Em linha com a orientadora
dedicatória ao renomado escritor argentino e sua obra – em grande parte voltada
a temas filosóficos e existenciais –, o poeta mexicano incursiona por um cenário
quase idílico, onde a natureza e a cultura se entrelaçam num ciclo de eterno
retorno, no qual a vida surge da morte, convalidando a ideia de que a criação consiste
num ato contínuo, sempiterno.
Imersos nesse contexto,
aqui estamos, sob a tutela corrupta e indiferente das estruturas de poder e de dominação,
insensíveis aos processos de regeneração desse jardim, pois que valorizadores tão
apenas do que seja produtivo e utilitário para a nossa sociedade de consumo.
Perceba o leitor que
o falante, além de mencionar Ernesto Sábato (1911-2011), nomeia ainda os poetas
Emily Dickinson (1830-1886) e Eugenio Montale (1896-1981), com o objetivo de enaltecer
o poder da palavra para dar sentido ao mundo e conectar as pessoas através do
tempo e do espaço, estabelecendo um diálogo intertextual que, em última
instância, integra o poema a uma tradição literária vocacionada a explorar os
temas albergados nos infratranscritos versos – reiteremos, cingidos à beleza da natureza
e dos seus ciclos, incontestes balizadores para a finita experiência individual que temos sobre a terra.
J.A.R. – H.C.
Jorge Lobillo
(n. 1943)
Las migajas y los
pájaros
A Ernesto Sábato
En el centro del
mundo firmado por el agua
el crujir – fijo,
vaporoso – de las cigarras
y galanterías, aquí
llamadas “quiebraplatos”;
entre la bruma solar
que apenas se perfila
declaran los pájaros
un vivo estuario de pan.
¿Quién, en ese hecho,
comparte la recompensa?
¿Importa al cacique
la resurrección del jardín?
Después – sin coerción
ni tributos –, ellos retoman,
frondosos, el ciclo
convenido a su vuelo.
Un acto creador
aprobado devotamente
por Emily Dickinson y aun Eugenio Montale
que negocia robusto
con fragmentos humanos,
en este tiempo único
de héroes y tumbas.
Y sirve nada más para
libertar la culpa
y suscribir
tiernamente el papel de la vida.
Pássaros e migalhas
douradas
(Sophie
Colmer-Stocker: artista inglesa)
As migalhas e os
pássaros
A Ernesto Sábato
No centro do mundo
marcado pela água
o chiado – fixo, vaporoso
– das cigarras
e galanteios, aqui
chamados “quiebraplatos”;
entre a bruma solar
que apenas se perfila
os pássaros declaram
um vivo estuário de pão.
Quem, nesse feito,
reparte a recompensa?
Importa ao cacique a
ressurreição do jardim?
Depois – sem coerção
nem tributos – eles retomam,
frondosos, o céu
conveniente a seu voo.
Um ato criador
aprovado devotamente
por Emily Dickinson e
até Eugenio Montale
que negocia robusto
com fragmentos humanos,
nesse tempo único de
tumbas e heróis.
E serve tão somente
para livrar de culpa
e subscrever
ternamente o papel da vida.
Referência:
LOBILLO, Jorge. As migalhas e os pássaros / Las migajas y los pájaros. Tradução de Izacyl Guimarães Ferreira. Revista Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. Fase IV, Jul-Ago-Set.2008, Ano XIV, n. 56. Em espanhol: p. 319; em português: p. 318. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 ago. 2025.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário