Thomas retrata nesta
série de tercetos a luta que empreende para encontrar a sua voz mais autêntica
e moldar, por meio de palavras, os pensamentos a ela associados, num processo
criativo que se mostra repleto de dificuldades e de autoexame, tornando o próprio
poema uma espécie de testemunho de vida do artista, de seus sentimentos de
inadequação e da busca por prestimosos filões de inspiração.
Por trás desse bloqueio
criativo que já se prolonga por três meses, a tornar debalde todo o labor
literário do poeta, pululam as demandas materiais da vida, avultando as sensações
de opressão e de frustração, tanto mais importunantes em razão de que se sente
na obrigação de ter que retribuir os dons generosos de que o mundo o dotou.
J.A.R. – H.C.
Dylan Thomas
(1914-1953)
On no work if words
On no work of words
now for three lean months
in the bloody
Belly of the rich
year and the big purse of my body
I bitterly take to
task my poverty and craft:
To take to give is
all, return what is hungrily given
Puffing the pounds of
manna up through the dew to heaven,
The lovely gift of
the gab bangs back on a blind shaft.
To lift to leave from
the treasures of man is pleasing death
That will rake at
last all currencies of the marked breath
And count the taken,
forsaken mysteries in a bad dark.
To surrender now is
to pay the expensive ogre twice.
Ancient woods of my
blood, dash down to the nut of the seas
If I take to burn or
return this world which is each man’s work.
In: “The Map of Love”
(1939)
Autorretrato de colete
com cotovelo direito
levantado
(Egon Schiele: pintor
austríaco)
Sem trabalhar com as
palavras
Sem trabalhar com as palavras
por três meses estéreis
nas sangrentas
Vísceras do ano
opulento e na grande bolsa de meu corpo,
Censuro amargamente
minha pobreza e meu ofício:
Tomar, dar, eis tudo,
devolver o que se dá com fome,
Soprando para o céu
as libras do maná através do orvalho,
O gracioso dom da
conversa ricocheteia numa lança.
Elevar-se, afastar-se
das riquezas humanas e gostar da morte
Que varrerá todas as
moedas do alento marcado
E calculará os
mistérios furtados e atraiçoados
numa escuridão
maligna.
Render-se agora é
pagar em dobro a esse ogre perdulário.
Antigos bosques de
meu sangue, arroja-os à amêndoa
dos mares
Se eu me puser a
queimar ou a restituir este mundo que é obra
de todos os homens.
Em: “O Mapa do Amor”
(1939)
Referências:
Em Inglês
THOMAS, Dylan. On no
work if words. In: __________. Collected poems: 1934-1953. 1st publ.,
12th reprint. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may. 1959. p. 94.
Em Português
THOMAS, Dylan. Sem
trabalhar com as palavras. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas
reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph Maud.
Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991.
p. 72.
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