Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Hugo Williams - Manhã de Sábado

O poeta inglês nos apresenta uma visão irreverente da intimidade sexual e de seus correlatos emocionais, ao retratar nestes versos diferentes personagens que compartilham segredos comuns, depois de uma tórrida noite passada entre os lençóis, nos braços do(a) amado(a), todas elas com uma marca distintiva a delatar sua erótica atividade recente, algo palpável e visível, metaforizada pelas surrealistas “luzes vermelhas piscantes no alto de suas cabeças”.

 

Certo é que o ato de amor transcende idades e condições, pois que se trata de uma experiência universal presente em diferentes etapas da vida e tipos de relações, nele estando arrolados, por conseguinte, tanto o “velho grisalho”, quanto o “rubicundo colegial”, além da “mulher grávida” – todos contextualmente bem evocados pelo poeta.

 

Outro ponto a observar é o fato de Williams ter intitulado o poema como “Manhã de Sábado”, sugerindo, desse modo, que muito do que se passa na intimidade entre os amantes acontece na noite de sexta-feira, o que ratifica, até mesmo empiricamente, a percepção de que é o momento em que o “cio” encontra o seu clímax, com quase todos livres do peso do trabalho durante o final de semana e abertos a aventuras.

 

A propósito, o internauta pode depreender facilmente que passou-me pela cabeça os versos da composição “Olhos Vermelhos”, do Guilherme Arantes: “Todo mundo espera tudo da noite / Nela tudo pode”!

 

J.A.R. – H.C.

 

Hugo Williams

(n. 1942)

 

Saturday Morning

 

Everyone who made love the night before

was walking around with flashing red lights

on top of their heads – a white-haired old gentlemen,

a red-faced schoolboy, a pregnant woman

who smiled at me from across the street

and gave a little secret shrug,

as if the flashing red light on her head

was a small price to pay for what she knew.

 

Indolente manhã de sábado

(Nina Patterson: artista irlandesa)

 

Manhã de Sábado

 

Todos os que fizeram amor na noite anterior

andavam por aí com luzes vermelhas piscantes

no alto de suas cabeças – um velho senhor grisalho,

um rubicundo colegial, uma mulher grávida

que me sorriu do outro lado da rua

e deu, em segredo, um discreto encolher de ombros,

como se a luz vermelha intermitente em sua cabeça

fosse um pequeno preço a pagar pelo que sabia.

 

Referência:

 

WILLIAMS, Hugo. Saturday morning. In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best ‎‎poems on the underground. 1st publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, ‎‎2009. p. 285.

Nenhum comentário:

Postar um comentário