As palavras de Roethke
nas estâncias deste poema contribuem para a apreensão de uma imagem complexa e ambígua
da relação entre o falante – digamos, o próprio poeta – e o seu pai, pois que
descreve uma cena de dança entre ambos permeada por elementos de brusquidão e
desalinho, tumultuosa para a criança até mesmo no âmbito emocional, motivo por
que, ao leitor, transmite a ideia de uma experiência não completamente feliz ou
confortável.
Sob essa atmosfera de
tensão, dor e medo, o poema acaba por refletir laços familiares atribulados,
onde coexistem amor e mágoa, além de traços de alcoolismo e de possível intimidação
física paterna, a exporem o menino a potenciais perigos, mesmo a despeito de o
pai levá-lo para a cama, haja vista que se, por um lado, tal componente da rotina
explicita um substrato atenuante e alentador, por outro, o “agarrar-se à camisa”
do pai até o fim revela um sofrimento implícito e um profundo estado de dependência
constrita.
J.A.R. – H.C.
Theodore Roethke
(1908-1963)
The whiskey on your breath
Could make a small boy dizzy;
But I hung on like death:
Such waltzing was not easy.
We romped until the pans
Slid from the kitchen shelf;
My mother’s countenance
Could not unfrown itself.
The hand that held my wrist
Was battered on one knuckle;
At every step you missed
My right ear scraped a buckle.
You beat time on my head
With a palm caked hard by dirt,
Then waltzed me off to bed
Still clinging to your shirt.
In: “The lost son and
other poems” (1948)
Pai e filho dançando
(Brian Kershisnik:
pintor norte-americano)
A Valsa do Meu Pai
O whisky em teu
hálito
Podia deixar tonto um
menino;
Mas me agarrei a ti
como se à morte:
Aquela valsa não era
fácil.
Divertimo-nos até que
as panelas
Deslizassem da
prateleira da cozinha;
O semblante de minha
mãe
Não se permitia
desfazer do cenho.
A mão que me segurava
o pulso
Tinha uma lesão no nó
de um dos dedos;
A cada passo que
davas em falso
Uma fivela me
arranhava a orelha direita.
Marcavas o ritmo
sobre a minha cabeça
Com a palma da mão curtida
pela sujeira;
Então, valsando,
levavas-me à cama,
Eu ainda agarrado à
tua camisa.
Em: “O filho perdido
e outros poemas” (1948)
Referência:
ROETHKE, Theodore. My papa’s waltz. In: __________. The collected poems of Theodore Roethke. New York, NY: Anchor Books, 1991. p. 43.
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