Sachs advoga a ideia
de que a humanidade há de sempre ter um sentido de compartilhamento, de empatia
para com aqueles que estão distantes de sua terra natal, pois que, apesar das dessemelhanças
de toda ordem – étnicas, linguísticas, de status, de costumes ou que tais –,
todos comungamos da mesma experiência de busca por um lar que nos acolha, para satisfazermos
o mais elementar requisito de pertencimento.
Ratifique-se a
relevância do tema nos dias que correm, em um mundo cada vez mais globalizado, no
qual ganham proeminência os debates suscitados pelos fluxos migratórios, num
contexto de interculturalidade. A respeito, consignemos que a mais desacertada
de todas as opções é a daqueles que se pautam pelo divisionismo – em vez de fraternidade e hospitalidade –, distanciando o mundo de ser mais inclusivo e justo.
J.A.R. – H.C.
Nelly Sachs
(1891-1970)
Kommt einer kommt
einer
von ferne
mit einer Sprache
die vielleicht die
Laute
verschließt
mit dem Wiehern der
Stute
oder
dem Piepen
junger Schwarzamseln
oder
auch wie eine
knirschende Säge
die alle Nähe
zerschneidet –
Kommt einer
von ferne
mit Bewegungen des
Hundes
oder
vielleicht der Ratte
und es ist Winter
so kleide ihn warm
kann auch sein
er hat Feuer unter
den Sohlen
(vielleicht ritt er
auf einem Meteor)
so schilt ihn nicht
falls dein Teppich
durchlöchert schreit –
Ein Fremder hat immer
seine Heimat im Arm
wie eine Waise
für die er vielleicht
nichts
als ein Grab sucht.
Im: “Flucht und
Verwandlung” (1959)
O Grande Dia de Sua
Ira
(John Martin: pintor
inglês)
Vem alguém de longe
Vem alguém
de longe
com uma língua
que talvez os sons
encerre
com os relinchos dos
jumentos
ou
com o chilreio
de um pequeno melro
negro
ou como uma serra
rangendo
que fende todo o
arredor –
Vem alguém
de longe
com movimentos de
cachorro
ou
talvez de rato
e é inverno
por isso a quentura o
reveste
quiçá também
tenha fogo sob as
sandálias
(talvez cavalgue
sobre um meteoro)
por isso não o
injurie
se o teu tapete
furado gritar –
Um estranho tem
sempre
seu lar no braço
como um órfão
para o qual talvez
nada procure
senão uma cova.
Em: “Fuga e
Transfiguração” (1959)
Referências:
Em Alemão
SACHS, Nelly. Kommt
einer von ferne. In: __________. Fahrt ins Staublose: die gedichte der Nelly
Sachs. Frankfurt am Main, DE: Suhrkamp Verlag, 1961. s. 300-301.
Em Português
SACHS, Nelly. Vem
alguém de longe. Tradução de J. V. Montebéller. In: GUINSBURG, J. Quatro mil
anos de poesia. Organização de J. Guinsburg e Zulmira Ribeiro Tavares.
Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1969. p. 210.
(Coleção “Judaica”)
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