Goethe invoca o mago
Merlin para nos fazer ver que não deveríamos perder tempo tentando mudar ou
reformar os tolos, senão aceitá-los como são, tratando-os em conformidade com os
seus dislates, pois que seria ilusão deles esperar alguma melhora.
O falante afirma ter escutado
tal “palavra sagrada” tanto nas “alturas abruptas da Índia”, quanto nas “criptas
profundas do Egito”, conjunção a sugerir ao leitor a ideia de que se trata de
uma sabedoria universal, digo melhor, capaz de transcender as fronteiras geográficas
e culturais, alçando-se a um plano quase místico e intemporal.
Veja-se que o título atribuído
por Goethe ao poema alude ao contexto ancestral da civilização egípcia e da
tradição cultural copta, atrelada a um grupo étnico nativo do Egito que abraçou
o cristianismo nos primeiros séculos desta era, o que poderia ser tomado como
um reparo do polímata alemão à racionalidade excessiva, contrapondo a esta uma
fonte de sabedoria mais em linha com as nossas intuições.
J.A.R. – H.C.
Johann W. von Goethe
(1749-1832)
Retratado por Georg Melchior
Kraus
Kophtisches Lied
Laßet Gelehrte sich
zanken und streiten,
Streng und bedächtig
die Lehrer auch sein!
Alle die Weisesten
aller der Zeiten
Lächeln und winken
und stimmen mit ein:
“Töricht, auf Beßrung
der Toren zu harren!
Kinder der Klugheit,
o habet die Narren
Eben zum Narren auch,
wie sich’s gehört!”
Merlin der Alte, im leuchtenden
Grabe,
Wo ich als Jüngling
gesprochen ihn habe,
Hat mich mit
ähnlicher Antwort belehrt:
“Töricht, auf Beßrung
der Toren zu harren!
Kinder der Klugheit,
o habet die Narren
Eben zum Narren auch,
wie sich’s gehört!”
Und auf den Höhen der
indischen Lüfte
Und in den Tiefen
ägyptischer Grüfte
Hab ich das heilige
Wort nur gehört:
“Töricht, auf Beßrung
der Toren zu harren!
Kinder der Klugheit,
o habet die Narren
Eben zum Narren auch,
wie sich’s gehört!”
1787
A lição de banjo
(Henry Ossawa Tanner:
pintor afro-americano)
Canto Copta
Deixai que eruditos
disputem e clamem,
Que austeros mestres
doutrinem e falem;
A mais sábia gente de
todas as eras
Sorri e confirma o
que vos declaro:
Nunca esperar que
insensatos se emendem;
Eleitos do espírito,
ó, tende os dementes,
Como dementes que são,
e nada mais!
Merlino, o mago, na
gruta radiosa,
Que enlevado eu
ouvia, quando moço, falar,
Idêntico preceito
timbrava a ensinar:
Nunca esperar que
insensatos se emendem;
Eleitos do espírito,
ó, tende os dementes,
Como dementes que
são, e nada mais!
Lá nas alturas
abruptas da Índia,
Bem como nas criptas
profundas do Egito,
O verbo sagrado ouvi
proclamar:
Nunca esperar que
insensatos se emendem;
Eleitos do espírito,
ó, tende os dementes,
Como dementes que
são, e nada mais!
1787
Referências:
Em Alemão
GOETHE, Johann
Wolfgang von. Kophtisches Lied. In: __________. Goethe’s werke. Vollständige
ausgabe: erster band. Stuttgart & Tübingen, DE: J. G. Cotta’schen
Buchhandlung, 1827. s. 132.
Em Português
GOETHE, Johann Wolfgang von. Canto Copta. Tradução de Pedro de Almeida Moura. In: __________. Goethe: poesias escolhidas. 2. ed. Apresentação Samuel Pfromm Netto (org.). Campinas, SP: Editora Átomo; Edições PNA, 2005. p. 68. (Série ‘Raízes Clássicas’)
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário