, colher, garfo,

um romantismo do género.

 

Muita estupidez

ficou para trás, tudo se dispersou,

pois, com um cérebro bruto de meio-homem,

cujo coração se debate, colado ao céu da boca,

toda a minha vida, até hoje, e durante a manhã,

te esperava.

E toda a tarde, durante duas semanas

sem comer nem beber, em contracções permanentes,

cobrindo-me de pó, uniformemente,

embrulhado na minha cortina cinzenta,

balançando, dançando, apaixonando-me,

para nunca mais te ver.

 

Referências:

 

Em Húngaro

 

LEVENTE, Pál Dániel. Most is, mintha egy szürke szerelem. Disponível neste endereço. Acesso em: 28 set. 2025.

 

Em Português

 

LEVENTE, Pál Dániel. Também agora, como se com a cortina. Tradução de Ernesto Rodrigues. Poesia sempre. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de janeiro (RJ), p. 71, ano 17, n. 35, 2010.

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