Este poema aparece
como preâmbulo ao ensaio homônimo sobre a riqueza, na obra de Emerson,
especificada no campo de referências mais abaixo: alude ele à conexão entre o
que costumamos chamar por riqueza – bem mais em linha com a ideia de abundância,
afluência ou prosperidade –, e o progresso desenvolvimentista, a partir das relações
entre a mente e a matéria, o passado e o presente e, notoriamente, o amplo domínio
do homem sobre o mundo natural.
Com efeito, a verdadeira
riqueza, aos olhos do autor, não se vincula restritamente à acumulação de bens
materiais, senão na harmonia entre a mente humana e o universo ao redor: somos
o engenho vivo que, desde tempos imemoriais, transforma o caos e a matéria-prima
em algo belo e útil, mas a quem cumpre, por isso mesmo, explorar de modo
responsável os recursos naturais, para tornar possível que a vida siga o seu orgânico curso sobre a Terra.
J.A.R. – H.C.
Ralph Waldo Emerson
(1803-1882)
Wealth
Who shall tell what
did befall,
Far away in time,
when once,
Over the lifeless
ball,
Hung idle stars and
suns?
What god the element
obeyed?
Wings of what wind
the lichen bore,
Wafting the puny
seeds of power,
Which, lodged in
rock, the rock abrade?
And well the primal
pioneer
Knew the strong task
to it assigned
Patient through
Heaven’s enormous year
To build in matter
home for mind.
From air the creeping
centuries drew
The matted thicket
low and wide,
This must the leaves
of ages strew
The granite slab to clothe
and hide,
Ere wheat can wave
its golden pride.
What smiths, and in
what furnace, rolled
(In dizzy æons dim
and mute
The reeling brain can
ill compute)
Copper and iron,
lead, and gold?
What oldest star the
fame can save
Of races perishing to
pave
The planet with a
floor of lime?
Dust is their pyramid
and mole:
Who saw what ferns
and palms were pressed
Under the tumbling
mountain’s breast,
In the safe herbal of
the coal?
But when the quarried
means were piled,
All is waste and
worthless, till
Arrives the wise
selecting will,
And, out of slime and
chaos, Wit
Draws the threads of
fair and fit.
Then temples rose,
and towns, and marts,
The shop of toil, the
hall of arts;
Then flew the sail
across the seas
To feed the North
from tropic trees;
The storm-wind wove,
the torrent span,
Where they were bid
the rivers ran;
New slaves fulfilled
the poet’s dream,
Galvanic wire,
strong-shouldered steam.
Then docks were
built, and crops were stored,
And ingots added to
the hoard.
But, though light-headed
man forget,
Remembering Matter
pays her debt:
Still, through her
motes and masses, draw
Electric thrills and
ties of Law,
Which bind the
strengths of Nature wild
To the conscience of
a child.
O Poder do Sol
(Paul Akiiki: artista
ugandês)
A Riqueza
Qual dos gênios nos
dirá o passado misterioso,
Os fatos de remotas
eras quando no céu imenso,
Em nosso mundo, de
flancos ainda rijos e estéreis,
Estrelas e sóis
inúteis resplendiam?
Que Deus subjugava
então os elementos?
Que sopro do espaço
ou que asa dos ventos
Levou o humilde
líquen para as rochas, cuja fenda
Cedeu ao esforço de
seu grão potente?
Pioneiro da era
primeira, soube vislumbrar
O labor hercúleo
entregue a seu poder,
E, paciente no rolar
dos anos, do céu em fogo,
Abriu na matéria uma
rota para a alma.
Por lentos séculos
surgiram as florestas
De cerradas copas, de
grande fronde espessa
Que deviam, tapetando
o rochedo de folhagem,
Vestir o granito dos
restos das idades,
Muito antes que
vaidoso ondeasse o áureo trigo.
Quem foram os vulcanos
que depois moldaram
(Pois na silente
idade, em que regia o prodígio,
O voo do pensar é
presa de vertigem)
Os metais já dóceis,
a prata, o ferro, o chumbo?
Que astro mais anoso
poderá saber o nome
Dos seres ignotos,
imperfeita raça ainda,
Que dos calces dos
despojos cimentou a terra?
O pó é sua tumba e seu
triste monumento.
Quem dirá que plantas
e que gigantescas palmas,
No profundo abismo,
que nenhum olhar penetra,
Foram esmagadas pelos
montes, transmudando em hulha?
Mas depois de entesourados
os bens todos,
Ali jaziam, perdidos,
em turbilhão mesclados,
Até que surge o
Espírito, a vontade sábia,
Para arrancar ao limo
um mundo à sua imagem.
Então se viu emergir
do caos sombrio,
O templo, a cidade, a
oficina de trabalho, o armazém;
Então a nave colossal
singrou o Atlântico
Para levar ao norte
as árvores do trópico;
Teceu o vento
poderoso, fiou a torrente rude,
A água seguiu os
caminhos que a arte lhe traçou;
E o vapor, a máquina
de força sempre pronta,
Obedeceu como escravo
ao sonho do poeta;
Construíram-se as
docas, onde as barras de metal,
Juntas aos fardos, rolaram
em milhões.
Mas, embora ao pronto
olvido se incline o homem,
A Matéria é fiel e
paga ainda sua dívida:
Trabalha sempre para
extrair do seio,
Massas, átomos, a
relação, a Lei,
Ligando em segredo,
por uma força obscura,
Ao espírito da
criança, a alma da Natura.
Referências:
Em Inglês
EMERSON, Ralph Waldo.
Wealth. In: __________. The complete works of Ralph Waldo Emerson.
Volume IX: Poems. With a biographical introduction and notes prepared by the
author. 5th print. Boston, MA & New York, NY: Houghton, Mifflin and Company
(The Riverside Press, Cambridge), 1904. p. 285-286.
Em Português
EMERSON, Ralph Waldo.
A riqueza. Tradução de C. M. Fonseca. In: __________. A conduta para a vida.
Tradução de C. M. Fonseca. São Paulo, SP: Martin Claret, 2000. p. 63-64.
(Coleção ‘A obra-prima de cada autor’; v. 120)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário