Moraga, poetisa
feminista e ativista mexicano-estadunidense, rechaçando prontamente as opções de
transformação individual e coletiva instantâneas – que lhe parecem fantasiosas
ou mágicas –, põe na elocução da voz lírica muito do que se passa em sua
própria vida de luta pelos direitos à igualdade de tratamento na esfera privada
e pública, com o claro objetivo de criar uma realidade mais sólida e equitativa.
Ela abraça o processo
dos embates identitários como se uma soldadora fosse – prática, pé no chão, autodeterminada
–, agora muito mais interessada em seus próprios assuntos e interesses, não nos
dos outros, o que denota a assunção do poder de modelar a sua vida e a dos
pares “em suas próprias mãos”.
Afinal, a reforma pessoal ou social requer confrontação, intensidade e esforço
para se fazer frente às “chispas fora de controle”, sem que se deixe de
reconhecer que, a despeito de todos compartilharmos uma humanidade comum, a capacidade
de reorientação ao sentido tencionado varia de pessoa para pessoa, de grupo
para grupo, a depender do estágio de empoderamento em que se encontrem.
J.A.R. – H.C.
Cherríe Moraga
(n. 1952)
The Welder
I am a welder.
Not an alchemist.
I am interested in
the blend
of common elements to
make
a common thing.
No magic here.
Only the heat of my
desire to fuse
what I already know
exists. Is possible.
We plead to each
other,
we all come from the
same rock
we all come from the
same rock
ignoring the fact
that we bend
at different
temperatures
that each of us is
malleable
up to a point.
Yes, fusion is
possible
but only if things
get hot enough –
all else is temporary
adhesion,
patching up.
It is the intimacy of
steel melting
into steel, the fire
of your individual
passion to take hold
of ourselves
that makes sculpture
of your lives,
builds buildings.
And I am not talking
about skyscrapers,
merely structures
that can support us
of trembling.
For too long a time
the heat of my heavy
hands
has been smoldering
in the pockets of
other
people’s business –
they need oxygen to
make fire.
I am now
coming up for air.
Yes, I am
picking up the torch.
I am the welder.
I understand the
capacity of heat
to change the shape
of things.
I am suited to work
within the realm of
sparks
out of control.
I am the welder.
I am taking the power
into my own hands.
Solda
(Patrick Zgarrick:
pintor norte-americano)
A Soldadora
Sou uma soldadora.
Não uma alquimista.
Interessa-me a mescla
de elementos comuns
para fazer
uma coisa comum.
Não há magia nesse
processo.
Apenas o calor do meu
desejo de fundir
o que já sei que
existe. Que é
possível.
Declaramo-nos uns aos
outros,
todos viemos da mesma
rocha
todos viemos da mesma
rocha
ignorando o fato de
que nos vergamos
a diferentes
temperaturas,
de que cada um de nós
é maleável
até certo ponto.
Sim, a fusão é possível,
mas só se as coisas
aquecerem o suficiente –
tudo mais é adesão
temporária,
remendos.
É a intimidade do aço
a derreter-se
no aço, o fogo de todas
as paixões
individuais para
tomar posse de si mesmas,
que esculpe a forma
dessas vidas,
que constrói edifícios.
E não estou falando
de arranha-céus,
senão de estruturas
que nos possibilitam
resistir a tremores.
Há muito tempo
o calor de minhas mãos
pesadas
segue em estado de
latência
nas algibeiras dos negócios
alheios –
necessitando de
oxigênio para avivar o fogo.
Agora estou
saindo para tomar um
ar.
Sim, estou
empunhando o
maçarico.
Eu sou a soldadora.
Sei da capacidade que
tem o calor
para alterar a forma
das coisas.
Estou apta para trabalhar
no reino das faíscas
fora de controle.
Eu sou a soldadora.
Eis que assumo o
poder
em minhas próprias
mãos.
Referência:
MORAGA, Cherríe. The
welder. In: MORAGA, Cherríe; ANZALDÚA, Gloria (Eds.). This bridge called my
back: writings by radical women of color. 4th ed. Albany, NY: State
University of New York Press (SUNY Press), 2015. p. 219-220.
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