O poeta inglês nos
apresenta uma visão irreverente da intimidade sexual e de seus correlatos
emocionais, ao retratar nestes versos diferentes personagens que compartilham segredos
comuns, depois de uma tórrida noite passada entre os lençóis, nos braços do(a)
amado(a), todas elas com uma marca distintiva a delatar sua erótica atividade
recente, algo palpável e visível, metaforizada pelas surrealistas “luzes
vermelhas piscantes no alto de suas cabeças”.
Certo é que o ato de
amor transcende idades e condições, pois que se trata de uma experiência universal
presente em diferentes etapas da vida e tipos de relações, nele estando
arrolados, por conseguinte, tanto o “velho grisalho”, quanto o “rubicundo colegial”,
além da “mulher grávida” – todos contextualmente bem evocados pelo poeta.
Outro ponto a
observar é o fato de Williams ter intitulado o poema como “Manhã de Sábado”,
sugerindo, desse modo, que muito do que se passa na intimidade entre os amantes
acontece na noite de sexta-feira, o que ratifica, até mesmo empiricamente, a percepção
de que é o momento em que o “cio” encontra o seu clímax, com quase todos livres
do peso do trabalho durante o final de semana e abertos a aventuras.
A propósito, o
internauta pode depreender facilmente que passou-me pela cabeça os versos da
composição “Olhos Vermelhos”, do Guilherme Arantes: “Todo mundo espera tudo da
noite / Nela tudo pode”!
J.A.R. – H.C.
Hugo Williams
(n. 1942)
Saturday Morning
Everyone who made
love the night before
was walking around
with flashing red lights
on top of their heads
– a white-haired old gentlemen,
a red-faced
schoolboy, a pregnant woman
who smiled at me from
across the street
and gave a little
secret shrug,
as if the flashing
red light on her head
was a small price to
pay for what she knew.
Indolente manhã de sábado
(Nina Patterson: artista
irlandesa)
Manhã de Sábado
Todos os que fizeram
amor na noite anterior
andavam por aí com
luzes vermelhas piscantes
no alto de suas
cabeças – um velho senhor grisalho,
um rubicundo
colegial, uma mulher grávida
que me sorriu do
outro lado da rua
e deu, em segredo, um
discreto encolher de ombros,
como se a luz
vermelha intermitente em sua cabeça
fosse um pequeno
preço a pagar pelo que sabia.
Referência:
WILLIAMS, Hugo. Saturday morning. In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best poems on the underground. 1st publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, 2009. p. 285.
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