Replico aqui o que muito já se disse sobre as alusões contidas neste poema do vate mineiro, a saber, as referências: (i) aos poetas concretistas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari; (ii) ao poema “Un coup de Dés” (“Um Lance de Dados”), do francês Stéphane Mallarmé; e (iii) a linhas semelhantes às do verso “flor é a palavra flor”, de João Cabral de Melo Neto, no poema “Antiode”.
Trata-se, obviamente,
de uma sátira a expor as limitações de uma estética que, a juízo de Cacaso, reduziria a poesia a um jogo formal, vazio
de conteúdo ou mesmo de originalidade, como um “triângulo”, símbolo de
manifesta perfeição, mas que em momento algum deixa de ter “três lados”, ou
seja, suas inerentes limitações.
Cacaso pretexta que a
poesia concretista faz uso de uma linguagem que reduz a palavra à sua mera
materialidade, a um “dado” – como algo determinado ou concreto –, de que
resultariam “tautologias”, repetições sem sentido e elogios à “coisa dada”, numa
exaltação superficial da realidade, ou melhor, do imediato e do tangível.
J.A.R. – H.C.
Cacaso
(1944-1987)
Estilos de época
Havia
os irmãos Concretos
H. e A. consanguíneos
e por afinidade D.
P.,
um trio bem
informado:
dado é a palavra dado
E foi assim que a
poesia
deu lugar à
tautologia
(e ao elogio à coisa
dada)
em sutil lance de
dados:
se o triângulo é
concreto
já sabemos: tem três
lados.
Em: “Grupo Escolar”
(1974)
Fotografia de 1952
com Augusto de Campos (A.),
Décio Pignatari (D.
P.) e Haroldo de Campos (H.)
Referência:
BRITO, Antônio Carlos
de (Cacaso). Estilos de época. In: __________. Beijo na boca e outros poemas.
São Paulo, SP: Brasiliense, 1985. p. 106.
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