Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Dylan Thomas - Sem trabalhar com as palavras

Thomas retrata nesta série de tercetos a luta que empreende para encontrar a sua voz mais autêntica e moldar, por meio de palavras, os pensamentos a ela associados, num processo criativo que se mostra repleto de dificuldades e de autoexame, tornando o próprio poema uma espécie de testemunho de vida do artista, de seus sentimentos de inadequação e da busca por prestimosos filões de inspiração.

 

Por trás desse bloqueio criativo que já se prolonga por três meses, a tornar debalde todo o labor literário do poeta, pululam as demandas materiais da vida, avultando as sensações de opressão e de frustração, tanto mais importunantes em razão de que se sente na obrigação de ter que retribuir os dons generosos de que o mundo o dotou.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dylan Thomas

(1914-1953)

 

On no work if words

 

On no work of words now for three lean months

in the bloody

Belly of the rich year and the big purse of my body

I bitterly take to task my poverty and craft:

 

To take to give is all, return what is hungrily given

Puffing the pounds of manna up through the dew to heaven,

The lovely gift of the gab bangs back on a blind shaft.

 

To lift to leave from the treasures of man is pleasing death

That will rake at last all currencies of the marked breath

And count the taken, forsaken mysteries in a bad dark.

 

To surrender now is to pay the expensive ogre twice.

Ancient woods of my blood, dash down to the nut of the seas

If I take to burn or return this world which is each man’s work.

 

In: “The Map of Love” (1939)

 

Autorretrato de colete

com cotovelo direito levantado

(Egon Schiele: pintor austríaco)

 

Sem trabalhar com as palavras

 

Sem trabalhar com as palavras por três meses estéreis

nas sangrentas

Vísceras do ano opulento e na grande bolsa de meu corpo,

Censuro amargamente minha pobreza e meu ofício:

 

Tomar, dar, eis tudo, devolver o que se dá com fome,

Soprando para o céu as libras do maná através do orvalho,

O gracioso dom da conversa ricocheteia numa lança.

 

Elevar-se, afastar-se das riquezas humanas e gostar da morte

Que varrerá todas as moedas do alento marcado

E calculará os mistérios furtados e atraiçoados

numa escuridão maligna.

 

Render-se agora é pagar em dobro a esse ogre perdulário.

Antigos bosques de meu sangue, arroja-os à amêndoa

dos mares

Se eu me puser a queimar ou a restituir este mundo que é obra

de todos os homens.

 

Em: “O Mapa do Amor” (1939)

 

Referências:

 

Em Inglês

 

THOMAS, Dylan. On no work if words. In: __________. Collected poems: 1934-1953. 1st publ., 12th reprint. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may. 1959. p. 94.

 

Em Português

 

THOMAS, Dylan. Sem trabalhar com as palavras. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 72.

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