Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 8 de abril de 2025

Ralph Waldo Emerson - A Riqueza

Este poema aparece como preâmbulo ao ensaio homônimo sobre a riqueza, na obra de Emerson, especificada no campo de referências mais abaixo: alude ele à conexão entre o que costumamos chamar por riqueza – bem mais em linha com a ideia de abundância, afluência ou prosperidade –, e o progresso desenvolvimentista, a partir das relações entre a mente e a matéria, o passado e o presente e, notoriamente, o amplo domínio do homem sobre o mundo natural.

 

Com efeito, a verdadeira riqueza, aos olhos do autor, não se vincula restritamente à acumulação de bens materiais, senão na harmonia entre a mente humana e o universo ao redor: somos o engenho vivo que, desde tempos imemoriais, transforma o caos e a matéria-prima em algo belo e útil, mas a quem cumpre, por isso mesmo, explorar de modo responsável os recursos naturais, para tornar possível que a vida siga o seu orgânico curso sobre a Terra.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ralph Waldo Emerson

(1803-1882)

 

Wealth

 

Who shall tell what did befall,

Far away in time, when once,

Over the lifeless ball,

Hung idle stars and suns?

What god the element obeyed?

Wings of what wind the lichen bore,

Wafting the puny seeds of power,

Which, lodged in rock, the rock abrade?

And well the primal pioneer

Knew the strong task to it assigned

Patient through Heaven’s enormous year

To build in matter home for mind.

From air the creeping centuries drew

The matted thicket low and wide,

This must the leaves of ages strew

The granite slab to clothe and hide,

Ere wheat can wave its golden pride.

What smiths, and in what furnace, rolled

(In dizzy æons dim and mute

The reeling brain can ill compute)

Copper and iron, lead, and gold?

What oldest star the fame can save

Of races perishing to pave

The planet with a floor of lime?

Dust is their pyramid and mole:

Who saw what ferns and palms were pressed

Under the tumbling mountain’s breast,

In the safe herbal of the coal?

But when the quarried means were piled,

All is waste and worthless, till

Arrives the wise selecting will,

And, out of slime and chaos, Wit

Draws the threads of fair and fit.

Then temples rose, and towns, and marts,

The shop of toil, the hall of arts;

Then flew the sail across the seas

To feed the North from tropic trees;

The storm-wind wove, the torrent span,

Where they were bid the rivers ran;

New slaves fulfilled the poet’s dream,

Galvanic wire, strong-shouldered steam.

Then docks were built, and crops were stored,

And ingots added to the hoard.

But, though light-headed man forget,

Remembering Matter pays her debt:

Still, through her motes and masses, draw

Electric thrills and ties of Law,

Which bind the strengths of Nature wild

To the conscience of a child.

 

O Poder do Sol

(Paul Akiiki: artista ugandês)

 

A Riqueza

 

Qual dos gênios nos dirá o passado misterioso,

Os fatos de remotas eras quando no céu imenso,

Em nosso mundo, de flancos ainda rijos e estéreis,

Estrelas e sóis inúteis resplendiam?

Que Deus subjugava então os elementos?

Que sopro do espaço ou que asa dos ventos

Levou o humilde líquen para as rochas, cuja fenda

Cedeu ao esforço de seu grão potente?

Pioneiro da era primeira, soube vislumbrar

O labor hercúleo entregue a seu poder,

E, paciente no rolar dos anos, do céu em fogo,

Abriu na matéria uma rota para a alma.

Por lentos séculos surgiram as florestas

De cerradas copas, de grande fronde espessa

Que deviam, tapetando o rochedo de folhagem,

Vestir o granito dos restos das idades,

Muito antes que vaidoso ondeasse o áureo trigo.

Quem foram os vulcanos que depois moldaram

(Pois na silente idade, em que regia o prodígio,

O voo do pensar é presa de vertigem)

Os metais já dóceis, a prata, o ferro, o chumbo?

Que astro mais anoso poderá saber o nome

Dos seres ignotos, imperfeita raça ainda,

Que dos calces dos despojos cimentou a terra?

O pó é sua tumba e seu triste monumento.

Quem dirá que plantas e que gigantescas palmas,

No profundo abismo, que nenhum olhar penetra,

Foram esmagadas pelos montes, transmudando em hulha?

Mas depois de entesourados os bens todos,

Ali jaziam, perdidos, em turbilhão mesclados,

Até que surge o Espírito, a vontade sábia,

Para arrancar ao limo um mundo à sua imagem.

Então se viu emergir do caos sombrio,

O templo, a cidade, a oficina de trabalho, o armazém;

Então a nave colossal singrou o Atlântico

Para levar ao norte as árvores do trópico;

Teceu o vento poderoso, fiou a torrente rude,

A água seguiu os caminhos que a arte lhe traçou;

E o vapor, a máquina de força sempre pronta,

Obedeceu como escravo ao sonho do poeta;

Construíram-se as docas, onde as barras de metal,

Juntas aos fardos, rolaram em milhões.

Mas, embora ao pronto olvido se incline o homem,

A Matéria é fiel e paga ainda sua dívida:

Trabalha sempre para extrair do seio,

Massas, átomos, a relação, a Lei,

Ligando em segredo, por uma força obscura,

Ao espírito da criança, a alma da Natura.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

EMERSON, Ralph Waldo. Wealth. In: __________. The complete works of Ralph Waldo Emerson. Volume IX: Poems. With a biographical introduction and notes prepared by the author. 5th print. Boston, MA & New York, NY: Houghton, Mifflin and Company (The Riverside Press, Cambridge), 1904. p. 285-286.

 

Em Português

 

EMERSON, Ralph Waldo. A riqueza. Tradução de C. M. Fonseca. In: __________. A conduta para a vida. Tradução de C. M. Fonseca. São Paulo, SP: Martin Claret, 2000. p. 63-64. (Coleção ‘A obra-prima de cada autor’; v. 120)

Nenhum comentário:

Postar um comentário