Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Santiago Vizcaíno - A tempestade

Medo, angústia, incerteza configuram a mescla de sentimentos trazidos à tona pelo poeta equatoriano, expondo ao leitor o estado de vulnerabilidade em que se encontra o sujeito lírico diante daquilo que configura o desconhecido, nas fronteiras da decadência física e, evidentemente, de sua própria mortalidade.

 

Poder-se-ia interpretar os versos a partir da existência de uma relação intersubjetiva entre facetas distintas do falante, uma dualidade interna ou um conflito em sua psique, no sentido de que este, pervagando pela “noite” – insofismável metáfora do inconsciente –, enfrenta uma parte de si mesmo que está “anquilosada” – paralisada ou imobilizada –, em razão do aludido medo, o que o torna refém da desesperança e incapaz de aceitar a morte com serenidade.

 

O fato de que a morte seja mencionada, sob tal contexto, como um “lugar-comum” poderia assinalar a presença de um ânimo propenso à resignação ou à aceitação dessa secessão interna, em cuja moldura uma parte do eu já sucumbiu ao arranjo noturnal da mente, enquanto a outra segue em luta para ver se acalma os efeitos da metafórica tempestade em que imersa, tanto mais infaustos quando acentuados pelas comoções despertadas pelo “clima externo”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Santiago Vizcaíno

(n. 1982)

 

La tempestad

 

Sobre la piel,

como la molestosa pata de un insecto,

se percibe el tímido anuncio del miedo.

Oigo que alguien acelera el movimiento de mi sangre,

escupo,

tengo tanto asco de la fluidez de mi médula.

 

Las luces

se columpian como los testículos de un viejo que baila sobre el pavimento.

No vale la pena ocuparse del aleteo que emerge de los músculos.

Hace falta escudriñar en lo que apenas palpita entre los dedos.

 

Las pupilas

se dilatan con la imposibilidad del gozo.

Queda el temblor del párpado como el frío del pichón.

 

Afuera,

solo la quietud anuncia la tempestad,

el aire que se cola y enturbia la respiración del otro.

 

Somos dos,

su voz se precipita como el chubasco de la mañana.

 

Ya decir la muerte es un lugar común,

pero él me mira anquilosado desde el otro lado de la noche.

 

A tempestade

(Nicole Labbe: artista eslovaca)

 

A tempestade

 

Sobre a pele,

como a irritante pata de um inseto,

se percebe o tímido anúncio do medo.

Ouço alguém a acelerar o movimento do meu sangue,

cuspo,

tenho tanto asco da fluidez da minha medula.

 

As luzes

volteiam como os testículos de um velho que dança sobre a calçada.

Não vale a pena lidar com a vibração que emerge dos músculos.

É preciso perscrutar o que mal palpita entre os dedos.

 

As pupilas

se dilatam com a impossibilidade do prazer.

Permanece o tremor da pálpebra como o tiritar da cria de uma pomba.

 

Lá fora,

só a quietude anuncia a tempestade,

o ar que rodopia e turva a respiração do outro.

 

Somos dois,

sua voz se precipita como a bátega matinal.

 

Dispunha-me a dizer que a morte é um lugar-comum,

mas ele me olha anquilosado do outro lado da noite.

 

Referência:

 

VIZCAÍNO, Santiago. La tempestad. In: MUSSÓ, Luis Carlos (Selección y notas). Sangre de spondylus: muestra de poesía ecuatoriana reciente. [Lima, PE]: Vallejo & Co., ene. 2016. p. 61-62. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 ago. 2025.

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