Neste curto poema, o
poeta joga com as nossas expectativas de encontrar significado no quotidiano a
partir de nossas habilidades perceptuais, confrontando-nos com a possibilidade
de que, às vezes, as coisas restringem-se a ser o que simplesmente são – sem maiores
transcendências ou perspectivas simbólicas –, a depender do contingente distanciamento
que a elas impusermos.
Entre a objetividade
descritiva e a carga emocional subjacente, o poema assume um tom quase
antropomórfico em relação às flores no vaso, quando se lhes atribui
propriedades deliberadas de tensão e de movimento, a par de sua misteriosa aura
de intocabilidade: são elas a forma tangível por meio da qual Ashbery justapõe
ideias de objetividade e de subjetividade, de atração e de repulsão, de firmeza
e de instabilidade, tudo muito relacionado ao modo como as pessoas interpretam aquilo
que apreendem pela via dos sentidos.
J.A.R. – H.C.
John Ashbery
(1927-2017)
The vase is white and would be a cylinder
If a cylinder were wider at the top than at the
bottom.
The flowers are red, white and blue.
All contact with the flowers is forbidden.
The white flowers strain upward
Into a pallid air of their references,
Pushed slightly by the red and blue flowers.
If you were going to be jealous of the flowers,
Please forget it.
They mean absolutely nothing to me.
Um Vaso com Flores
(Margaretha Haverman:
pintora holandesa)
Um Vaso com Flores
O vaso é branco e
seria um cilindro
Se um cilindro fosse
mais largo no topo do que na base.
As flores são
vermelhas, brancas e azuis.
Todo o contato com as
flores está proibido.
As flores brancas esticam-se
para cima
A um pálido ar de
suas referências,
Levemente impelidas
pelas flores vermelhas e azuis.
Se te predispões a
ficar com ciúmes das flores,
Por favor, esquece.
Elas não significam
absolutamente nada para mim.
Referência:
ASHBERY, John. A vase
of flowers. In: __________. Collected poems: 1956-1987. 1st print. New
York, NY: Library of America, 2008. p. 924. (The Library of America; n. 187)
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