Medo, angústia,
incerteza configuram a mescla de sentimentos trazidos à tona pelo poeta
equatoriano, expondo ao leitor o estado de vulnerabilidade em que se encontra o
sujeito lírico diante daquilo que configura o desconhecido, nas fronteiras da
decadência física e, evidentemente, de sua própria mortalidade.
Poder-se-ia interpretar
os versos a partir da existência de uma relação intersubjetiva entre facetas distintas
do falante, uma dualidade interna ou um conflito em sua psique, no sentido de
que este, pervagando pela “noite” – insofismável metáfora do inconsciente –, enfrenta
uma parte de si mesmo que está “anquilosada” – paralisada ou imobilizada –, em razão
do aludido medo, o que o torna refém da desesperança e incapaz de aceitar a morte
com serenidade.
O fato de que a morte
seja mencionada, sob tal contexto, como um “lugar-comum” poderia assinalar a
presença de um ânimo propenso à resignação ou à aceitação dessa secessão
interna, em cuja moldura uma parte do eu já sucumbiu ao arranjo noturnal da
mente, enquanto a outra segue em luta para ver se acalma os efeitos da
metafórica tempestade em que imersa, tanto mais infaustos quando acentuados
pelas comoções despertadas pelo “clima externo”.
J.A.R. – H.C.
(n. 1982)
Sobre la piel,
como la molestosa pata de un insecto,
se percibe el tímido anuncio del miedo.
Oigo que alguien acelera el movimiento de mi
sangre,
escupo,
tengo tanto asco de la fluidez de mi médula.
Las luces
se columpian como los testículos de un viejo que
baila sobre el pavimento.
No vale la pena ocuparse del aleteo que emerge de
los músculos.
Hace falta escudriñar en lo que apenas palpita
entre los dedos.
Las pupilas
se dilatan con la imposibilidad del gozo.
Queda el temblor del párpado como el frío del
pichón.
Afuera,
solo la quietud anuncia la tempestad,
el aire que se cola y enturbia la respiración del
otro.
Somos dos,
su voz se precipita como el chubasco de la mañana.
Ya decir la muerte es un lugar común,
pero él me mira anquilosado desde el otro lado de
la noche.
A tempestade
(Nicole Labbe:
artista eslovaca)
A tempestade
Sobre a pele,
como a irritante pata
de um inseto,
se percebe o tímido
anúncio do medo.
Ouço alguém a
acelerar o movimento do meu sangue,
cuspo,
tenho tanto asco da
fluidez da minha medula.
As luzes
volteiam como os
testículos de um velho que dança sobre a calçada.
Não vale a pena lidar
com a vibração que emerge dos músculos.
É preciso perscrutar
o que mal palpita entre os dedos.
As pupilas
se dilatam com a
impossibilidade do prazer.
Permanece o tremor da
pálpebra como o tiritar da cria de uma pomba.
Lá fora,
só a quietude anuncia
a tempestade,
o ar que rodopia e
turva a respiração do outro.
Somos dois,
sua voz se precipita
como a bátega matinal.
Dispunha-me a dizer
que a morte é um lugar-comum,
mas ele me olha
anquilosado do outro lado da noite.
Referência:
VIZCAÍNO, Santiago.
La tempestad. In: MUSSÓ, Luis Carlos (Selección y notas). Sangre de
spondylus: muestra de poesía ecuatoriana reciente. [Lima, PE]: Vallejo
& Co., ene. 2016. p. 61-62. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 ago. 2025.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário