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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Cacaso - Estilos de época

Replico aqui o que muito já se disse sobre as alusões contidas neste poema do vate mineiro, a saber, as referências: (i) aos poetas concretistas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari; (ii) ao poema Un coup de Dés (“Um Lance de Dados”), do francês Stéphane Mallarmé; e (iii) a linhas semelhantes às do verso “flor é a palavra flor”, de João Cabral de Melo Neto, no poema “Antiode”.

 

Trata-se, obviamente, de uma sátira a expor as limitações de uma estética que, a juízo de Cacaso, reduziria a poesia a um jogo formal, vazio de conteúdo ou mesmo de originalidade, como um “triângulo”, símbolo de manifesta perfeição, mas que em momento algum deixa de ter “três lados”, ou seja, suas inerentes limitações.

 

Cacaso pretexta que a poesia concretista faz uso de uma linguagem que reduz a palavra à sua mera materialidade, a um “dado” – como algo determinado ou concreto –, de que resultariam “tautologias”, repetições sem sentido e elogios à “coisa dada”, numa exaltação superficial da realidade, ou melhor, do imediato e do tangível.

 

J.A.R. – H.C.

 

Cacaso

(1944-1987)

 

Estilos de época

 

Havia

os irmãos Concretos

H. e A. consanguíneos

e por afinidade D. P.,

um trio bem informado:

dado é a palavra dado

E foi assim que a poesia

deu lugar à tautologia

(e ao elogio à coisa dada)

em sutil lance de dados:

se o triângulo é concreto

já sabemos: tem três lados.

 

Em: “Grupo Escolar” (1974)

 

Fotografia de 1952 com Augusto de Campos (A.),

Décio Pignatari (D. P.) e Haroldo de Campos (H.)

 

Referência:

 

BRITO, Antônio Carlos de (Cacaso). Estilos de época. In: __________. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo, SP: Brasiliense, 1985. p. 106.

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