Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 12 de outubro de 2025

Rumi - Levanta Agora o Tampo do Cântaro Celeste

Rumi sugere que nos libertemos das reclusões do ego, para que possamos romper as barreiras impeditivas da verdadeira iluminação espiritual – tantas vezes encerradas em estruturas que, paradoxalmente, acabam por consumar artificiosas divisões, como “mesquitas, templos e ídolos” –, apreendendo desse modo o sentido de unidade, liame primordial de tudo quanto existe.

 

O poema está carregado de simbolismo sufi, em especial o da metáfora do vinho, que, nutrindo o “jardim da alma” com a sua chuva vivificante, teria aptidão para levar o místico a deparar-se com dimensões algo distintas às deste mundo de aparências: isso é o que significa dotá-lo de “asas”, fazê-lo superar os limites terrenos, erguendo-o acima de suas preocupações materiais, rumo aos páramos celestiais.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jalal ud-Din Rumi

(1207-1273)

 

Lift Now the Lid of the Jar of Heaven

 

Pour, cupbearer, the wine of the invisible,

The name and sign of what has no sign!

Pour it abundantly, it is you who enrich the soul;

Make the soul drunk, and give it wings!

Come again, always-fresh one, and teach

All our cupbearers their sacred art!

Be a spring jetting from a heart of stone!

Break the pitcher of soul and body!

Make joyful all lovers of wine!

Foment a restlessness in the heart

Of the one who thinks only of bread!

Bread’s a mason of the body’s prison,

Wine a rain for the garden of the soul.

I’ve tied the ends of the earth together,

Lift now the lid of the jar of heaven.

Close those eyes that see only faults,

Open those that contemplate the invisible

So no mosques or temples or idols remain,

So ‘this’ or ‘that’ is drowned in His fire.

 

A taça de vinho

(Johannes Vermeer: pintor holandês)

 

Levanta Agora o Tampo do Cântaro Celeste

 

Verte, ó copeiro, o vinho do invisível,

o nome e o sinal daquilo que não tem sinal!

Verte-o abundantemente, és tu quem enriquece a alma;

Embriaga a alma e dá-lhe asas!

Vem de novo, sempre fresco, e ensina

Aos nossos copeiros a arte sagrada a que se devotam!

Sê um manancial que jorra de um coração de pedra!

Quebra o cântaro da alma e do corpo!

Alegra todos os amantes do vinho!

Fomenta uma inquietação no coração

De quem só pensa em pão!

O pão é um pedreiro da prisão do corpo,

O vinho uma chuva para o jardim da alma.

Juntei os extremos da terra numa amarra,

Levanta agora o tampo do cântaro celeste.

Fechem-se os olhos dos que só veem imperfeições,

Abram-se os daqueles que contemplam o invisível,

Para que não restem mesquitas, templos ou ídolos,

Para que “isto” ou “aquilo” seja tragado em Seu fogo.

 

Referência:

 

RUMI, Jalal ud-Din. Lift now the lid of the jar of heaven. In: __________. Teachings of Rumi. Edited and translated from Persian to English by Andrew Harvey. 1st ed. Boston, MA: Shambhala, 1999. p. 17.

Nenhum comentário:

Postar um comentário