Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 29 de abril de 2025

Czesław Miłosz - A ciência do bem e do mal

O poeta nos sugere que o conhecimento do bem e do mal está arraigado em nossa própria existência biológica, digo melhor, em nossas emoções e experiências primordiais – na proximidade de um filho com a sua mãe, nos temores infantis do escuro, na paixão juvenil: Miłosz postula que o bem está ligado à própria vida, enquanto o mal está associado à destruição e aniquilação que o aguarda.

 

As manifestações de beleza, a seus olhos, são como que sinais de um mistério eterno, a desafiar a lógica e a razão, uma verdade que parece sempre estar prestes a ser revelada, num momento de definitiva iluminação. Por isso, a beleza seria tão poderosa, contrastando com a fragilidade do bem: o não-ser, o nada, estende-se ameaçadoramente ao ser, adotando belas formas que simulam a existência, apenas para ocultar sua fealdade intrínseca.

 

Assim, quando as crenças das pessoas acerca do embate do bem contra o mal entram em franco declínio, somente a beleza poderá convocá-las e salvá-las, permitindo-lhes discernir o verdadeiro do falso, servindo-lhes de guia, em meio à incerteza moral, para mantê-las em boa rota no tocante à orientação ética e estética que devem perfilhar com relação às coisas deste mundo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Czesław Miłosz

(1911-2004)

 

Poznanie dobra i zła

 

Poznanie dobra i zła jest nam dane w samym biegu krwi.

W tuleniu się dziecka do matki, bo w niej bezpieczeństwo i ciepło.

W strachach nocnych kiedy byliśmy mali, w lęku przed kłami

zwierząt i ciemnym pokojem,

W młodzieńczych zakochaniach kiedy spełnia się dziecinna lubość.

 

I czyż tak skromne początki obrócimy przeciwko idei?

Czy raczej powiemy, że dobro jest po stronie żywych,

A zło po stronie zagłady, która czyha, żeby nas pożreć?

Tak, dobro jest spokrewnione z bytem, a lustrem zła jest niebyt.

I dobro jest jasność, zło, ciemność, dobro jest wysokość, zło, niskość

Wedle przyrody ciał naszych, naszego języka.

 

Podobnie z pięknem. Istnieć nie ma prawa.

Nie tylko żadnej w nim racji ale argument przeciw.

A jednak jest niewątpliwie i różni się od brzydoty.

 

Ten wrzask ptaków za oknem kiedy witają ranek,

I na podłodze jarzą się pręgi, tęczujące, światła,

Albo horyzont z linią falistą u styku brzoskwiniowego

nieba i ciemnoniebieskich gór –

Czyż to nie było od wieków, tak jak jest dzisiaj, wzywane,

Niby tajemnica, która, jeszcze chwila, a nagle się odsłoni,

I stary artysta myśli, że całe Zycie tylko wprawiał rękę,

Dzień więcej, a wejdzie w sam środek jak do wnętrza kwiatu.

 

I dobro jest słabe, ale piękno silne.

Niebyt szerzy się i spopiela obszary bytu

Strojąc się w barwy i kształty, które udają istnienie.

I nikt by go nie rozpoznał, gdyby nie jego brzydota.

 

Kiedy ludzie przestaną wierzyć, że jest zło i jest dobro,

Tylko piękno przywoła ich do siebie i ocali.

Żeby umieli powiedzieć: to prawdziwe, a to nieprawdziwe.

 

O Bem e o Mal

(Andrej Vystropov: pintor russo)

 

A ciência do bem e do mal

 

A ciência do bem e do mal é dada a nós no pulsar do sangue.

No aconchego do filho junto ã mãe, porque nela há segurança e calor.

Nos pavores noturnos, quando éramos pequenos, no medo

das presas dos animais e do quarto escuro.

Nas paixões da juventude, com suas delícias de criança.

 

E voltaremos inícios tão modestos contra uma ideia?

Ou diremos, antes, que o bem está do lado dos vivos

E o mal, do lado da destruição, que espreita para nos devorar?

Sim, o bem é aparentado com o ser e o não ser é espelho do mal.

E o bem é claridade, o mal. escuridão, o bem é o alto, o mal, o baixo.

Conforme a natureza dos nossos corpos, da nossa linguagem.

 

Assim como o belo. Direito de existir, não possui.

Não apenas lhe falta qualquer razão, mas há também argumento contra.

E no entanto existe, indubitável, e se distingue do feio.

 

Esse vozerio dos pássaros na janela quando saúdam a manhã

E flameja no chão, iridescente, uma faixa de luz,

Ou o horizonte e sua linha ondulada no encontro da cor de pêssego

do céu e do azul escuro das montanhas –

Tudo isso não foi invocado desde séculos, assim como hoje,

Como um segredo que, num instante, de súbito há de se descobrir?

E o velho artista pensa que a vida toda só treinou a mão,

Um dia mais e há de atingir o cerne, como o íntimo da flor.

 

E o bem é fraco, mas o belo, forte.

O não ser se alastra e reduz a cinza os territórios do ser,

Vestindo-se de cores e formas que arremedam a existência.

E ninguém o reconheceria, não fosse sua feiura.

 

Quando as pessoas deixarem de acreditar que existe o mal

e existe o bem,

Só o belo há de chama-las a si e salvá-las.

Para que possam dizer: isto é verdadeiro, isto, inverdade.

 

Referência:

 

MIŁOSZ, Czesław. Poznanie dobra i zła / A ciência do bem e do mal. Tradução de Marcelo Paiva de Souza. In: __________. Para isso fui chamado: poemas. Seleção tradução e introdução de Marcelo Paiva de Souza. Edição bilíngue: polonês x português. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2023. Em polonês: p. 176 e 178; em português: p. 177 e 179.

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