Neruda enceta uma
espécie de diálogo entre a voz lírica e um interlocutor, onde o primeiro busca
responder às perguntas do segundo com uma sabedoria ancestral, própria de quem
conhece os segredos mais profundos da natureza: trata-se de um dos mais de
duzentos poemas que compõe o “Canto Geral” (1950), um ciclo épico atinente à
história das Américas sob um enfoque dominantemente hispano-americano.
Os mitos, os segredos
e os mistérios, bem assim as amplas lacunas que temos sobre as incógnitas vidas
que existem nos vastos pélagos oceânicos, deveriam nos tornar conscientes acerca
da necessidade de preservação do biossistema marinho, tanto quanto de compreender
ou decifrar por completo seus arcanos, até mesmo os fenômenos naturais que a
tudo presidem – para que possamos, se for necessidade, sempre agir sobre eles de
modo consequente.
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
Los Enigmas
Me habéis preguntado
qué hila el crustáceo entre
sus patas de oro y os
respondo: El mar lo sabe.
¿Me decís qué espera
la ascidia en su campana transparente?
¿Qué espera? Yo os
digo, espera como vosotros el tiempo.
Me preguntáis a quién
alcanza el abrazo del alga Macrocustis?
Indagadlo, indagadlo
a ciertahora, en cierto mar que conozco.
Sin duda me
preguntareis por el marfil maldito del narwhal, (*)
para que yo os
conteste
de qué modo el
unicornio marino agoniza arponeado.
¿Me preguntáis tal
vez por las plumas alcionárias que tiemblan
en los puros orígenes
de la marea austral?
¿Y sobre la
construcción cristalina del polipo habéis barajado,
sin duda,
una pregunta más,
desgranándola ahora?
¿Queréis saber la
eléctrica materia de las púas del fondo?
¿La armada
estalactita que camina quebrándose?
¿El anzuelo del pez
pescador, la música extendida
en la profundidad
como un hilo en el agua?
Yo os quiero decir
que esto lo sabe el mar, que la vida
en sus arcas
es ancha como la
arena, innumerable y pura
y entre las uvas
sanguinarias el tiempo ha pulido
la dureza de un
pétalo, la luz de la medusa
y ha desgranado el
ramo de sus hebras corales
desde una cornucopia
de nácar infinito.
Yo no soy sino la red
vacía que adelanta
ojos humanos, muertos
en aquellas tinieblas,
dedos acostumbrados
al triangulo, medidas
de un tímido
hemisferio de naranja.
Anduve como vosotros
escarbando
la estrella
interminable,
y en mi red, en la
noche, me desperté desnudo,
única presa, pez
encerrado en el viento.
Em: “Canto General”
(1950)
O mistério do mar
(Magdalena Knight: artista
polonesa)
Os Enigmas
Perguntastes-me o que
fia o crustáceo entre
as suas patas de ouro
e eu vos respondo: O mar é que sabe.
Dizeis-me o que espera
a caravela no seu sino transparente?
O que espera? Eu vos
digo, espera como vós o tempo.
Perguntais-me a quem
atinge o abraço da alga Macrocustis?
Indagai-o, a certa
hora, em certo mar que conheço.
Sem dúvida perguntar-me-eis
pelo marfim maldito do narwhal,
para que eu vos
responda
de que modo o unicórnio
marinho agoniza arpoado.
Perguntais-me talvez
pelas penas alcionárias que tremem
nas puras origens da
maré austral?
E sobre a construção
cristalina do pólipo enredastes,
sem dúvida,
uma pergunta mais,
desfiando-a agora?
Quereis saber a
elétrica matéria dos ouriços do fundo?
A armada estalactite
que caminha se quebrando?
O anzol do peixe
pescador, a música estendida
na profundidade como
um fio na água?
Eu vos quero dizer que
isto quem sabe ó o mar, que a vida
nas suas arcas
é larga como a areia,
inumerável e pura
e entre as uvas
sanguinárias o tempo poliu
a dureza de urna
pétala, a luz da medusa
e debulhou o ramo das
suas fibras corais
de urna cornucópia de
nácar infinito.
Eu não sou senão a
rede vazia que adianta
olhos humanos, mortos
naquelas trevas,
dedos acostumados ao
triângulo, medidas
de um tímido
hemisfério de laranja.
Andei como vós
arranhando
a estrela
interminável,
e na minha rede, na
noite, acordei nu,
única presa, peixe
encerrado no vento.
Em: “Canto Geral”
(1950)
Nota:
(*). Narwhl: cetáceo
marinho.
Referência:
NERUDA, Pablo. Los enigmas / Os enigmas. Tradução de Eliane Zagury. In: __________. Antologia poética. Tradução de Eliane Zagury. Edição bilíngue: espanhol x português. 22. ed. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 2012. Em espanhol e em português: p. 173-175.
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