Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Johann Wolfgang von Goethe - Canto Copta

Goethe invoca o mago Merlin para nos fazer ver que não deveríamos perder tempo tentando mudar ou reformar os tolos, senão aceitá-los como são, tratando-os em conformidade com os seus dislates, pois que seria ilusão deles esperar alguma melhora.

 

O falante afirma ter escutado tal “palavra sagrada” tanto nas “alturas abruptas da Índia”, quanto nas “criptas profundas do Egito”, conjunção a sugerir ao leitor a ideia de que se trata de uma sabedoria universal, digo melhor, capaz de transcender as fronteiras geográficas e culturais, alçando-se a um plano quase místico e intemporal.

 

Veja-se que o título atribuído por Goethe ao poema alude ao contexto ancestral da civilização egípcia e da tradição cultural copta, atrelada a um grupo étnico nativo do Egito que abraçou o cristianismo nos primeiros séculos desta era, o que poderia ser tomado como um reparo do polímata alemão à racionalidade excessiva, contrapondo a esta uma fonte de sabedoria mais em linha com as nossas intuições.

 

J.A.R. – H.C.

 

Johann W. von Goethe

(1749-1832)

Retratado por Georg Melchior Kraus

 

Kophtisches Lied

 

Laßet Gelehrte sich zanken und streiten,

Streng und bedächtig die Lehrer auch sein!

Alle die Weisesten aller der Zeiten

Lächeln und winken und stimmen mit ein:

“Töricht, auf Beßrung der Toren zu harren!

Kinder der Klugheit, o habet die Narren

Eben zum Narren auch, wie sich’s gehört!”

 

Merlin der Alte, im leuchtenden Grabe,

Wo ich als Jüngling gesprochen ihn habe,

Hat mich mit ähnlicher Antwort belehrt:

“Töricht, auf Beßrung der Toren zu harren!

Kinder der Klugheit, o habet die Narren

Eben zum Narren auch, wie sich’s gehört!”

 

Und auf den Höhen der indischen Lüfte

Und in den Tiefen ägyptischer Grüfte

Hab ich das heilige Wort nur gehört:

“Töricht, auf Beßrung der Toren zu harren!

Kinder der Klugheit, o habet die Narren

Eben zum Narren auch, wie sich’s gehört!”

 

1787

 

A lição de banjo

(Henry Ossawa Tanner: pintor afro-americano)

 

Canto Copta

 

Deixai que eruditos disputem e clamem,

Que austeros mestres doutrinem e falem;

A mais sábia gente de todas as eras

Sorri e confirma o que vos declaro:

Nunca esperar que insensatos se emendem;

Eleitos do espírito, ó, tende os dementes,

Como dementes que são, e nada mais!

 

Merlino, o mago, na gruta radiosa,

Que enlevado eu ouvia, quando moço, falar,

Idêntico preceito timbrava a ensinar:

Nunca esperar que insensatos se emendem;

Eleitos do espírito, ó, tende os dementes,

Como dementes que são, e nada mais!

 

Lá nas alturas abruptas da Índia,

Bem como nas criptas profundas do Egito,

O verbo sagrado ouvi proclamar:

Nunca esperar que insensatos se emendem;

Eleitos do espírito, ó, tende os dementes,

Como dementes que são, e nada mais!

 

1787

 

Referências:

 

Em Alemão

 

GOETHE, Johann Wolfgang von. Kophtisches Lied. In: __________. Goethe’s werke. Vollständige ausgabe: erster band. Stuttgart & Tübingen, DE: J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1827. s. 132.

 

Em Português

 

GOETHE, Johann Wolfgang von. Canto Copta. Tradução de Pedro de Almeida Moura. In: __________. Goethe: poesias escolhidas. 2. ed. Apresentação Samuel Pfromm Netto (org.). Campinas, SP: Editora Átomo; Edições PNA, 2005. p. 68. (Série ‘Raízes Clássicas’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário