Numa cena costeira, na
qual as pessoas se congregam na praia para contemplar fixamente o mar, o poeta
apreende a eterna fascinação que as águas do pélago exercem sobre os humanos,
em sua vastidão, mistérios e incessante movimento, como se nelas buscássemos aclaramentos
aos segredos da natureza, ou mesmo, por suposição, escapar – ainda que por alguns
momentos – às nossas mais terrenais constrições.
As limitações no
olhar, quer de matiz físico quer metafórico, impedem-nos de obter todas as
respostas, mas o ato de observar e de refletir tem lá a sua importância
intrínseca para que possamos nos sentir partícipes desse vasto e incompreensível
mundo. Não olvidemos, aliás, que a mirada pouco vasta e profunda em relação às
coisas que nos são externas, também guarda algum paralelo com muito o que nos
diz respeito no âmbito psíquico, nem sempre muito bem deslindado.
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
Neither out far nor
in deep
The people along the
sand
All turn and look one
way.
They turn their back
on the land.
They look at the sea
all day.
As long as it takes
to pass
A ship keeps raising
its hull;
The wetter ground
like glass
Reflects a standing
gull.
The land may vary
more;
But wherever the
truth may be –
The water comes
ashore,
And the people look
at the sea.
They cannot look out
far.
They cannot look in
deep.
But when was that
ever a bar
To any watch they
keep?
Onde o rio encontra o
mar
(Ana Hanson: artista
australiana)
Nem distâncias, nem
profundezas
Todos, ao longo da
areia,
Olham para o mesmo
lado.
A terra esquecem,
alheios,
Os olhos no mar
pousados.
Como algo que se
repete,
A barca passa
cansada.
O chão úmido reflete
Uma gaivota parada.
A terra é talvez mais
vária,
Mas se a verdade
mudar.
A água procura a
praia
E eles procuram o
mar.
Profundezas não verão
Nem distâncias vão
sondar.
Mas acaso aceitarão
Qualquer limite no
olhar?
Referência:
FROST, Robert. Neither out far nor in deep / Nem distâncias, nem profundezas. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Jorge (Seleção, tradução e notas). Antologia da nova poesia norte-americana. Edição bilíngue: inglês x português. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1992. Em inglês: p. 74; em português: p. 75.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário