Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 10 de agosto de 2025

Theodore Roethke - A Valsa de Meu Pai

As palavras de Roethke nas estâncias deste poema contribuem para a apreensão de uma imagem complexa e ambígua da relação entre o falante – digamos, o próprio poeta – e o seu pai, pois que descreve uma cena de dança entre ambos permeada por elementos de brusquidão e desalinho, tumultuosa para a criança até mesmo no âmbito emocional, motivo por que, ao leitor, transmite a ideia de uma experiência não completamente feliz ou confortável.

 

Sob essa atmosfera de tensão, dor e medo, o poema acaba por refletir laços familiares atribulados, onde coexistem amor e mágoa, além de traços de alcoolismo e de possível intimidação física paterna, a exporem o menino a potenciais perigos, mesmo a despeito de o pai levá-lo para a cama, haja vista que se, por um lado, tal componente da rotina explicita um substrato atenuante e alentador, por outro, o “agarrar-se à camisa” do pai até o fim revela um sofrimento implícito e um profundo estado de dependência constrita.

 

J.A.R. – H.C.

 

Theodore Roethke

(1908-1963)

 

My Papa’s Waltz

 

The whiskey on your breath

Could make a small boy dizzy;

But I hung on like death:

Such waltzing was not easy.

 

We romped until the pans

Slid from the kitchen shelf;

My mother’s countenance

Could not unfrown itself.

 

The hand that held my wrist

Was battered on one knuckle;

At every step you missed

My right ear scraped a buckle.

 

You beat time on my head

With a palm caked hard by dirt,

Then waltzed me off to bed

Still clinging to your shirt.

 

In: “The lost son and other poems” (1948)

 

Pai e filho dançando

(Brian Kershisnik: pintor norte-americano)

 

A Valsa do Meu Pai

 

O whisky em teu hálito

Podia deixar tonto um menino;

Mas me agarrei a ti como se à morte:

Aquela valsa não era fácil.

 

Divertimo-nos até que as panelas

Deslizassem da prateleira da cozinha;

O semblante de minha mãe

Não se permitia desfazer do cenho.

 

A mão que me segurava o pulso

Tinha uma lesão no nó de um dos dedos;

A cada passo que davas em falso

Uma fivela me arranhava a orelha direita.

 

Marcavas o ritmo sobre a minha cabeça

Com a palma da mão curtida pela sujeira;

Então, valsando, levavas-me à cama,

Eu ainda agarrado à tua camisa.

 

Em: “O filho perdido e outros poemas” (1948)

 

Referência:

 

ROETHKE, Theodore. My papa’s waltz. In: __________. The collected poems of Theodore Roethke. New York, NY: Anchor Books, 1991. p. 43.

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