O poeta nos sugere
que o conhecimento do bem e do mal está arraigado em nossa própria existência
biológica, digo melhor, em nossas emoções e experiências primordiais – na
proximidade de um filho com a sua mãe, nos temores infantis do escuro, na
paixão juvenil: Miłosz postula que o bem está ligado à própria vida, enquanto o
mal está associado à destruição e aniquilação que o aguarda.
As manifestações de beleza,
a seus olhos, são como que sinais de um mistério eterno, a desafiar a lógica e
a razão, uma verdade que parece sempre estar prestes a ser revelada, num
momento de definitiva iluminação. Por isso, a beleza seria tão poderosa, contrastando
com a fragilidade do bem: o não-ser, o nada, estende-se ameaçadoramente ao ser,
adotando belas formas que simulam a existência, apenas para ocultar sua
fealdade intrínseca.
Assim, quando as crenças
das pessoas acerca do embate do bem contra o mal entram em franco declínio, somente
a beleza poderá convocá-las e salvá-las, permitindo-lhes discernir o verdadeiro
do falso, servindo-lhes de guia, em meio à incerteza moral, para mantê-las em
boa rota no tocante à orientação ética e estética que devem perfilhar com
relação às coisas deste mundo.
J.A.R. – H.C.
Czesław Miłosz
(1911-2004)
Poznanie dobra i zła
Poznanie dobra i zła
jest nam dane w samym biegu krwi.
W tuleniu się dziecka do matki, bo
w niej bezpieczeństwo i ciepło.
W strachach nocnych
kiedy byliśmy mali, w lęku przed kłami
zwierząt i ciemnym pokojem,
W młodzieńczych zakochaniach
kiedy spełnia się dziecinna lubość.
I czyż tak skromne początki obrócimy przeciwko idei?
Czy raczej powiemy, że dobro jest po
stronie żywych,
A zło po stronie
zagłady, która czyha, żeby nas pożreć?
Tak, dobro jest
spokrewnione z bytem, a lustrem zła jest niebyt.
I dobro jest jasność, zło, ciemność, dobro jest wysokość, zło, niskość
Wedle przyrody ciał
naszych, naszego języka.
Podobnie z pięknem. Istnieć nie ma prawa.
Nie tylko żadnej w nim racji ale
argument przeciw.
A jednak jest niewątpliwie i różni się od brzydoty.
Ten wrzask ptaków za
oknem kiedy witają ranek,
I na podłodze jarzą się pręgi, tęczujące, światła,
Albo horyzont z linią falistą u styku
brzoskwiniowego
nieba i
ciemnoniebieskich gór –
Czyż to nie było od wieków, tak jak jest dzisiaj, wzywane,
Niby tajemnica,
która, jeszcze chwila, a nagle się odsłoni,
I stary artysta myśli, że całe Zycie tylko wprawiał rękę,
Dzień więcej, a wejdzie w sam środek jak do wnętrza kwiatu.
I dobro jest słabe,
ale piękno silne.
Niebyt szerzy się i spopiela obszary
bytu
Strojąc się w barwy i kształty, które udają istnienie.
I nikt by go nie
rozpoznał, gdyby nie jego brzydota.
Kiedy ludzie przestaną wierzyć, że jest zło i jest dobro,
Tylko piękno przywoła ich do siebie i ocali.
Żeby umieli powiedzieć: to prawdziwe, a to nieprawdziwe.
O Bem e o Mal
(Andrej Vystropov:
pintor russo)
A ciência do bem e do
mal
A ciência do bem e do
mal é dada a nós no pulsar do sangue.
No aconchego do filho
junto ã mãe, porque nela há segurança e calor.
Nos pavores noturnos,
quando éramos pequenos, no medo
das presas dos
animais e do quarto escuro.
Nas paixões da juventude,
com suas delícias de criança.
E voltaremos inícios
tão modestos contra uma ideia?
Ou diremos, antes,
que o bem está do lado dos vivos
E o mal, do lado da
destruição, que espreita para nos devorar?
Sim, o bem é
aparentado com o ser e o não ser é espelho do mal.
E o bem é claridade,
o mal. escuridão, o bem é o alto, o mal, o baixo.
Conforme a natureza
dos nossos corpos, da nossa linguagem.
Assim como o belo.
Direito de existir, não possui.
Não apenas lhe falta
qualquer razão, mas há também argumento contra.
E no entanto existe,
indubitável, e se distingue do feio.
Esse vozerio dos
pássaros na janela quando saúdam a manhã
E flameja no chão,
iridescente, uma faixa de luz,
Ou o horizonte e sua
linha ondulada no encontro da cor de pêssego
do céu e do azul
escuro das montanhas –
Tudo isso não foi
invocado desde séculos, assim como hoje,
Como um segredo que,
num instante, de súbito há de se descobrir?
E o velho artista
pensa que a vida toda só treinou a mão,
Um dia mais e há de atingir
o cerne, como o íntimo da flor.
E o bem é fraco, mas
o belo, forte.
O não ser se alastra
e reduz a cinza os territórios do ser,
Vestindo-se de cores
e formas que arremedam a existência.
E ninguém o
reconheceria, não fosse sua feiura.
Quando as pessoas
deixarem de acreditar que existe o mal
e existe o bem,
Só o belo há de
chama-las a si e salvá-las.
Para que possam
dizer: isto é verdadeiro, isto, inverdade.
Referência:
MIŁOSZ, Czesław. Poznanie
dobra i zła / A ciência do bem e do mal. Tradução de Marcelo Paiva de Souza.
In: __________. Para isso fui chamado: poemas. Seleção tradução e
introdução de Marcelo Paiva de Souza. Edição bilíngue: polonês x português. 1.
ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2023. Em polonês: p. 176 e 178; em
português: p. 177 e 179.
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