O místico indiano
canta o amor como uma força eterna, a transcender o tempo e o mundo das formas,
vínculo esse que, em suas palavras, tem-se repetido através de inumeráveis
vidas e gerações: trata-se de uma experiência coletiva, universal, plasmada nas
lembranças de todos os amores que se fundem em uma única manifestação de amor,
ressoando nas canções de cada poeta do passado e por todo o sempre.
A elocução de Tagore
sugere-me que o poema tem por interlocutor não exatamente uma pessoa humana em
particular, mas uma encarnação do amor divino, uma força superior ou uma alma
universal com poder para unir todos os seres, representando, com efeito, a
visão espiritualizada do falante, amiúde a aspirar por belezas e verdades eternas.
J.A.R. – H.C.
Rabindranath Tagore
(1861-1941)
Unending Love
I seem to have loved
you in numberless forms, numberless times
In life after life,
in age after age forever.
My spell-bound heart
has made and re-made the necklace of songs
That you take as a
gift, wear round your neck in your many forms
In life after life,
in age after age forever.
Whenever I hear old
chronicles of love, its age-old pain,
Its ancient tale of
being apart or together,
As I stare on and on
into the past, in the end you emerge
Clad in the light of
a pole-star piercing the darkness of time:
You become an image
of what is remembered forever.
You and I have
floated here on the stream that brings from the fount
At the heart of time
love of one for another.
We have played
alongside millions of lovers, shared in the same
Shy sweetness of
meeting, the same distressful tears of farewell –
Old love, but in
shapes that renew and renew forever.
Today it is heaped at
your feet, it has found its end in you,
The love of all man’s
days both past and forever:
Universal joy,
universal sorrow, universal life,
The memories of all
loves merging with this one love of ours –
And the songs of
every poet past and forever.
(Translated from
Bengali to English by William Radice)
O Amor de Deus
(Sabrina J. Squires:
artista norte-americana)
Amor Infinito
Parece-me que te amei
em inúmeras formas, inúmeras vezes,
Vida após vida, geração
após geração, para todo o sempre.
Meu coração
enfeitiçado fez e refez o colar de canções
Que tomas como um
presente, trazendo-o ao pescoço em tuas múltiplas formas,
Vida após vida, geração
após geração, para todo o sempre.
Sempre que escuto
velhas crônicas de amor, a sua dor milenar,
O seu antigo relato
de se estar juntos ou separados,
Enquanto olho
fixamente para o passado, sempre emerges ao final
Recoberto pela luz de
uma estrela polar a transpor a escuridão do tempo:
Tornas-te uma imagem
daquilo que sempre se relembra.
Tu e eu flutuamos
aqui no regato que transporta da fonte,
No coração do tempo,
o amor de um pelo outro.
Brincamos ao lado de
milhões de amantes, partilhamos a mesma
Doçura tímida do
encontro, as mesmas lágrimas angustiantes de despedida –
Amor antigo, mas em
formas que se renovam reiteradamente.
Hoje ele está desbordado
a teus pés, encontrou o seu fim em ti,
O amor diário de cada
homem, tanto no passado quanto por todo o sempre:
Alegria universal,
tristeza universal, vida universal,
As memórias de todos
os amores fundindo-se a este nosso único amor –
As canções de todos
os poetas do passado e de todo o sempre.
Referência:
TAGORE, Rabindranath. Unending Love. In: __________. Selected poems of Rabindranath Tagore. Translated from Bengali to English by William Radice. Reprinted with a new Preface, Further Reading and corrections. New York, NY; London, EN: Penguin Books, 2005. p. 49. (‘Penguin Classics’)
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