Nesta ode dedicada aos
esplendores do sol, a poetisa austríaca tece loas à estrela central do nosso
sistema sideral, exaltando a sua beleza bem acima das de outros corpos celestes
– como as da lua, dos cometas ou de outras estrelas –, tanto mais em razão,
claro está, da sua importância vital para a manutenção da vida sobre a terra –
a dos humanos, inclusive –, estatuindo-se, por conseguinte, como soberana metáfora
para a esperança, o enlevo e o comprazimento.
Sem o sol, enfatiza
Bachmann, até a arte perderia o seu brilho – mesmo porque ele serve como mote
para altos-relevos, pinturas e outras numerosas manifestações plásticas, a exemplo
de diversas telas de Van Gogh –, bem assim muito do que, sob a sua luz, se nos
apresenta radiante e vivificante aos olhos, como os pássaros, a imensidão do
mar, os veleiros sobre as águas, os peixes coloridos em um cardume, todas as belas
paisagens encontráveis em nosso planeta.
J.A.R. – H.C.
Ingeborg Bachmann
(1926-1973)
An die Sonne
Schöner als der
beachtliche Mond und sein geadeltes Licht,
Schöner als die
Sterne, die berühmten Orden der Nacht,
Viel schöner als der
feurige Auftritt eines Kometen
Und zu weit Schönerem
berufen als jedes andre Gestirn,
Weil dein und mein
Leben jeden Tag an ihr hängt, ist die Sonne.
Schöne Sonne, die
aufgeht, ihr Werk nicht vergessen hat
Und beendet, am
schönsten im Sommer, wenn ein Tag
An den Küsten
verdampft und ohne Kraft gespiegelt die Segel
Über dein Aug ziehn,
bis du müde wirst und das letzte verkürzt.
Ohne die Sonne nimmt
auch die Kunst wieder den Schleier,
Du erscheinst mir
nicht mehr, und die See und der Sand,
Von Schatten
gepeitscht, fliehen unter mein Lid.
Schönes Licht, das
uns warm hält, bewahrt und wunderbar sorgt,
Dass ich wieder sehe
und dass ich dich wiederseh!
Nichts Schönres unter
der Sonne als unter der Sonne zu sein...
Nichts Schönres als
den Stab im Wasser zu sehn und den Vogel oben,
Der seinen Flug
überlegt, und unten die Fische im Schwarm,
Gefärbt, geformt, in
die Welt gekommen mit einer Sendung von Licht,
Und den Umkreis zu
sehn, das Geviert eines Felds, das Tausendeck
meines Lands
Und das Kleid, das du
angetan hast. Und dein Kleid, glockig und blau!
Schönes Blau, in dem
die Pfauen spazieren und sich verneigen,
Blau der Fernen, der
Zonen des Glücks mit den Wettern für mein Gefühl,
Blauer Zufall am
Horizont! Und meine begeisterten Augen
Weiten sich wieder
und blinken und brennen sich wund.
Schöne Sonne, der vom
Staub noch die größte Bewundrung gebührt,
Drum werde ich nicht
wegen dem Mond und den Sternen und nicht,
Weil die Nacht mit
Kometen prahlt und in mir einen Narren sucht,
Sondern deinetwegen
und bald endlos und wie um nichts sonst
Klage führen über den
unabwendbaren Verlust meiner Augen.
O Sol
(Edvard Munch: pintor
norueguês)
Ao Sol
Mais belo que a
notável lua e sua nobre luz,
Mais belo que as estrelas,
as insígnias célebres da noite,
Muito mais belo que a
irrupção em chamas de um cometa
E eleito para algo
mais belo que outro astro qualquer,
Pois minha e tua vida
a ele estão ligadas dia a dia, é o sol.
Belo sol que, ao se
erguer, não esqueceu suas tarefas
E as cumpre ainda com
mais beleza no verão quando, na costa,
Um dia se evapora e,
refletidas sem esforço, as velas passam
Pelo teu olho até que
te fatigues e abrevies a derradeira.
Sem o sol mesmo a
arte volta a pôr o véu,
Não me apareces mais
e, vergastados pelas sombras,
Areia e mar
abrigam-se sob minha pálpebra.
Bela luz que nos dá
calor, nos guarda e propicia esse prodígio
Que é novamente ver e
te rever.
Não mais belo sob o
sol do que estar sob o sol...
Nada mais belo do que
ver a haste na água e, rio alto, o pássaro
Ponderando seu voo e,
embaixo, os peixes em cardumes
De muitas cores,
multiformes e trazidos num jato de luz ao mundo,
Ver a circunferência,
o quadrilátero de um campo, ângulos mil do meu país
E o vestido que
vestes. Teu vestido azul em forma de campânula.
Tão belo azul no qual
pavões, passeando, fazem reverências,
Azul dos longes, de
regiões felizes que têm climas para meus humores,
Azulíssimo acaso no
horizonte. E, arrebatados, os meus olhos
Dilatam-se outra vez
e piscam e ardem doloridos.
Belo sol que merece a
ilimitada admiração do próprio pó,
Por isto e não devido
à lua ou às estrelas nem à noite
Que, procurando me
fazer de tola, ostenta seus cometas,
Mas sim por tua causa
e, em breve sem cessar, que em torno de mais nada,
Lamentarei a perda
inevitável dos meus olhos.
Referência:
BACHMANN, Ingeborg.
An die sonne / Ao sol. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Organização
e Tradução). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ:
Imago, 1998. Em alemão: p. 302 e 304; em português: p. 303 e 305.
❁