Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 23 de agosto de 2025

Rabindranath Tagore - Amor Infinito

O místico indiano canta o amor como uma força eterna, a transcender o tempo e o mundo das formas, vínculo esse que, em suas palavras, tem-se repetido através de inumeráveis vidas e gerações: trata-se de uma experiência coletiva, universal, plasmada nas lembranças de todos os amores que se fundem em uma única manifestação de amor, ressoando nas canções de cada poeta do passado e por todo o sempre.


A elocução de Tagore sugere-me que o poema tem por interlocutor não exatamente uma pessoa humana em particular, mas uma encarnação do amor divino, uma força superior ou uma alma universal com poder para unir todos os seres, representando, com efeito, a visão espiritualizada do falante, amiúde a aspirar por belezas e verdades eternas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Rabindranath Tagore

(1861-1941)

 

Unending Love

 

I seem to have loved you in numberless forms, numberless times

In life after life, in age after age forever.

My spell-bound heart has made and re-made the necklace of songs

That you take as a gift, wear round your neck in your many forms

In life after life, in age after age forever.

 

Whenever I hear old chronicles of love, its age-old pain,

Its ancient tale of being apart or together,

As I stare on and on into the past, in the end you emerge

Clad in the light of a pole-star piercing the darkness of time:

You become an image of what is remembered forever.

 

You and I have floated here on the stream that brings from the fount

At the heart of time love of one for another.

We have played alongside millions of lovers, shared in the same

Shy sweetness of meeting, the same distressful tears of farewell –

Old love, but in shapes that renew and renew forever.

 

Today it is heaped at your feet, it has found its end in you,

The love of all man’s days both past and forever:

Universal joy, universal sorrow, universal life,

The memories of all loves merging with this one love of ours –

And the songs of every poet past and forever.

 

(Translated from Bengali to English by William Radice)

 

O Amor de Deus

(Sabrina J. Squires: artista norte-americana)

 

Amor Infinito

 

Parece-me que te amei em inúmeras formas, inúmeras vezes,

Vida após vida, geração após geração, para todo o sempre.

Meu coração enfeitiçado fez e refez o colar de canções

Que tomas como um presente, trazendo-o ao pescoço em tuas múltiplas formas,

Vida após vida, geração após geração, para todo o sempre.

 

Sempre que escuto velhas crônicas de amor, a sua dor milenar,

O seu antigo relato de se estar juntos ou separados,

Enquanto olho fixamente para o passado, sempre emerges ao final

Recoberto pela luz de uma estrela polar a transpor a escuridão do tempo:

Tornas-te uma imagem daquilo que sempre se relembra.

 

Tu e eu flutuamos aqui no regato que transporta da fonte,

No coração do tempo, o amor de um pelo outro.

Brincamos ao lado de milhões de amantes, partilhamos a mesma

Doçura tímida do encontro, as mesmas lágrimas angustiantes de despedida –

Amor antigo, mas em formas que se renovam reiteradamente.

 

Hoje ele está desbordado a teus pés, encontrou o seu fim em ti,

O amor diário de cada homem, tanto no passado quanto por todo o sempre:

Alegria universal, tristeza universal, vida universal,

As memórias de todos os amores fundindo-se a este nosso único amor –

As canções de todos os poetas do passado e de todo o sempre.

 

Referência:

 

TAGORE, Rabindranath. Unending Love. In: __________. Selected poems of Rabindranath Tagore. Translated from Bengali to English by William Radice. Reprinted with a new Preface, Further Reading and corrections. New York, NY; London, EN: Penguin Books, 2005. p. 49. (‘Penguin Classics’)

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