Cyrino Júnior (C.J.) nos
contrapõe uma reflexão intertextual ao famoso poema “Autopsicografia”, de Fernando
Pessoa – a começar pelo jogo de palavras do título, “Alterpsicografia”, que obviamente
diz respeito a uma escrita sobre o outro, em vez de sobre si –, estabelecendo assim
um diálogo fecundo sobre os limites e as possibilidades da criação poética.
O autor amazonense
desafia a noção de fingimento levantada por Pessoa, uma vez que a autêntica poesia
lhe parece não poder ser de algum modo objeto de simulação, pois – como se
fosse uma condição ‘sine qua non’ para tanto – a sua verdade residiria na conexão
direta com a experiência e a genuína emoção.
C.J., de todo modo,
não deixa de reconhecer a genialidade do poeta português, ao criar outras
psiques ou vozes poéticas diferentes da sua própria voz, cujas dicções, em
última instância, logra ele transformar em algo estético e comunicável, levando-as
a um fastígio dentro de toda a literatura de língua portuguesa.
J.A.R. – H.C.
José Dantas Cyrino Júnior
(n. 1954)
Alterpsicografia
Ao poeta Fernando
Pessoa
Os poetas não podem
fingir
e se fingem, fazem à
toa,
quando têm que admitir
que o mais perfeito
poema
já foi feito por
outra Pessoa.
Feito tão
perfeitamente
como ninguém jamais o
faria,
sem revelar a dor dos
poetas,
revela segredos da
poesia.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
Referência:
CYRINO JÚNIOR, José
Dantas. Alterpsicografia. In: __________. Poesia. Manaus, AM: Valer,
2011. p. 23.
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