Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Zbigniew Herbert - Sobre a tradução de poemas

O poeta polonês sintetiza na metáfora de uma abelha desajeitada, tentando alcançar o centro de uma flor, os desafios inerentes ao trabalho árduo do tradutor de poesia: por mais que tente, sempre haverá nuances, “aromas e sabores” perdidos na tradução, elementos consolidados nas raízes linguísticas e culturais do idioma em que originalmente escrito o poema, dificilmente transladáveis a um outro vernáculo.

 

Não importa o quanto o tradutor tente alcançar o pistilo amarelo da flor, para chegar ao almejado néctar, sempre haverá um limite para a profundidade que ele pode atingir. Aqueles que são céticos sobre o resultado da tradução, só precisam notar os vestígios do “pólen em seu nariz”, para deduzir que, de fato, o tradutor não chegou a captar toda a essência de que integrada a flor do poema.

 

J.A.R. – H.C.

 

Zbigniew Herbert

(1924-1998)

 

O tłumaczeniu wierszy

 

Jak trzmiel niezgrabny

siadł na kwiecie

aż zgięła się łodyga wiotka

przeciska się przez rzędy płatków

podobnych słownikowym kartkom

do środka dąży

gdzie aromat i słodycz jest

i choć ma katar

i brak mu smaku

jednak dąży

aż bije głową

w żółty słupek

 

i tu już koniec

trudno wniknąć

przez kielich kwiatów

do korzeni

więc trzmiel wychodzi

bardzo dumny

i głośno brzęczy:

byłem w środku

 

tym zaś

co mu nie całkiem wierzą

nos pokazuje

z żółtym pyłem

 

Abelha numa flor

(Anna Brigitta Kovacs: artista húngara)

 

Sobre a tradução de poemas

 

Como uma desairosa abelha,

pousa numa flor

fazendo dobrar a flexível haste.

Esgueira-se por entre fileiras de pétalas,

como as páginas de um dicionário.

Empenha-se em atingir o centro,

onde estão o aroma e a doçura.

Embora esteja com rinite

e tenha perdido o paladar,

ainda assim esforça-se bastante,

até tocar com a cabeça

num pistilo amarelo.

 

E aqui finda a ação.

Difícil é penetrar

pelo cálice das flores

em direção às raízes.

Então a abelha retira-se

muito orgulhosa,

zumbindo ruidosamente:

eu era quem estava lá dentro.

 

E, àqueles

que nela não acreditam,

mostra o nariz

amarelado pelo pólen.

 

Referência:

 

HERBERT, Zbigniew. O tłumaczeniu wierszy. In: __________. Wiersze zebrane. Opracowanie edytorskie Ryszard Krynicki. Warszawa, PL: Czytelnik, 1982. s. 80.

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