A falante sente-se
confrangida ante os limites da linguagem, porque, sendo um dos nossos mais importantes
meios de expressão, não logra captar tudo o que ela pretende dizer a cada
instante: se uma palavra não consegue retratar com precisão, por exemplo, o que
seja o sol, indaga-se ela, como poderá dar conta, de modo adequado, da sua
experiência com ele?!
Riding sugere que
seria melhor aceitar essa ausência parcial de coincidência entre a realidade
empírica e a nossa experiência fenomenológica do mundo, essa quase certeza da
distância e do desacordo entre o domínio da subjetividade e o da objetividade
externa, do que tentar uma união que jamais alcançará o firmamento da plenitude,
sendo preferível tal situação, seja como for, a uma total desconexão.
J.A.R. – H.C.
Laura Riding
(1901-1991)
The world and I
This is not exactly
what I mean
Any more than the sun
is the sun.
But how to mean more
closely
If the sun shines but
approximately?
What a world of
awkwardness!
What hostile
implements of sense!
Perhaps this is as
close a meaning
As perhaps becomes
such knowing.
Else I think the
world and I
Must live together as
strangers and die –
A sour love, each
doubtful whether
Was ever a thing to
love the other.
No, better for both
to be nearly sure
Each of each – exactly
where
Exactly I and exactly
the world
Fail to meet by a
moment, and a word.
Estudo de sol
radiante com planetas
(Amy Lincoln: artista
norte-americana)
O mundo e eu
Isto não é bem o que
quero dizer, não,
Nada mais do que o
sol é o sol.
Mas como significar
mais corretamente
Se o sol brilha
aproximadamente?
Que mundo mais
desajeitado!
Que hostis
implementos de sentido!
Talvez isto seja o
sentido mais preciso
Que talvez fique bem
o saber disso,
Ou então, acho que o
mundo e eu, sim,
Devemos viver como
estranhos até o fim –
Um amor azedo, ambos
duvidando um pouco
Se um dia houve algo
como amar o outro.
Não, melhor termos
quase certeza
Cada um de nós onde é
que exa-
tamente eu e
exatamente o mundo falha
Em se cruzar por um
segundo, e uma palavra.
Referência:
RIDING, Laura. Tradução
de Rodrigo Garcia Lopes. In: __________. Mindscapes: poemas. Seleção,
tradução e introdução de Rodrigo Garcia Lopes. São Paulo, SP: Iluminuras, 2004.
Em inglês: p. 160; em português: p. 161.
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