Rumi sugere que nos libertemos
das reclusões do ego, para que possamos romper as barreiras impeditivas da
verdadeira iluminação espiritual – tantas vezes encerradas em estruturas que, paradoxalmente,
acabam por consumar artificiosas divisões, como “mesquitas, templos e ídolos” –,
apreendendo desse modo o sentido de unidade, liame primordial de tudo quanto
existe.
O poema está
carregado de simbolismo sufi, em especial o da metáfora do vinho, que, nutrindo
o “jardim da alma” com a sua chuva vivificante, teria aptidão para levar o místico
a deparar-se com dimensões algo distintas às deste mundo de aparências: isso é o
que significa dotá-lo de “asas”, fazê-lo superar os limites terrenos, erguendo-o
acima de suas preocupações materiais, rumo aos páramos celestiais.
J.A.R. – H.C.
Jalal ud-Din Rumi
(1207-1273)
Lift Now the Lid of the Jar of Heaven
Pour, cupbearer, the wine of the invisible,
The name and sign of what has no sign!
Pour it abundantly, it is you who enrich the soul;
Make the soul drunk, and give it wings!
Come again,
always-fresh one, and teach
All our cupbearers
their sacred art!
Be a spring jetting from a heart of stone!
Break the pitcher of soul and body!
Make joyful all lovers of wine!
Foment a restlessness in the heart
Of the one who thinks only of bread!
Bread’s a mason of the body’s prison,
Wine a rain for the garden of the soul.
I’ve tied the ends of the earth together,
Lift now the lid of the jar of heaven.
Close those eyes that see only faults,
Open those that contemplate the invisible
So no mosques or temples or idols remain,
So ‘this’ or ‘that’ is drowned in His fire.
A taça de vinho
(Johannes Vermeer:
pintor holandês)
Levanta Agora o Tampo
do Cântaro Celeste
Verte, ó copeiro, o
vinho do invisível,
o nome e o sinal
daquilo que não tem sinal!
Verte-o
abundantemente, és tu quem enriquece a alma;
Embriaga a alma e
dá-lhe asas!
Vem de novo, sempre
fresco, e ensina
Aos nossos copeiros a
arte sagrada a que se devotam!
Sê um manancial que
jorra de um coração de pedra!
Quebra o cântaro da
alma e do corpo!
Alegra todos os
amantes do vinho!
Fomenta uma
inquietação no coração
De quem só pensa em
pão!
O pão é um pedreiro
da prisão do corpo,
O vinho uma chuva
para o jardim da alma.
Juntei os extremos da
terra numa amarra,
Levanta agora o tampo
do cântaro celeste.
Fechem-se os olhos
dos que só veem imperfeições,
Abram-se os daqueles
que contemplam o invisível,
Para que não restem
mesquitas, templos ou ídolos,
Para que “isto” ou
“aquilo” seja tragado em Seu fogo.
Referência:
RUMI, Jalal ud-Din. Lift now the lid of the jar of heaven. In: __________. Teachings of Rumi. Edited and translated from Persian to English by Andrew Harvey. 1st ed. Boston, MA: Shambhala, 1999. p. 17.
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