Tagore celebra o
ciclo da vida e da morte como parte de uma experiência unitária, abraçando os
mistérios do nascer e do perecer com naturalidade e sem receios, pois que neles
vislumbra uma beleza e harmonia inerentes à ordem que a tudo permeia, profunda
e preexistente à limitada existência humana sobre a terra.
Somos o despertar enigmático
e estupendo para as luzes deste mundo, o qual, para todos os efeitos,
acolhe-nos como parte intrínseca de uma realidade que nos parece familiar desde
a gênese. E desta esfera sairemos por meio de uma transição suave e
reconfortante, porquanto mesmo o que se desconhece acerca dessa arcana
passagem, chega-nos em assomos de cognoscibilidade.
J.A.R. – H.C.
Rabindranath Tagore
(1861-1941)
95
I was not aware of
the moment when I first crossed the threshold of this life.
What was the power
that made me open out into this vast mystery like a bud in the forest at
midnight!
When in the morning I
looked upon the light I felt in a moment that I was no stranger in this world,
that the inscrutable without name and form had taken me in its arms in the form
of my own mother.
Even so, in death the
same unknown will appear as ever known to me. And because I love this life, I
know I shall love death as well.
The child cries out
when from the right breast the mother takes it away, in the very next moment to
find in the left one its consolation.
Alegoria da Morte
(Tomás Mondragón:
artista mexicano)
95
Transpus o umbral
desta vida, pela primeira vez, sem que estivesse consciente.
Que poder foi esse
que me induziu a abrir-me a este vasto mistério, como um botão de flor à
meia-noite no bosque?
Quando pela manhã
contemplei a luz, senti num instante que não era um estranho neste mundo; que o
inescrutável, sem nome nem forma, havia-me acolhido em seus braços sob a aparência
de minha própria mãe.
De igual modo, ao
aproximar-me da morte, esse mesmo desconhecido me parecerá familiar. E tanto
quanto amo esta vida, sei que também haverei de amar a morte.
A criança chora
quando do seio direito a mãe a afasta, para no momento seguinte encontrar no
esquerdo o seu consolo.
Referência:
TAGORE, Rabindranath.
95: I was not aware of the moment. In: __________. Gitanjali: song
offerings. A collection of prose translations made by the author from the
original bengali with an introduction by W. B. Yeats. New edition. New York,
NY: The Macmillan Company, 1915. p. 87.
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