Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Robert Frost - Nem distâncias, nem profundezas

Numa cena costeira, na qual as pessoas se congregam na praia para contemplar fixamente o mar, o poeta apreende a eterna fascinação que as águas do pélago exercem sobre os humanos, em sua vastidão, mistérios e incessante movimento, como se nelas buscássemos aclaramentos aos segredos da natureza, ou mesmo, por suposição, escapar – ainda que por alguns momentos – às nossas mais terrenais constrições.

 

As limitações no olhar, quer de matiz físico quer metafórico, impedem-nos de obter todas as respostas, mas o ato de observar e de refletir tem lá a sua importância intrínseca para que possamos nos sentir partícipes desse vasto e incompreensível mundo. Não olvidemos, aliás, que a mirada pouco vasta e profunda em relação às coisas que nos são externas, também guarda algum paralelo com muito o que nos diz respeito no âmbito psíquico, nem sempre muito bem deslindado.

 

J.A.R. – H.C.

 

Robert Frost

(1874-1963)

 

Neither out far nor in deep

 

The people along the sand

All turn and look one way.

They turn their back on the land.

They look at the sea all day.

 

As long as it takes to pass

A ship keeps raising its hull;

The wetter ground like glass

Reflects a standing gull.

 

The land may vary more;

But wherever the truth may be –

The water comes ashore,

And the people look at the sea.

 

They cannot look out far.

They cannot look in deep.

But when was that ever a bar

To any watch they keep?

 

Onde o rio encontra o mar

(Ana Hanson: artista australiana)

 

Nem distâncias, nem profundezas

 

Todos, ao longo da areia,

Olham para o mesmo lado.

A terra esquecem, alheios,

Os olhos no mar pousados.

 

Como algo que se repete,

A barca passa cansada.

O chão úmido reflete

Uma gaivota parada.

 

A terra é talvez mais vária,

Mas se a verdade mudar.

A água procura a praia

E eles procuram o mar.

 

Profundezas não verão

Nem distâncias vão sondar.

Mas acaso aceitarão

Qualquer limite no olhar?

 

Referência:

 

FROST, Robert. Neither out far nor in deep / Nem distâncias, nem profundezas. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Jorge (Seleção, tradução e notas). Antologia da nova poesia norte-americana. Edição bilíngue: inglês x português. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1992. Em inglês: p. 74; em português: p. 75.

Nenhum comentário:

Postar um comentário