Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Jorge Lobillo - As migalhas e os pássaros

Em linha com a orientadora dedicatória ao renomado escritor argentino e sua obra – em grande parte voltada a temas filosóficos e existenciais –, o poeta mexicano incursiona por um cenário quase idílico, onde a natureza e a cultura se entrelaçam num ciclo de eterno retorno, no qual a vida surge da morte, convalidando a ideia de que a criação consiste num ato contínuo, sempiterno.

 

Imersos nesse contexto, aqui estamos, sob a tutela corrupta e indiferente das estruturas de poder e de dominação, insensíveis aos processos de regeneração desse jardim, pois que valorizadores tão apenas do que seja produtivo e utilitário para a nossa sociedade de consumo.

 

Perceba o leitor que o falante, além de mencionar Ernesto Sábato (1911-2011), nomeia ainda os poetas Emily Dickinson (1830-1886) e Eugenio Montale (1896-1981), com o objetivo de enaltecer o poder da palavra para dar sentido ao mundo e conectar as pessoas através do tempo e do espaço, estabelecendo um diálogo intertextual que, em última instância, integra o poema a uma tradição literária vocacionada a explorar os temas albergados nos infratranscritos versos – reiteremos, cingidos à beleza da natureza e dos seus ciclos, incontestes balizadores para a finita experiência individual que temos sobre a terra.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jorge Lobillo

(n. 1943)

 

Las migajas y los pájaros

 

A Ernesto Sábato

 

En el centro del mundo firmado por el agua

el crujir – fijo, vaporoso – de las cigarras

y galanterías, aquí llamadas “quiebraplatos”;

entre la bruma solar que apenas se perfila

declaran los pájaros un vivo estuario de pan.

¿Quién, en ese hecho, comparte la recompensa?

¿Importa al cacique la resurrección del jardín?

Después – sin coerción ni tributos –, ellos retoman,

frondosos, el ciclo convenido a su vuelo.

Un acto creador aprobado devotamente

por Emily Dickinson y aun Eugenio Montale

que negocia robusto con fragmentos humanos,

en este tiempo único de héroes y tumbas.

 

Y sirve nada más para libertar la culpa

y suscribir tiernamente el papel de la vida.

 

Pássaros e migalhas douradas

(Sophie Colmer-Stocker: artista inglesa)

 

As migalhas e os pássaros

 

A Ernesto Sábato

 

No centro do mundo marcado pela água

o chiado – fixo, vaporoso – das cigarras

e galanteios, aqui chamados “quiebraplatos”;

entre a bruma solar que apenas se perfila

os pássaros declaram um vivo estuário de pão.

Quem, nesse feito, reparte a recompensa?

Importa ao cacique a ressurreição do jardim?

Depois – sem coerção nem tributos – eles retomam,

frondosos, o céu conveniente a seu voo.

Um ato criador aprovado devotamente

por Emily Dickinson e até Eugenio Montale

que negocia robusto com fragmentos humanos,

nesse tempo único de tumbas e heróis.

 

E serve tão somente para livrar de culpa

e subscrever ternamente o papel da vida.

 

Referência:

 

LOBILLO, Jorge. As migalhas e os pássaros / Las migajas y los pájaros. Tradução de Izacyl Guimarães Ferreira. Revista Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. Fase IV, Jul-Ago-Set.2008, Ano XIV, n. 56. Em espanhol: p. 319; em português: p. 318. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 ago. 2025.

Nenhum comentário:

Postar um comentário